sábado, 3 de março de 2018


NEOCOLONIALISMO  E  IMPERIALISMO


 A  partir  de  1850,  os países industrializados da Europa lançaram-se à conquista de territórios e à criação de colônias na Ásia e na África. Surgiu dessa forma o neocolonialismo, isto é, a formação de impérios coloniais semelhantes em muitos aspectos aos que existiram entre o século XVI e o começo do século XIX. Esse fenômeno com frequência também é chamado de imperialismo.
Mas, é preciso fazer um esclarecimento. Embora os termos imperialismo e neocolonialismo sejam, muitas vezes, usados como sinônimos, há uma diferença entre eles:
O neocolonialismo pressupõe o domínio físico do território, ao passo que o imperialismo pode se limitar apenas ao domínio econômico através de empréstimos e investimentos diretos.

O conceito de imperialismo se aplica mais ao caso da América Latina, porque nesta parte do mundo a economia já estava organizada em função dos interesses europeus, e não era necessária a ocupação física do território.

Charge representação a partilha territorial entre as potências.
O que explica a nova corrida colonial dos europeus, no século XIX, foram as novas necessidades criadas pela Segunda Revolução Industrial. Basicamente essas necessidades eram a) mercados consumidores de mercadorias, b) territórios fornecedores de matérias primas, e c) áreas para investimentos de capital.
A ambição econômica foi disfarçada por uma justificativa ideológica. Foi a doutrina da “missão civilizadora” da cultura europeia, pela qual cabia às nações da Europa difundir seus hábitos, costumes e tradições entre povos “atrasados” e “primitivos” do resto do mundo.
A conjuntura de disputas entre os países desenvolvidos criou a um estado de guerra permanente devido à necessidade de se armarem para conquistar novos territórios e enfrentar a ameaça das potências concorrentes.

As áreas dominadas dividiam-se em dois os tipos básicos: colônias e protetorados. As colônias estavam sob domínio direto da metrópole, sendo governadas localmente por um governador geral. Já os protetorados, embora sob controle de um país imperialista, mantinham um certo grau de autonomia. Exemplos de protetorados: da Inglaterra: Índia e Egito; da França: Tunísia e o Marrocos.

1. A partilha da África
Os europeus estavam presentes na África desde a chegada dos portugueses no século XV. Mas durante séculos a presença europeia se limitava ao comércio no litoral do continente.
A ocupação sistemática da África foi iniciada pela França, com a ocupação da Argélia, a partir de 1830. A iniciativa da França foi logo seguida por outros países, e resultou numa verdadeira “corrida” entre essas potências pelo controle do continente africano.
Para acomodar os diferentes interesses europeus na África, o chanceler alemão Otto von Bismarck promoveu a Conferência de Berlim (1884-1885). Seu objetivo era definir as condições para novas ocupações  na África. Nenhum governante africano foi convidado a tomar parte nessa conferência, claro.
No final do século XIX, a Inglaterra dominava a África Oriental Britânica e a Rodésia (hoje Zimbabwe), da Nigéria, Serra Leoa, Costa do Ouro e de regiões que depois seriam englobadas na União Sul-Africana. No Egito e no Sudão, os ingleses disputaram zonas de influência com a França, que resolveu abandonar a região em 1904, em troca do apoio inglês a suas ambições no Marrocos.
No domínio da África, a maior dificuldade aos ingleses foi oferecida pelos bôeres – fazendeiros descendentes dos primeiros assentamentos de holandeses no Cabo.

Esses colonizadores haviam migrado para o norte da atual África do Sul, fugindo dos ingleses. Mas a terra que eles ocupavam era rica em ouro e os ingleses quiseram-na para si. Seguiu-se um sangrenta guerra – a Guerra dos Bôeres, que teve nada menos do que 45 mil mortos, e foi vencida pelos ingleses.
A França já dominava a África Ocidental Francesa, a Tunísia, a África Equatorial Francesa, Madagascar e outras regiões. Controlava também a Argélia, que conquistara entre 1830 e 1857.
Os países ibéricos mantinham antigas possessões: Portugal tinha sob seu domínio Angola, Moçambique e a Guiné Portuguesa, enquanto a Espanha exercia o controle sobre o sul do Marrocos.
Já a Itália e a Alemanha só se lançaram mais tarde à conquista africana devido ao tardio processo de unificação verificado nos dois países. Mesmo assim, na virada do século XIX para o século XX, a Itália dominava a Eritreia, parte da Somália e a Líbia, enquanto a Alemanha controlava a África Oriental Alemã, Togo,Camarões e a África do Sudoeste Alemã.

2. Dominação europeia na Ásia

A) A Índia
O domínio europeu sobre a Índia se deu de forma lenta, porém contínua e crescente, completando-se no século XIX. Os portugueses foram os primeiros europeus a chegarem à Índia, onde estabeleceram entrepostos comerciais.
Em seguida, chegaram também holandeses, franceses e ingleses, desenvolvendo intensa disputa pelo comércio indiano. Nessa disputa, sobressaíram-se franceses e ingleses.
Em meados do século XVIII, após a vitória da Inglaterra na Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ficou decidido que os ingleses, e não os franceses, dominariam a Índia.
A dominação inglesa se fazia através da Companhia das Índias Orientais, que tinha inclusive um exército próprio e o direito de cobrar impostos.
A dominação inglesa se intensificou após a Revolta dos Cipaios (1857-1859). Cipaios era como se chamavam o soldados indianos da companhia inglesa. Em 1857, eles iniciaram uma revolta contra a dominação inglesa. A revolta durou dois anos, e no final os cipaios foram derrotados. O domínio inglês sobre a Índia iria durar ainda por mais 90 anos.

B) A China
Durante muito tempo, a China permaneceu fechada a qualquer influência de outras regiões, sobretudo do Ocidente, procurando preservar intacta sua cultura milenar. Até o século XIX, por exemplo, apenas o porto de Cantão estava autorizado a comerciar com o Ocidente. Porém, em virtude de suas grandes dimensões, o país era cobiçado pelas nações europeias, que aguardavam apenas uma oportunidade para estender seu domínio sobre a região.
Tentando criar essa oportunidade, comerciantes ingleses se dedicavam ao tráfico de uma droga muito consumida pelos chineses: o ópio. A droga saía de Bengala, na Índia, e era introduzida ilegalmente na China, afrontando decisões do governo chinês, que havia proibido sua entrada no país. Para coibir a atividade, a partir de 1839 as autoridades chinesas passaram a apreender e destruir os carregamentos de ópio.
A medida serviu de pretexto para que os ingleses deflagrassem a Guerra do Ópio (1839-1842). O confronto teve consequências desastrosas para a China, que saiu derrotada. A China foi obrigada, entre outras exigências, a ceder a ilha de Hong Kong, abrir cinco portos ao comércio exterior e pagar uma indenização de guerra aos ingleses.
Mais tarde, o país seria submetido a novas humilhações pela Inglaterra, que provocou duas outras guerras do ópio, em 1856 e 1858. Depois de cada conflito, a China era forçada a pagar novas indenizações e a abrir outros portos ao comércio não só inglês mas também de outros países.
A partir de 1895, a China foi dividida em zonas de influências. Em cada uma delas, uma potência assumiu o direito de comerciar e fazer investimentos, além de contar com a garantia de que a área não seria alienada em favor de outro Estado.

C) O Japão
Ao contrário do atraso que caracterizava o continente africano, na Ásia havia um país em franco desenvolvimento: o Japão. As causas desse progresso remontam a 1868, quando ocorreu a Revolução Meiji, um movimento político que fortaleceu o poder do imperador. Com isso, o imperador pôde adotar uma série de medidas que deram início ao processo de industrialização e ao desenvolvimento do país, sob a orientação e a intervenção direta do Estado.
O crescimento interno acabou alimentando ambições imperialistas no Estado japonês, sobretudo entre os militares. Como consequência, entre 1894 e 1895, o país esteve em guerra com a China por disputas territoriais. O conflito terminou com a vitória do Japão, que anexou a Coreia e a ilha de Formosa, transformando-as em colônias.




Os novos impérios coloniais

O britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) é considerado um dos principais historiadores do século XX e é referência essencial para o estudo da História Moderna e Contemporânea. O autor desenvolveu uma vasta obra sobre as transformações sociais e a formação do capitalismo nos últimos séculos. No texto abaixo, ele apresenta dados sobre o crescimento do imperialismo no século XIX.
“Essa repartição do mundo entre um pequeno número de Estados [...] foi a expressão mais espetacular da crescente divisão do planeta em fortes e fracos, em “avançados” e “atrasados” que já observamos. Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de Estados. A Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca de dez milhões de quilômetros quadrados, a França em cerca de nove, a Alemanha conquistou mais de dois milhões e meio, a Bélgica e a Itália pouco menos que essa extensão cada uma. Os EUA conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha, o Japão algo em torno da mesma quantidade às custas da China, da Rússia e da Coreia. As antigas colônias africanas de Portugal se ampliaram em cerca de 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os EUA), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara Ocidental. O crescimento da Rússia imperial é mais difícil de avaliar, pois todo ele se deu em territórios adjacentes e constituiu o prosseguimento de alguns séculos de expansão territorial do Estado czarista; ademais, como veremos, a Rússia perdeu algum território para o Japão. Dentre os principais impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às ilhas indonésias, que há muito “possuía” formalmente. Dentre os menores, a Suécia liquidou a única colônia que lhe restava, uma ilha das Índias Ocidentais, vendendo-a à França, e a Dinamarca estava prestes a fazer o mesmo – conservando apenas a Islândia e a Groenlândia como territórios dependentes.” HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2007. p. 91

3. Na América Latina, a submissão ao imperialismo
Na Ásia e na África, a dominação imperialista se deu por meio da conquista de territórios (neocolonialismo). Isso não ocorreu na América Latina.
Para entender esse processo, é preciso recordar que, nos termos do pacto colonial, estabelecido na época da colonização, a economia das colônias foi definida como complementar à das metrópoles. Assim, cabia às colônias cultivar produtos tropicais de larga aceitação no mercado europeu ou oferecer metais preciosos que promovessem o rápido enriquecimento da metrópole, segundo a concepção mercantilista.
A independência dos países da América Latina, no início do século XIX, não alterou muito essa situação. Vitoriosos em sua luta, os novos países não foram capazes de romper totalmente com as estruturas sociais e econômicas construídas durante o período colonial. Em todos eles, foi mantida a grande propriedade da terra voltada para a monocultura de produtos tropicais de exportação.
Em alguns países, como o Brasil, até mesmo o trabalho escravo persistiu.
Também as relações de poder não se democratizaram, e o governo continuou nas mãos de elites formadas pela aristocracia da terra e pelos grandes comerciantes.
Nessas condições, não se criaram nos países latino-americanos condições para que se lançassem ao desenvolvimento econômico autônomo e autossustentado, como aconteceu nos Estados Unidos. Ao contrário, para se consolidar, os novos governos viram-se obrigados a recorrer ao capital estrangeiro.
A entrada do capital imperialista se dava por duas vias. A primeira eram os empréstimos públicos (de governo para governo) ou privados (de bancos particulares para governos); a segunda eram os investimentos diretos de capital, principalmente em mineração, operações financeiras, comércio de exportação e importação, transportes (ferrovias, companhias de navegação) e serviços públicos urbanos (iluminação a gás, linhas de bonde e outros).


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