domingo, 4 de março de 2018


GUERRA  CIVIL  NOS  ESTADOS  UNIDOS


 À  época  da  independência,  o território dos Estados Unidos era composto de treze estados, as antigas colônias inglesas. Em 1860, esse número tinha aumentado para 35, o que revela o rápido processo de expansão territorial da jovem nação. Sua população, que em 1790 atingia cerca de 4 milhões de habitantes, saltou para 50 milhões em 1880. Ao lado do impressionante crescimento populacional, o país convivia também com intenso desenvolvimento econômico.
Abrahan Lincoln, presidente dos Estados Unidos
durante a Guerra Civil.
A expansão da economia, porém, se dava de forma desigual. Enquanto os estados do Norte eram tomados por rápido processo de industrialização e urbanização, os do Sul seguiam se dedicando a atividades agrícolas, com claro predomínio da vida rural. Outro contraste marcava as duas regiões. No Norte, a economia crescera baseada no trabalho livre assalariado. No Sul, ao contrário, as relações de produção se caracterizavam pela presença esmagadora do trabalho escravizado.
Essa dicotomia provocava crescentes conflitos políticos entre os senhores de escravos do Sul e as populações urbanas do Norte. Em 1861, as tensões acumuladas explodiram, dando início à Guerra de Secessão, que se prolongaria até 1865.

1. A expansão territorial norte-americana
Já vimos que, em 1783, a Paz de Versalhes pôs fi m à Guerra de Independência dos Estados Unidos contra a Inglaterra. Durante o conflito, os estadunidenses avançaram para o Oeste, ocupando uma larga faixa de terras que atravessava o continente de Norte a Sul, entre a região dos Grandes Lagos e o golfo do México. Esse território fora concedido aos indígenas pela Inglaterra, mas a Paz de Versalhes reconheceu a soberania estadunidense sobre ele. Os Estados Unidos, contudo, queriam se expandir também para o norte e ocupar as terras de colonização inglesa no Canadá.

A Segunda Guerra de Independência

A sede expansionista dos estadunidenses acirrou ainda mais as tensões com os ingleses, agravadas pelo bloqueio inglês ao comércio dos Estados Unidos com a França napoleônica.
O resultado disso foi uma nova guerra entre os dois países, que durou de 1812 a 1814, e ficou conhecida por Segunda Guerra de Independência. Foi basicamente uma guerra naval e mais uma vez os estadunidenses venceram. O conflito deu grande impulso à industrialização dos Estados Unidos, por causa da interrupção das importações de produtos ingleses. Após o fim do conflito, o Congresso norte-americano, sob pressão dos industriais, reforçou o protecionismo, elevando as tarifas alfandegárias.
Outro efeito dessa guerra foi fortalecer o sentimento de nacionalismo contra a velha Europa, ou seja, a predisposição das elites estadunidenses de não interferir nos problemas europeus e de não permitir ingerências europeias nos assuntos internos dos países do continente. Essa tendência acabou se transformando em uma doutrina – a Doutrina Monroe –, formulada, alguns anos depois, em 1823 pelo presidente James Monroe, que lançou o lema “a América para os americanos”.

2. A Marcha para o Oeste
O Leste enfrentava acelerado crescimento demográfico, resultado de uma política deliberada do governo para atrair imigrantes e expandir o território. Só para ter ideia, entre 1789 e 1812, chegaram ao país 250 mil europeus, vindos principalmente da Irlanda, da Inglaterra e dos Estados germânicos.
Esse número teria um aumento espantoso nos anos subsequentes, chegando a 5 milhões de imigrantes entre 1830 e 1860. Diante desse quadro, o governo estadunidense decidiu investir maciçamente na compra e na conquista de novos territórios.
Em 1803, por exemplo, comprou da França o território da Louisiana. Mais tarde, em 1819, adquiriu da Espanha, por 5 milhões de dólares, a região da Flórida. Em 1846, conseguiu que a Inglaterra lhe cedesse o Oregon. E, por fim, em 1867, comprou o Alasca da Rússia por pouco mais de 7 milhões de dólares.
Ao mesmo tempo que adotavam essa política de aquisições pacíficas, os Estados Unidos partiram para guerras de conquistas, nas quais as maiores vítimas foram os indígenas e os mexicanos. Em 1836, colonos estadunidenses fixados no território do Texas, então pertencente ao México, proclamaram a independência da região, depois de vencer as tropas do governo mexicano.
Quase dez anos depois, em 1845, os Estados Unidos anexaram o Texas a seu território, o que foi o estopim da guerra contra o México no ano seguinte. Ao final do conflito, o governo mexicano reconheceu a perda de sua antiga província e cedeu ao poderoso vizinho do norte as regiões da Califórnia, Colorado, Novo México, Nevada, Utah e Arizona, recebendo a título de pagamento cerca de 15 milhões de dólares.
Com a expansão, os Estados Unidos se tornaram um dos maiores países do mundo. Dotado de enormes reservas de recursos naturais, seu território se estendia agora do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico.
Observe no mapa abaixo as datas de cada aquisição ao território estadunidense. O mapa também indica a infraestrutura montada para acomodar essa expansão como a construção de ferrovias transcontinentais como a Northern Pacific.

Destino manifesto

“Em 1848, foi descoberto ouro na Califórnia. Em alguns meses, gente do Leste aos milhares, buscando fortuna, estava cruzando o território índio. Índios que viviam ou caçavam ao longo das trilhas de Santa Fé e Oregon acostumaram-se a ver uma caravana ocasional de carroções, autorizada para comerciantes, caçadores ou missionários. Agora, de repente, as trilhas estavam cheias de carroções e os carroções estavam cheios de gente branca. A maioria indo rumo ao ouro da Califórnia, mas alguns se dirigindo para o sul, para o Novo México ou para o norte, para o território do Oregon.
Para justificar essas quebras da ‘fronteira índia permanente’, os homens que tomavam decisões em Washington inventaram o Destino Manifesto, uma expressão que elevava a fome de terras a um plano sublime. Os europeus e seus descendentes haviam sido escolhidos pelo destino manifesto para dominar toda a América.
Eram a raça dominante e, portanto, responsável pelos índios – juntamente com suas terras, suas florestas e suas riquezas minerais. [...]
Em 1850, embora nenhum dos modocs, mohaves, paiutes, shastas, yumas, ou de uma centena de tribos menos conhecidas da costa do Pacífico fosse consultado sobre o assunto, a Califórnia tornou-se o 31o Estado da União.” BROWN, Dee Alexander. Enterrem meu coração na curva do rio. Porto Alegre: L&PM, 2014. p. 25-26.


3. A descoberta do ouro na Califórnia
Em 1846, os EUA declararam guerra ao México. Nesse mesmo ano, colonos norte-americanos ocuparam Sonoma, a capital da província mexicana da Califórnia. Com a vitória dos EUA sobre o México, a Califórnia (e outras províncias mexicanas, citadas no texto principal) passou a fazer parte dos EUA.
Antes mesmo de a guerra entre os dois países chegar ao fi m, o ouro foi descoberto na Califórnia. Começou, então, a intensa Corrida do Ouro para a Califórnia, que atraiu dezenas de milhares de pessoas de diversas partes do mundo.
O ouro era encontrado no leito dos rios, e era só chegar e pegar. Nem todos enriqueceram, mas muitos milionários surgiram do dia para a noite. A exploração do ouro criou muitas oportunidades de negócios. Uma delas foi um alfaiate, Jacob Davis, que criou uma calça de tecido grosso com rebites, perfeita para aqueles que se dedicavam ao pesado trabalho de mineração. Ele se associou ao imigrante alemão Levi Strauss, e juntos acabaram batizando sua invenção de calça jeans, em 1853.

A Corrida do Ouro fez explodir a população da Califórnia, que passou de 15 mil habitantes no início de 1848 para mais de 100 mil menos de dois anos depois. Isso permitiu que a Califórnia se tornasse o 31o. estado norte-americano em 1950.

4. A Guerra de Secessão (1861-1865)
A Guerra Civil durou quatro anos e foi extremamente violenta, tendo custado a vida de quase um milhão de pessoas.
Um conflito dessas proporções só pode ter sido provocado por rivalidades muito sérias. Vejamos algumas delas:
1. A região Norte dos Estados Unidos era, como vimos, a mais industrializada do país, em contraste com os estados do Sul, predominantemente agrícolas. A principal característica das zonas rurais sulinas consistia na planta tion, palavra inglesa usada para denominar a grande propriedade monocultora, cuja produção, voltada para a exportação, dependia do trabalho escravo. O Sul produzia grande quantidade de algodão, exportado principalmente para a Inglaterra, onde era utilizado na indústria têxtil em franca expansão.
2. A burguesia do Norte do país fazia sérias restrições aos senhores de terras do Sul. A maior crítica dizia respeito ao trabalho escravo, que, acreditavam, deveria ser extinto e gradativamente substituído pelo trabalho assalariado; dessa forma, os trabalhadores sulistas poderiam comprar os produtos fabricados no Norte. Além disso, a população do Norte apoiava o protecionismo alfandegário, isto é, o aumento das taxas de importação, para que os produtos nacionais concorressem no mercado interno em igualdade de condições com os produtos ingleses e de outras procedências.
3. A aristocracia rural do Sul, interessada em continuar vendendo seus produtos à Inglaterra e importando os artigos manufaturados de que necessitava, batia de frente com o Norte ao defender o livre-cambismo, ou seja, uma política de liberdade comercial sem taxas protecionistas.
4. A essas diferenças de origem econômica se somavam outras, de fundo cultural. No Norte, havia um grupo empresarial dinâmico e empreendedor, interessado no desenvolvimento nacional.
No Sul, porém, continuava a predominar uma mentalidade rural, aristocrática, voltada aos interesses regionais; por isso mesmo, dava-se mais importância à autonomia dos estados do que ao fortalecimento do país.
5. Além de todas essas diferenças, havia ainda razões ideológicas em jogo. No Norte, a campanha abolicionista se intensificava e surgiam movimentos de caráter democrático e mesmo socialista também a favor da emancipação dos escravos. Em 1833, por exemplo, William Garrison e outros líderes abolicionistas fundaram a Sociedade Americana contra a Escravidão. Garrison defendia a abolição sem indenização aos escravistas, o que os deixava ainda mais furiosos. A campanha abolicionista crescia a cada dia e, em 1852, ganhou importante reforço com a publicação do livro A cabana do pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe, que narrava a dolorosa existência dos escravos nas fazendas do Sul. O livro vendeu 1 milhão de exemplares em dois anos.

5. A eleição do presidente Lincoln
Em meio a esses embates, em 1860 foi eleito presidente dos Estados Unidos o nortista Abraham Lincoln, membro do Partido Republicano. Adepto de uma política protecionista, Lincoln opunha- -se à escravidão e ao espírito autonomista dominante nos estados do Sul. A reação das elites na Carolina do Sul, um dos estados escravistas, foi proclamar sua separação do restante do país.
Em seguida, dez outros estados sulistas fizeram o mesmo. Juntos, eles formaram uma nova estrutura política nacional, os Estados Confederados da América. O novo país tinha sua capital em Richmond, na Virgínia. Para governá-lo, foram eleitos Jefferson Davis, presidente, e Alexander Stephens, vice-presidente. Nem todos os estados escravistas, porém, apoiaram os rebeldes. O Kansas e o Missouri, por exemplo, permaneceram integrados aos Estados Unidos, sem abolir o regime de trabalho escravo.
Em 12 de abril de 1861, tropas confederadas tomaram de assalto o forte Sumter, na Carolina do Sul, defendido por forças do governo. Três dias depois, Lincoln declarou guerra à Confederação. O conflito que se seguiu seria mais tarde considerado a primeira das grandes guerras modernas.

6. As vantagens do Norte
As condições do Norte no confronto eram de indiscutível superioridade. Mais industrializado do que o Sul, contava também com uma malha ferroviária mais extensa e moderna. Além disso, as armas de que dispunha eram produzidas nas próprias fábricas, enquanto a Confederação dependia da importação de material bélico. As duas populações também eram desiguais em número e na composição social e étnica. Enquanto o Norte somava 23 estados, com uma população de 28 milhões de pessoas – constituída em quase sua totalidade de pessoas livres, descendentes de europeus –, o Sul contabilizava onze estados com 9 milhões de habitantes, um terço dos quais escravos de origem africana. Para complicar ainda mais a situação do Sul, a Confederação também não conseguiu apoio à sua causa no exterior: a escravidão era, a essa altura, condenada pela opinião pública de todas as grandes nações.
Não constituiu surpresa, portanto, que os sulistas tenham sido derrotados, apesar de sua forte resistência. Depois de quatro anos de sangrentos combates, os nortistas venceram em Appomattox, na Virgínia, a última batalha da guerra. No mesmo dia, 9 de abril de 1865, o comandante das forças rebeldes, general Robert Lee, rendeu-se ao comandante do exército do governo, general Ulysses Grant.
Em 1863, ainda durante o conflito, Lincoln decretou o fim da escravidão nos estados rebeldes.
No ano seguinte, conseguiu se reeleger presidente dos Estados Unidos, mas não chegaria a exercer o segundo mandato. Em 14 de abril de 1865, quatro dias depois do fim da guerra, Lincoln foi assassinado no interior de um teatro pelo ator sulista John Booth.

7. Potência industrial
A guerra civil dos Estados Unidos assumiu características de uma verdadeira revolução social, pois determinou a extinção do trabalho escravo e impôs o regime de trabalho assalariado. Além disso, tirou do poder o que restava da aristocracia agrária do Sul e abriu caminho para o pleno desenvolvimento das atividades industriais e urbanas.
Ao eliminar alguns obstáculos para a expansão das atividades econômicas, a Guerra de Secessão tornou-se ponto de partida para um desenvolvimento sem precedentes da economia do país. Mesmo durante o conflito, a industrialização foi estimulada pela demanda de material bélico e de meios de transporte rápido para as tropas. Em 1861, o governo decretou novas medidas de proteção alfandegária que deram impulso ainda mais decisivo ao crescimento industrial.
Em seguida, um decreto-lei de 1862 – a Lei Homestead – promoveu a ocupação e a colonização das terras do Oeste, garantindo um lote mínimo de terra a cada colono, à custa, porém, da eliminação dos indígenas.
Essas medidas ampliaram a produção industrial e agrícola, além de estimular o mercado de consumo com o enriquecimento dos pequenos proprietários rurais. Ainda em 1862, o governo decidiu financiar a construção de uma ferrovia transcontinental, atravessando o território do país de leste a oeste. Depois da guerra civil, houve também grande afluxo de imigrantes europeus, destinados principalmente ao trabalho fabril. A oferta de mão de obra crescia, pressionando os salários para baixo, em uma época em que ainda não existia legislação trabalhista.
Essas condições criaram a base para o desenvolvimento da economia estadunidense. Em poucas décadas, a indústria do país apresentaria o maior índice de crescimento mundial, produzindo principalmente aço, fundamental para a expansão da malha ferroviária e da indústria de base.

Norte contra Sul, escravistas versus antiescravistas:
guerra civil nos Estados Unidos

Os estados do Sul resolveram desfazer sua adesão à Constituição Federal e formar uma nova nação, os Estados Confederados da América. O que estaria por trás de tamanha reviravolta na história do país? No texto a seguir, os historiadores Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais exploram esse momento da história estadunidense.
“O debate sobre a escravidão, sem sombra de dúvida, seria a grande questão das eleições de 1860. O principal nome de indicação dos democratas foi Stephen Douglas e dos republicanos, um jovem advogado, de grande eloquência, chamado Abraham Lincoln. Este, por sua vez, era favorável aos ideais de solo livre, trabalho e homens livres.
Lincoln venceu as eleições. Novos rumos seriam tomados na história estadunidense.
A maior parte dos sulistas ficou irritada com a eleição de Lincoln, visto por eles como um verdadeiro abolicionista. Já alguns nortistas o viam como conservador, na medida em que não defendia abertamente uma luta para terminar com o regime escravista, embora o condenasse como um grande erro da humanidade.
Seu discurso ambíguo e carregado de retórica foi capaz de administrar, por algum tempo, a forte pressão sofrida durante o seu mandato. Afirmava, por exemplo, que a ‘raça branca’ era sim superior.
Dizia que não toleraria que algo fosse feito contra a escravidão nos territórios em que ela já existia, mas, ao mesmo tempo, defenderia a todo custo os interesses da União, invadiria os estados que quisessem se separar e recolheria, da mesma forma, os direitos aduaneiros de importação nos estados que fossem a favor da secessão. O próprio Lincoln demonstrou suas expectativas ao afirmar que não esperava que a “casa” não caísse, mas que, ao menos, deixasse de ser dividida.
O presidente pode ser considerado um antiescravista, mas nunca um abolicionista aberto e declarado.
Mesmo assim, os senhores do Sul queriam a expansão da escravidão para o Oeste e, para eles, pouca diferença existia entre a fixação da escravidão apenas no Sul, proposta por Lincoln, e a abolição imediata, proposta por jornais como o Liberator. Para os sulistas, a ambiguidade de Lincoln era tão abolicionista quanto o discurso radical de William Garrison.
Acreditavam que, desde que o tráfico de escravos fora abolido em 1808 e que a reprodução natural de escravos não era sufi ciente para atender à demanda por mão de obra, a única forma de aumentar a escravidão era expandi-la para novas terras.
A ideia de separação do Sul ganhava corações e mentes das elites sulistas. Entretanto, como havia dito, Lincoln não aceitaria a secessão e atacaria com força os adeptos da ideia. Sua eleição, portanto, foi o estopim necessário para o início formal das hostilidades entre as duas regiões.
Convocando uma convenção, a Carolina do Sul anulou sua ratificação da Constituição federal. Isso provocou o desespero de alguns políticos que tentavam lutar a favor de uma conciliação.
Em pouco tempo, outros estados, como Alabama, Flórida, Mississípi, Geórgia e Texas também se declararam separados da União, formando os chamados Estados Confederados da América elegendo Jefferson Davis como seu presidente.” (FERNANDES, Luiz Estevam; MORAIS, Marcus Vinícius de. Os Estados Unidos no século XIX. In: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008. p. 130-132.)

8. Henry Ford revoluciona a indústria automobilística
Ao romper o século XX, o empresário Henry Ford fez mudanças revolucionárias na indústria automobilística, ao implantar a produção em série de automóveis. Com isso, os preços tornaram- -se acessíveis a amplas faixas do mercado. Ford ainda elevou os salários dos empregados de sua empresa, a Ford Motor Company, fundada em 1903, alegando que os operários deveriam ganhar o suficiente para comprar os produtos que fabricavam. Sua política estimulou a expansão vertiginosa da indústria automobilística nos Estados Unidos.
A produção em massa de automóveis, por sua vez, permitiu o desenvolvimento de outros setores da economia, como a indústria siderúrgica; a extração e o refino de petróleo, do qual os Estados Unidos têm enormes reservas; a indústria de autopeças; a produção de pneus etc. Esse “efeito cascata” desencadeado pela indústria automobilística repercutiu também em outros ramos da produção, na expansão da oferta de empregos e na ampliação do mercado.
Não demorou muito para que os Estados Unidos assumissem a liderança entre os países do continente, ocupando o lugar dos países europeus. A hegemonia recém-conquistada seria sintetizada pelo presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) na política do “grande porrete” (ou big stick, em inglês). Por essa política, os Estados Unidos se propunham a intervir – mesmo militarmente –, sempre que julgassem necessário, nos assuntos internos dos países latino-americanos. Consagrava-se, assim, uma tendência em crescente expansão, não só nos Estados Unidos, mas também entre as grandes potências industriais, como a Inglaterra.
Essa tendência seria chamada mais tarde de imperialismo.

Ku Klux Klan e sua herança de ódio

Após a morte do presidente Lincoln, seu vice-presidente, Andrew Johnson assumiu a presidência. A partir de 1865, apesar da resistência de Johnson (de origem sulista e simpático às reivindicações dos latifundiários do sul), o Congresso aprovou sucessivamente a 13ª. e a 14ª. emendas à Constituição. A primeira abolia definitivamente a escravidão em todo o território estadunidense. A segunda estendia os direitos civis a todas as pessoas nascidas nos Estados Unidos ou naturalizadas estadunidenses, anulando as restrições à participação dos negros na vida política. O presidente seguinte foi o general Ulysses Grant, eleito em 1868. Durante seu governo, Grant implementou o sufrágio universal, aprovado pelo Congresso. A medida concedia aos negros não só o direito de elegerem seus representantes, mas também o de se candidatarem a qualquer cargo eletivo.
Com isso, pretendia-se pacificar a nação. Mas, nos antigos estados rebeldes, a medida teve efeito contrário, aumentando ainda mais o ódio racial, uma das heranças da Guerra de Secessão. Data de 1867, porém, o exemplo mais forte de segregação racial nos Estados Unidos: a Ku Klux Klan.
Criada por veteranos sulistas da Guerra de Secessão, essa sociedade secreta tentou impedir, a qualquer custo, que os negros exercessem seus direitos após o fim da escravidão. Recorrendo a meios extremos, como a tortura e o linchamento de pessoas de origem africana, integrantes da Ku Klux Klan, mascarados e encapuzados, passaram a espalhar o terror no Sul do país, assassinando, indiscriminadamente, homens, mulheres e crianças. Em 1877, a justiça estadunidense proibiu o funcionamento da organização, que ainda hoje continua a agir na clandestinidade.

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