segunda-feira, 5 de março de 2018


A REVOLUÇÃO RUSSA


 A  Rússia foi  o  primeiro  país a colocar em prática as ideias de Karl Marx. Isso aconteceu durante a Primeiro Guerra Mundial. Os comunistas lideraram uma revolução que implantou um regime comunista. Era algo até certo ponto surpreendente, pois Marx havia previsto que o comunismo deveria substituir o capitalismo nos países mais industrializados. E esse não era o caso da Rússia.
Em 1917, os bolcheviques liderados por Lênin, tomaram o poder na Rússia.
De fato, no início do século XX, a Rússia era ainda um país de economia predominantemente agrícola, com uma população de 130 milhões de habitantes, dos quais 100 milhões moravam no campo. Embora a servidão tivesse sido abolida em 1861, a grande massa de camponeses vivia em condições semifeudais, condenada à miséria. Além disso, mantinham-se no país a monarquia absolutista, a união entre o Estado e a Igreja ortodoxa e os privilégios da nobreza.
Desde os últimos anos do século XIX, porém, a Rússia tinha sido tomada por acelerado processo de industrialização financiado por capitais estrangeiros, principalmente franceses.
Surgiram indústrias de grande porte, concentradas em algumas cidades, como São Petersburgo, Moscou e Kiev, que reuniam grande quantidade de operários. A maioria recebia baixos salários, vivia em péssimas condições e era submetida a jornadas diárias de trabalho de até quinze horas. Por volta de 1900, no entanto, já se podia observar a crescente influência de intelectuais e militantes socialistas entre esse proletariado.

1. Os partidos políticos
A Rússia era controlada por uma monarquia absolutista, que não permitia a existência de partido. Mesmo assim, partidos de oposição foram criados na virada do século XX.
Um deles, o Partido socialista-revolucionário (PSR), foi fundado formalmente em 1901 e agrupava diversas correntes políticas, das quais a mais antiga era a dos populistas, atuante desde a década de 1860. Conhecidos por esseristas, por causa das iniciais do nome do partido (SR), seus membros lutavam pela democracia e propunham uma ampla frente de classes sociais para derrubar o czarismo. Sua base incluía camponeses e profissionais liberais que viviam no campo e em pequenas vilas, como médicos, agrônomos e funcionários públicos.
Outro partido, também de oposição, era o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), criado em 1898, que se orientava pelas ideias marxistas. No segundo congresso, realizado pelo POSDR em 1903, surgiram internamente duas correntes antagônicas: os bolcheviques e os mencheviques, palavras que em russo significam maioria e minoria, respectivamente.
• Os bolcheviques, liderados por Vladimir Ilitch Ulianov (mais conhecido como Lenin), argumentavam que, para tirar a Rússia do atraso histórico em que vivia, era necessário realizar uma revolução democrática, sob a liderança da classe operária, pois a fraca burguesia russa não tinha força nem interesse em derrubar o czarismo.
• Os mencheviques discordavam dessa tese, argumentando que a implantação do socialismo deveria ser precedida de uma revolução burguesa, capaz de modernizar o país por meio do desenvolvimento capitalista e de abrir caminho para uma posterior revolução proletária.

2. A Revolução de 1905: surgem os sovietes
Em 1905, a Rússia se envolveu em uma guerra com o Japão pelo controle da Manchúria, território pertencente à China, e acabou derrotada. O conflito agravou a miséria das camadas baixas da população e a derrota desmoralizou os governantes. As manifestações de protesto popular que eclodiram por toda a parte foram duramente reprimidas. No dia 22 de janeiro de 1905 (9 de janeiro, segundo o calendário que vigorava na Rússia na época), a polícia abriu fogo contra uma multidão concentrada diante do palácio do czar, em São Petersburgo, matando vários manifestantes.
O episódio, conhecido como domingo sangrento, foi o estopim de um grande movimento revolucionário, durante o qual surgiram os primeiros sovietes (conselhos) de operários, forma de organização política que iria ter importante papel no processo revolucionário de 1917. Em São Petersburgo, os trabalhadores elegeram para a presidência do soviete da cidade um jovem marxista: Lev Davidovitch Bronstein, conhecido como Leon Trótski.
Todavia, o ímpeto revolucionário foi contido por uma série de medidas adotadas pelo czar. Como primeiro passo, ele criou a Duma, uma espécie de parlamento, composto por representantes eleitos, e dotou a Rússia de uma Constituição. Com essa medida, o país passou a ser governado por uma monarquia constitucional, embora o czar continuasse com poderes quase absolutos, podendo inclusive limitar as ações da Duma.
O czar, entretanto, não tinha ficado nem um pouco satisfeito em ter de aprovar essas medidas, e não deixou de aproveitar as oportunidades que surgiram para recuperar seus poderes. Uma oportunidade surgiu quando as oposições se dividiram, pois os setores mais moderados ficaram satisfeitos com as conquistas alcançadas.
Outra oportunidade foi o retorno das tropas que combateram os japoneses no Oriente.
Reforçado por esses acontecimentos o czar aproveitou para colocar na ilegalidade os sovietes operários e prender ou exilar os líderes oposicionistas mais atuantes.

3. Guerra e revolução
Os conflitos sociais voltaram a se agravar no país durante a Primeira Guerra Mundial. À medida que as forças russas sofriam derrotas, aumentavam as dificuldades internas. A guerra exigia sacrifícios econômicos e humanos cada vez maiores: em 1916, a Rússia já havia perdido, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros, cerca de 3 milhões de soldados. No ano seguinte, as perdas chegaram a 5,5 milhões de homens, a maioria de origem camponesa. Como consequência, os campos se esvaziaram e a produção de gêneros alimentícios ficou seriamente comprometida.
No início de março de 1917 (fevereiro, pelo calendário russo), a escassez de alimentos fez com que as autoridades de São Petersburgo instituíssem cartões de racionamento. Enormes filas se formaram nas portas de padarias, açougues e mercearias e em pouco tempo não havia mais alimentos. Greves começaram a eclodir em todo o país, sobretudo em São Petersburgo, onde as manifestações operárias se tornaram constantes.
Uma delas foi dispersada por soldados, deixando dezenas de mortos e feridos. A tragédia traria graves consequências ao governo: cansados de reprimir os trabalhadores, grupos de soldados se amotinaram contra os oficiais e se uniram aos manifestantes. O arsenal da cidade foi assaltado e um prédio público incendiado. Soldados e trabalhadores marcharam então contra o palácio do czar e o ocuparam sem resistência.
Dias depois, o czar abdicou do trono em favor do irmão Miguel, que também foi convencido a renunciar. Assim, o czarismo chegava ao fim. Enquanto isso, fortalecia-se em toda a Rússia uma forma de organização revolucionária criada em 1905, os sovietes, agora compostos de operários, soldados e marinheiros.

4. Fevereiro de 1917
A queda da Monarquia e a implantação da República marcam o início da primeira fase da Revolução Russa.
Com a revolução, o nome da capital, São Petersburgo, passou a ser Petrogrado (a cidade voltou ao nome original após o fim da URSS). Organizado no calor da revolta popular, o soviete de Petrogrado decidiu não participar do Governo Provisório, embora reconhecesse sua legitimidade. De todo modo, a presença e a atuação do soviete na capital russa criavam uma situação de “duplo poder”: um governo institucional dirigido pelo partido da burguesia e um poder informal, o soviete, que para os trabalhadores era o verdadeiro governo da Rússia.
Sem esperar pelas decisões do Governo Provisório, nas zonas rurais, os camponeses ocupavam e dividiam as terras da nobreza e, nas cidades, os operários assumiam o controle das fábricas.
Manifestantes se pronunciavam contra a guerra e organizavam administrações revolucionárias em diversas cidades, sob a direção de sovietes. Nesse momento, a maior parte dos sovietes era controlada por socialistas moderados, como os mencheviques, e socialistas revolucionários.

5. A Revolução de Outubro
O agravamento da crise possibilitou o fortalecimento dos bolcheviques. Ao voltar do exílio autorizado pelo Governo Provisório, Lenin divulgou suas Teses de abril, nas quais defendia o lema “Todo o poder aos sovietes”, que, com “Paz, pão e terra”, se transformou na bandeira dos revolucionários.
Trótski, que aderiu ao grupo bolchevique em julho de 1917, era novamente presidente do soviete de Petrogrado e foi incumbido de organizar a Guarda Vermelha, uma milícia operária destinada a enfrentar as tentativas de golpes de Estado provenientes da alta cúpula militar. Nos meses seguintes, diante da ameaça dos golpistas e da ofensiva alemã, Kerensky, que ele não podia confiar no exército legal, recorreu cada vez mais aos guarda-vermelhos bolcheviques para defender a capital.
Isso favoreceu os bolcheviques, que passaram a ter uma presença forte em todos os pontos estratégicos da cidade. Daí para um golpe de Estado foi um passo.
O Golpe se deu em 25 de outubro de 1917 (pelo antigo calendário russo), quando o Governo Provisório foi deposto pelos bolcheviques, liderados por Lenin. Em seguida, Lenin anunciou a formação do Conselho de Comissários do Povo, sob sua presidência. Era o começo de uma nova fase na Revolução Russa, a fase comunista, marcada pela ascensão dos bolcheviques ao poder.
O novo governo tomou imediatamente duas medidas longamente anunciadas pelos revolucionários:

a) o Decreto da Paz, propondo a saída da Rússia da guerra;
b) o Decreto da Terra, que propunha ampla distribuição de terras aos camponeses.

Outras medidas importantes foram o reconhecimento dos sovietes como órgãos de poder, a nacionalização dos bancos, entre outras.
Em março de 1918, o governo bolchevique assinou com a Alemanha o Tratado de Brest-Litovsk, pelo qual a Rússia se afastava da guerra, sob condições bem desfavoráveis: perdia grande parte de seu território e se obrigava a pagar uma indenização de um bilhão e meio de dólares à Alemanha.

6. A guerra civil
Os proprietários de terras e os capitalistas, inconformados com a perda de seus bens, pegaram em armas contra o governo revolucionário. Eles contavam com o apoio de vários países europeus, que, temendo a difusão dos ideais socialistas pelo continente, enviaram tropas para ajudá-los a retomar o poder. Iniciada em 1918, a guerra civil duraria três anos (1918-1922) e devastaria a Rússia. Para enfrentá-la, Trótski foi nomeado comissário do povo (o equivalente a ministro) para a guerra e, nessa função, organizou o Exército Vermelho, que esmagou as forças inimigas.
Durante o conflito, Lenin tomou medidas radicais para garantir a produção e o abastecimento.
Foi o chamado comunismo de guerra, um programa que incluiu, entre outras medidas, a abolição dos salários, a estatização das fábricas com mais de cinco operários e a obrigatoriedade de os camponeses entregarem a colheita ao governo. Por essa época, o partido bolchevique mudou de nome e passou a se chamar Partido Comunista.

7. A NEP e a estabilização do regime
Os bolcheviques venceram a guerra civil, mas o país que eles teriam de governar estava literalmente arrasado. Para se ter uma ideia do tamanho dos estragos causados pela guerra, vejamos estes dados: a produção de 1921 tinha se reduzido a apenas 13% do que fora em 1913.
A crise provocava revoltas populares, e os camponeses se recusavam a entregar sua produção. Calcula-se que 5 milhões de pessoas tenham morrido de fome somente no ano de 1921.
Nesse mesmo ano, Lenin anunciou a nova Economia Política, a NEP. Tratava-se, na verdade, de um retorno parcial a formas de economia capitalista para superar a crise e aumentar a produção. Os camponeses passaram a vender suas colheitas no mercado; fábricas com menos de vinte empregados foram autorizadas a funcionar e o governo tomou medidas para atrair capitais estrangeiros. Como resultado dessa política, entre 1922 e 1924, a produção da Rússia aumentou quatro vezes. 
Em 1922, o governo bolchevique mudou o nome oficial do país, que passou a chamar-se União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ou simplesmente União Soviética.(URSS), que existiu até 1991

8. A morte de Lenin e a luta pelo poder
Em janeiro de 1924, morreu Lenin, o principal líder da Revolução de 1917. Com isso, abriu-se uma disputa pelo poder entre Trótski e o secretário-geral do Partido Comunista, Josef Stalin. Trótski defendia a tese da revolução permanente, pois entendia que o socialismo só poderia se consolidar e se desenvolver na Rússia se a revolução ocorresse também nos países capitalistas avançados.
Dessa forma, era preciso que o governo soviético estimulasse as ações revolucionárias na Europa.
Já para Stalin era possível construir o socialismo em um só país, apesar do cerco capitalista. Segundo ele, a revolução era inviável, naquele momento histórico, nos demais países.
Trótski foi derrotado e começou a ser duramente perseguido por Stalin, que adotou contra ele uma série de punições. Em 1925, Trótski perdeu o posto de comissário do povo para a guerra; em 1927, foi desligado do partido; e, em 1929, acabou expulso da União Soviética. Rejeitado pelos governos dos países capitalistas da Europa, Trótski refugiou-se no México, onde se exilou com o apoio do presidente nacionalista Lázaro Cárdenas. Ali acabaria sendo assassinado, a mando de Stalin, em 1940.
Stalin tornou-se senhor absoluto do poder da URSS, que exerceu com mão de ferro até sua morte em 1953.
O governo de Stalin foi marcado por violenta repressão aos dissidentes comunistas e, na esfera da economia, pelos planos quinquenais, que substituíram a NEP a partir de 1928. Esses planos estabeleciam metas e mobilizavam os recursos da nação para atingi-las no prazo estipulado de cinco anos. Isso implicava rígida planificação central e alto controle do Estado sobre a economia.



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