PORTUGAL E BRASIL
SOB A UNIÃO IBÉRICA
A morte de Dom Sebastião e de seu tio-avô puseram
fim à dinastia de Avis e colocaram Portugal diante do mesmo dilema com o qual o
país se defrontara em 1383: submeter-se ao domínio espanhol ou rebelar-se.
“A Batalha de Guararapes”, de Victor Meirelles (1832-1903) |
Filipe II
da Espanha reivindicava para si o trono português, com o argumento de que era casado
com Dona Maria, filha de Dom João III de Portugal, avô de Dom Sebastião.
O aspirante
ao trono era apoiado por quase toda a nobreza, pelo alto clero e por boa parte da
burguesia.
A maioria
da população, porém, aliada a alguns setores burgueses e da nobreza, opunha-se
a ele, mas não teve força sufi ciente para derrotar o exército espanhol, que invadiu
Portugal e colocou no trono o novo rei.
Em 1581,
pelo tratado de Tomar, instaurava-se a União Ibérica, governada por uma monarquia
dual que reinaria sobre os dois países até 1640.
1.
Países baixos lutam contra a espanha
No século
XVI, as regiões que correspondem atualmente à Bélgica e à Holanda eram ocupadas
por um conjunto de dezessete províncias denominado Países Baixos. Localizadas
na desembocadura dos rios Reno e Mosela, essas áreas se beneficiavam do
comércio praticado no interior da França e nas cidades germânicas. Suas
manufaturas, por outro lado, eram as mais prósperas da época. O comércio
marítimo, também florescente, explorava sobretudo as rotas do Oriente.
Essas
províncias desfrutavam de certa autonomia – cada uma tinha seu próprio governo.
Para resolver os problemas comuns, seus representantes reuniam-se nos Estados
Gerais, órgãos com poder deliberativo. No entanto, não eram totalmente independentes,
pois estavam sob o domínio do Sacro Império Romano-Germânico.
Em 1555, o
imperador Carlos V, do Sacro Império, renunciou à posse dos Países Baixos em
favor de seu filho, Filipe, que seria coroado rei da Espanha no ano seguinte
com o nome de Filipe II. A política absolutista e católica do rei espanhol logo
desagradou aos habitantes das dezessete províncias, algumas delas de maioria
protestante. O resultado foi uma revolta geral, iniciada em 1563.
Como
consequência, os lucrativos negócios que os Países Baixos mantinham com o
açúcar produzido na América portuguesa sofreram grande impacto. Em 1585, esse
intercâmbio comercial seria proibido pela Coroa espanhola.
No curso do
conflito, os Países Baixos dividiram-se em dois países. As dez províncias do
sul, predominantemente católicas, desistiram da luta e negociaram um acordo de
paz com Filipe II, mantendo-se sob o domínio da Espanha. Mais tarde, essas
regiões formariam a Bélgica.
As
províncias protestantes do norte, ao contrário, insistiram na separação e
constituíram, em 1579, um Estado republicano independente, chamado República
das Províncias Unidas dos Países Baixos, ou simplesmente Holanda.
O novo
Estado já nasceu forte. Detentor de grande frota mercante, estava entre as
maiores potências comerciais do mundo no final do século XVI e seria a maior na
primeira metade do século seguinte. Por ser um país onde o calvinismo era hegemônico e cujas atividades econômicas representavam
grande risco aos interesses da União Ibérica, Holanda e Espanha continuaram em
guerra até 1609, quando então firmaram um acordo de paz conhecido como Trégua
dos Doze Anos.
Com o
acordo, a Holanda voltou ao comércio açucareiro, transportando anualmente cerca
de 50 mil caixas de açúcar da colônia portuguesa para a Europa. Entretanto, com
o fim da Trégua dos Doze Anos, em 1621, a Espanha fechou definitivamente todos
os portos da União Ibérica aos barcos holandeses. A medida incluía,
naturalmente, os portos açucareiros da colônia portuguesa na América.
2. A
colônia portuguesa e a união ibérica
A União
Ibérica teve repercussões importantes para a colônia portuguesa na América. Significou,
na prática, o fi m dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas,
permitindo a livre circulação luso-brasileira em terras espanholas e
vice-versa. Isso permitiu aos portugueses ampliar o território colonial.
Os
espanhóis, em contrapartida, tinham menos interesse em ocupar o território
luso-brasileiro, pois suas atenções já estavam voltadas para as riquezas do
Peru e da Nova Espanha (México atual).
Ao mesmo
tempo, sob o domínio espanhol, Portugal passou a ser hostilizado por algumas potências
europeias inimigas da Espanha e com as quais mantivera, até então, relações
amistosas.
Uma dessas
nações era a Holanda. Para a colônia, a consequência mais imediata dessa
inimizade recém-contraída pela metrópole foram as invasões holandesas na Bahia
e em Pernambuco.
Outro
desdobramento da União Ibérica foi a divisão da colônia portuguesa em duas
unidades administrativas, por meio de uma medida adotada em 1621.
Surgiram,
dessa forma, dois Estados na colônia: o Estado do Maranhão, com sede em
São Luís, e o Estado do Brasil, com sede em Salvador. Os governantes dos
dois Estados prestavam contas diretamente à metrópole.
3. Invasões
holandesas
Diante da
resolução espanhola, os comerciantes holandeses – apoiados e instruídos por seu
governo – resolveram reagir. Para isso dispunham de recursos, armas e homens
reunidos pela Companhia das Índias Ocidentais (WIC), criada naquele mesmo ano
de 1621. A Companhia era uma empresa típica da época do mercantilismo. Formada
por capitais privados, contava com o apoio do Estado, que participava de sua
administração. Além disso, detinha o monopólio holandês do comércio com a
América e estava encarregada de estabelecer colônias nesse continente. Em tudo
era semelhante à Companhia das Índias Orientais, outra empresa holandesa, criada em 1602, mas voltada para o comércio
e a colonização do Oriente.
Com a
interdição dos portos açucareiros pela Coroa espanhola, a Companhia das Índias
Ocidentais reuniu uma frota poderosa que incluía dezenas de navios de guerra,
centenas de canhões e mais de 3000 homens e partiu para a invasão da Bahia, em
1624. Em poucas horas, Salvador foi ocupada sem opor resistência. Um ano
depois, uma esquadra luso-espanhola expulsou os holandeses da capitania.
A WIC
passou então a planejar a ocupação de Pernambuco, maior produtor mundial de
açúcar. Montou para isso uma grande operação com 56 navios e mais de 7000 homens.
Em fevereiro de 1630, depois de vários dias de intensos combates, Olinda, a
capital, e alguns povoados próximos, como o porto de Recife, foram tomados.
Para organizar a resistência local, o governador Matias de Albuquerque refugiou-se
com seus homens no interior da capitania, onde ergueu o arraial do Bom Jesus.
Seriam sete
anos de guerra, até que, com a colaboração de um desertor do lado português,
Domingos Fernandes Calabar, a Holanda pôs fim ao confronto. Profundo conhecedor
da região e com informações valiosas sobre a tática empregada pelas tropas de
Matias de Albuquerque, Calabar teve participação decisiva no sucesso da
ofensiva holandesa. Capturado pelos portugueses, foi executado por traição.
Durante o
período do conflito, a produção do açúcar nos engenhos ficou comprometida. Só
seria retomada com a estabilização política promovida por Maurício de Nassau. A
partir de 1637, os holandeses conseguiram estender seu domínio às capitanias de
Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte.
4. Restauração
em Portugal
No começo,
a União Ibérica foi bem recebida por setores dos grupos dominantes portugueses.
Passados sessenta anos, a burguesia ainda continuava lucrando com a União, que
lhe abrira novas frentes de negócios. Mas a verdade é que desde 1580 Portugal
passara a ser alvo dos inimigos da Espanha. Dessa forma, perdera algumas das
colônias de ultramar e grande parte de sua frota marítima.
Em 1640,
inconformadas com a situação, os portugueses se sublevaram contra a dominação
espanhola e se uniram ao duque de Bragança, que foi proclamado rei de Portugal com
o título de Dom João IV – era o começo da dinastia de Bragança. A revolta,
conhecida como restauração Portuguesa, pôs fim à União Ibérica e deu
início a um longo conflito entre Espanha e Portugal: a Guerra da restauração.
A Espanha
era um país muito mais poderoso que Portugal. Então, para sobreviver como nação
independente para consolidar a Restauração, o governo português procurou se
aproximar dos inimigos da Espanha na Europa, como os franceses, os holandeses e
principalmente com os ingleses. Por exemplo, assinou uma trégua de dez anos com
a Holanda. E, com a Inglaterra, Lisboa firmou, em 1642 e 1654, dois tratados de
comércio que asseguravam às mercadorias inglesas os mesmos direitos reservados
aos produtos lusitanos no comércio com sua colônia da América.
Para
fortalecer a aliança, Dom João IV cedeu aos ingleses a colônia de Bombaim (na
Índia) e concedeu em casamento a mão de sua filha, Catarina, ao rei da
Inglaterra, Carlos II.
5. Sob
a proteção da Inglaterra
Com o fim
da União Ibérica e a emergência da Holanda e da Inglaterra como principais
potências na segunda metade do século XVII, Portugal precisou adaptar-se à nova
realidade europeia. Já não tinha a força do passado, embora ainda dominasse
algumas colônias. Para sair do impasse em que se encontrava e reassumir o
controle das terras americanas ocupadas em grande parte pelos holandeses,
decidiu firmar novas alianças.
A partir
desse momento, a Inglaterra se tornaria o grande aliado de Portugal. Para
estreitar os vínculos com o novo parceiro, o governo português tomou a
iniciativa de estabelecer dois tratados com a Coroa inglesa, à qual conferiu a
condição de “nação privilegiada” em território lusitano e em suas colônias. O
primeiro deles, assinado em 1642, concedia vantagens comerciais aos produtos ingleses
nessas regiões, regulamentando o “comércio recíproco”. O segundo, firmado em 1654,
garantia à Inglaterra liberdade de comércio em terras brasileiras com os mesmos
direitos alfandegários reservados às mercadorias portuguesas. Além disso, determinava
que a Coroa de Portugal só compraria navios de estaleiros ingleses. Em troca
dessas concessões, a Inglaterra se comprometia a defender Portugal e suas
colônias.
O Tratado de Methuen
O terceiro
e mais importante acordo entre Portugal e Inglaterra ocorreu em 1703, quando os
dois países assinaram, o tratado de Methuen (nome do diplomata inglês
que negociou o tratado). O novo acordo pôs fim à política protecionista adotada
até então por Lisboa, permitindo que Portugal passasse a importar tecidos da
Inglaterra. Ao mesmo tempo, estabeleceu taxas alfandegárias especiais para os
vinhos portugueses importados pela Inglaterra. Como o valor das importações de
tecidos foi sempre superior ao das exportações de vinho,
Portugal
acabou acumulando déficits sobre déficits em seu comércio com o poderoso
aliado.
Outras
consequências do Tratado de Methuen foram o desestímulo ao desenvolvimento da manufatura
têxtil portuguesa e a transferência para a Inglaterra do ouro brasileiro –
descoberto no final do século XVII –, como meio de pagamento para cobrir os
déficits comerciais de Portugal.
6. Reações
à nova política colonial portuguesa
Além da
estratégia de aproximação com a Inglaterra, a Coroa portuguesa resolveu mudar
também sua política em relação à colônia americana, instituindo novas formas de
controle sobre o território.
A mais
importante foi a criação, em 1642, de um órgão centralizador, destinado a
administrar todas as atividades coloniais: o Conselho Ultramarino.
Enquanto
isso, outras medidas eram tomadas para fortalecer o poder dos representantes da
metrópole na colônia portuguesa. Uma delas proibia que as câmaras municipais se
opusessem às decisões dos governadores.
Na Bahia,
por exemplo, os vereadores passaram a ser indicados pelo rei. Alguns anos
depois, criou-se a figura dos juízes de fora, magistrados designados
pela Coroa para integrar e presidir as câmaras municipais, limitando as funções
dos juízes ordinários, eleitos pela elite local.
Companhias
monopolistas
Até o
começo da União Ibérica, o governo de Portugal permitia que seus colonos em
terras brasileiras comercializassem livremente certos produtos. Apenas a
exploração e a comercialização do pau-brasil foram monopolizadas pela Coroa,
que por meio de contratos designava comerciantes particulares para desenvolver
as duas atividades.
Com a
Restauração de 1640, porém, o governo lusitano intensificou a fiscalização do
comércio externo da colônia, considerada pelo rei Dom João IV a principal fonte
de riqueza de Portugal. Nessa linha de atuação, a Coroa criou, em 1649, a
Companhia Geral do Comércio do Brasil.
A empresa
detinha o monopólio de todo o comércio entre Portugal e o Estado do Brasil
(vale lembrar que em 1621 a colônia havia sido dividida em duas unidades
administrativas: Estado do Brasil e Estado do Maranhão). Podia também receber
contribuições do governo e organizar forças militares para impor decisões nos
territórios sob seu controle.
Outra
companhia foi criada em 1682. Tratava-se da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão.
Ela seria responsável, durante vinte anos, pelo monopólio comercial no
Maranhão, que estava fora da jurisdição da Companhia Geral. Uma das atribuições
da nova companhia era resolver o grave problema de escassez de mão de obra na
região. Por isso a empresa acabou assumindo o compromisso de fornecer, a preços
fixos, uma média anual de quinhentos africanos escravizados aos colonos.
Na prática,
começou a haver dificuldades: os produtos importados eram vendidos a preços excessivamente
altos pelas companhias, o que causou profundo descontentamento entre os
colonos.
No caso do
Maranhão, a situação foi agravada pelo fato de a companhia local não cumprir a meta
estabelecida em contrato de fornecer à região os escravos prometidos.
7. Revolta
no Maranhão
A atuação
da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão foi determinante para a eclosão da
primeira revolta de grandes proporções na colônia portuguesa. Além de cobrar
preços exorbitantes pelas mercadorias importadas e não fornecer os
trabalhadores escravos prometidos, a empresa usava pesos e medidas
falsificados. A isso se somava a antiga divergência dos colonos em relação aos
jesuítas, que eram contrários à escravização dos indígenas.
Em
fevereiro de 1684, a insatisfação dos colonos transformou-se em rebelião
armada, episódio que ficou conhecido como revolta dos Beckman. Sob a
liderança do senhor de engenho Manuel Beckman, de seu irmão Tomás e de Jorge
Sampaio, a revolta contou com a adesão de quase todos os setores sociais do
Maranhão. Recebeu também o apoio da Câmara de São Luís e dos padres da Ordem de
São Francisco. É importante esclarecer que essa não era uma revolta contra o
domínio português, mas contra o monopólio do comércio exercido por uma
companhia de comércio privilegiada.
Os
revoltosos tomaram o poder na cidade, constituíram uma junta de governo,
fecharam a Companhia de Comércio do Estado do Maranhão e expulsaram os
jesuítas. Seu objetivo, porém, não era alcançar a independência, mas obter o
empenho do governo português para solucionar os problemas enfrentados pelos
colonos. Com essa intenção, Tomás Beckman partiu para Lisboa e tentou dialogar
com as autoridades portuguesas. O rei, no entanto, mandou que o prendessem na metrópole, enquanto a repressão
se abatia sobre São Luís. Em novembro de 1684, com o enforcamento sumário dos
líderes Manuel Beckman e Jorge Sampaio e a condenação de outros envolvidos, o movimento
foi sufocado. A revolta, no entanto, não foi em vão. No ano seguinte, a Coroa
decretaria a extinção da Companhia de Comércio do Estado do Maranhão.
8. A
Guerra dos Mascates
Entre 1710
e 1711, nova crise eclodiu entre os colonos, dessa vez em Pernambuco. A causa
imediata do conflito, que ficou conhecido como Guerra dos Mascates, foi
o descontentamento dos senhores de engenho residentes em Olinda com a elevação
do Recife à condição de vila. O Recife era uma freguesia (espécie de bairro)
subordinada a Olinda. Desde a ocupação holandesa, conhecia rápido
desenvolvimento, graças sobretudo ao movimento de seu porto. Olinda era a principal
vila da capitania pernambucana, e nela residiam muitos senhores de engenho da
região.
No Recife,
em contrapartida, moravam os comerciantes, geralmente portugueses.
A relação
entre comerciantes e senhores de engenho era conflituosa. Embora fossem homens ricos,
os donos de engenho precisavam, com certa frequência, contrair empréstimos
junto aos comerciantes do Recife, pois estes movimentavam grandes somas de
dinheiro em suas atividades.
Os donos de
terras, em geral, consideravam-se nobres e desprezavam as pessoas que viviam do
comércio. Por isso, apelidaram os recifenses de mascates.
Em 1710, o
rei de Portugal elevou o Recife à categoria de vila. Em novembro do mesmo ano,
os olindenses invadiram a antiga freguesia, destruíram o pelourinho
recém-construído e nomearam um novo governador. Lançaram, então, um manifesto
no qual faziam uma série de exigências, como a anulação do ato que criava a
vila do Recife, a não fixação de novos tributos e a extinção das dívidas dos
senhores de engenho junto aos comerciantes.
Um dos
líderes da revolta, Bernardo Vieira de Melo, chegou a sugerir que Pernambuco se
separasse de Portugal e adotasse a república como regime de governo. A proposta
era muito avançada para a época: pela primeira vez alguém formulava a ideia de
emancipar parte da colônia dos laços que a prendiam a Portugal.
A reação
dos mascates veio em junho de 1711. Seguiu-se um período de intensos combates, com
vitórias de ambos os lados. As hostilidades só tiveram fim com a nomeação, pelo
rei de Portugal, de um novo governador. Bernardo Vieira de Melo e outros
líderes de Olinda foram presos e tiveram seus bens confiscados. Confirmado na
condição de vila, o Recife acabaria conquistando a supremacia sobre sua irmã e
rival.
9. “Vergaram
a vertical de Tordesilhas”
Desde o
início da conquista, os portugueses manifestaram interesse em desbravar os
sertões da terra americana em busca de ouro e prata. Já em 1522, em sua segunda
viagem à colônia portuguesa – a primeira dera-se entre 1516 e 1519 –, o
explorador Cristóvão Jaques navegou até o Rio da Prata, à procura de uma via de
acesso para as fabulosas riquezas do
Império Inca. Sem nada encontrar, acabou regressando a Portugal.
Dois anos depois,
em 1524, o náufrago português Aleixo Garcia partiu do litoral do atual estado de
Santa Catarina, à frente de um exército de dois mil indígenas, com o mesmo
objetivo de Cristóvão Jaques. Sua expedição chegou até as fronteiras do Império
Inca, na Bolívia atual, mas Aleixo morreu com a maioria de seus homens na
viagem de volta. A mesma sorte teria Pero Lobo, enviado por Martim Afonso de
Sousa em 1531 com a missão de encontrar o Império Inca. Composta por cerca de
oitenta homens, a expedição de Lobo foi destruída pelos indígenas antes de chegar
a seu destino.
Fracassadas
as primeiras incursões ao interior, a colonização acabou fixando-se no litoral
e em terras próximas, onde foram construídas as primeiras vilas e povoações e
se desenvolveu a cultura da cana-de-açúcar. São Paulo, erguida em 1554 no
Planalto de Piratininga (denominação indígena), seria, por muito tempo, a única
exceção à tendência de ocupação da faixa litorânea.
Localizada
no topo da Serra do Mar, a vila de São Paulo desempenharia importante papel no processo
de expansão territorial da colônia. Mas essa posição geográfica, longe do
litoral e mais distante de Portugal que o nordeste do território, também foi um
empecilho no desenvolvimento da cultura de cana-de-açúcar. Sua população acabou
dedicando-se, inicialmente, à lavoura de subsistência, com o cultivo de gêneros
alimentícios como milho, trigo e mandioca.
As bandeiras
No entanto,
logo surgiu um negócio muito mais rentável para os habitantes de São Paulo: a
caça e a venda de indígenas escravizados. A atividade era realizada por meio de
expedições organizadas por particulares, conhecidas como bandeiras. No
início, as bandeiras iam à procura do indígena no interior da mata virgem. Mais
tarde, a principal fonte de abastecimento dessas expedições passou a ser as
missões (ou reduções) jesuíticas.
As missões
consistiam em grandes aldeias, nas quais os indígenas eram catequizados pelos padres,
aprendiam a lavrar a terra e a executar diversos tipos de tarefa. Como esses
nativos já estavam adaptados ao trabalho agrícola, os integrantes das bandeiras
– os bandeirantes – achavam muito mais interessante e lucrativo
capturá-los nas missões. Os ataques das bandeiras, que começaram no século XVI,
tornaram-se mais intensos e brutais no século XVII.
As bandeiras de
prospecção e de apresamento
Além de
caçar indígenas, as bandeiras também procuravam ouro, prata e pedras preciosas.
Aquelas que se dedicavam à caça aos nativos ficaram conhecidas como bandeiras
de apresamento; já as que buscavam minerais preciosos foram chamadas de bandeiras
de prospecção.
Em ambos os
casos, as expedições levaram a presença luso-brasileira a muitas terras
distantes na colônia. No período em que vigorou a União Ibérica, os
bandeirantes cruzavam sem restrições a linha de Tordesilhas, contribuindo para
expandir os limites da colônia portuguesa. Nessa época, os principais alvos das
bandeiras de apresamento eram as missões jesuíticas da região situada entre os
rios Uruguai e Paraguai, no atual estado do Rio Grande do Sul.
Na segunda
metade do século XVII, aumentaram as bandeiras de prospecção. O bandeirante Fernão
Dias Pais, por exemplo, deixou a caça aos indígenas para buscar esmeraldas, que
nunca encontrou, nas cabeceiras do Rio das Velhas, no atual estado de Minas
Gerais. Raposo Tavares, por sua vez, que havia sido o terror das missões
jesuíticas, lançou-se a uma expedição que explorou vasta área do interior do
continente, com o objetivo de procurar metais preciosos e expandir o território
da colônia portuguesa. No final do século XVII, uma dessas bandeiras de
prospecção acabaria descobrindo ouro na região que depois se tornaria conhecida
como Minas Gerais.
A expansão para o sul
Enquanto os
bandeirantes desbravavam o interior, colonos de São Vicente começaram a se deslocar
pelo litoral em direção ao sul. Fundaram, assim, as vilas de Paranaguá, em
1648, e Curitiba, em 1668.
Prosseguindo
na marcha, ergueram Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em 1675, e
Laguna, em 1676, ambas no atual estado de Santa Catarina.
Quatro anos
depois, os colonos chegaram à margem esquerda do Rio da Prata, onde fundaram, por
ordem do rei de Portugal, a Colônia do Sacramento. Situada em frente a Buenos
Aires, do outro lado do rio, a nova colônia foi considerada pelos espanhóis uma
provocação dos portugueses.
Poucos
meses depois de sua fundação, foi ocupada por forças enviadas pelo governador
de Buenos Aires. A partir de então, a Colônia do Sacramento seria objeto de
disputa permanente entre castelhanos e portugueses (assunto que será tratado em
outro texto).
Nenhum comentário:
Postar um comentário