quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018


INDEPENDÊNCIA  DOS  ESTADOS  UNIDOS



A independência dos Estados Unidos começou como uma revolta dos colonos ingleses contra o domínio britânico. Vejamos como isso seu.
  
A  exploração  europeia  na  América foi regida pelo exclusivo metropolitano. A metrópole, em busca de uma balança comercial favorável, detinha o controle das atividades econômicas da colônia.
“Espírito de ’76”, de Archibald Willard (1836-1918)
Empenhava-se, por exemplo, em estimular a cultura de produtos agrícolas tropicais (como cana-de-açúcar, tabaco etc.) com o objetivo de revendê-los na Europa. Além disso, explorava riquezas naturais, como minérios (ouro e prata) e plantas nativas (pau-brasil). Os colonos, por sua vez, eram obrigados a consumir mercadorias trazidas da Europa, sobretudo produtos manufaturados. A ocupação inglesa na América do Norte seguiu essa regra apenas na região sul. Ali foram instaladas grandes fazendas, nas quais se empregava mão de obra escrava no cultivo de produtos tropicais destinados à exportação.
A principal exceção ficou por conta da parte norte da colônia. Com poucos atrativos para a metrópole, pois o clima era semelhante ao europeu, nessa região surgiram núcleos coloniais com relativa independência. Fundados por europeus, majoritariamente ingleses, que fugiam de perseguições religiosas em seus países, a base de sua ocupação foi a pequena propriedade. Sem controle rígido, esses colonos acabaram criando organizações políticas próprias e mantendo intenso comércio com outras regiões, além de desenvolver um incipiente processo de industrialização.
Essa situação alterou-se na segunda metade do século XVIII, sobretudo após a Guerra dos Sete anos (1756-1763), entre a Inglaterra e a França. O conflito terminou com a vitória da Grã-Bretanha, que se apoderou de vários territórios na América do Norte e na Índia, tornando-se a maior potência marítima e colonial da época.
O governo inglês considerou que os colonos tinham sido beneficiados pela guerra e, por isso, deviam ajudar a pagar os gastos com a Guerra dos Sete Anos. Com essa justificativa, os britânicos decidiram intensificar a exploração colonial, tentando impor alguns impostos.
Com as mudanças, os colonos se deram conta de que seus interesses eram muito diferentes dos interesses da metrópole. Essa tomada de consciência recebeu influência direta das ideias iluministas que chegavam à América trazidas por jornais, livros, viajantes e pelos jovens que iam estudar na Europa.

1. Os colonos se rebelam
O primeiro passo na ampliação da exploração inglesa sobre suas colônias norte-americanas ocorreu em 1763, quando o rei Jorge III proibiu os colonos ingleses na América de ocupar as terras do interior do continente, localizadas a oeste das Treze Colônias, nos vales dos rios Ohio e Mississipi. Essa área, tomada da França ao final da Guerra dos Sete Anos, foi declarada propriedade da Coroa e tornou-se reserva indígena, contrariando as expectativas dos colonos, que esperavam poder se expandir nessa direção.
O segundo passo de Jorge III foi impor aos colonos, em 1764, a Lei do Açúcar, que criava taxas adicionais sobre as importações de vários produtos, entre os quais o melaço, importado do Caribe e usado na fabricação de rum. O maior entrave dessa lei era o rigor com que se cobravam os impostos alfandegários, o que dificultava o contrabando, prática comum entre os colonos.

Em defesa da liberdade
No ano seguinte, outra lei se somaria à anterior: a Lei do Selo. Segundo a nova ordem, os colonos tinham de afixar estampilhas em todos os jornais, folhetos e em numerosos documentos legais. Como os selos eram ingleses, ao comprá-los, os colonos transferiam recursos para a metrópole. O rei justificava essa lei argumentando que, com a guerra, o tesouro britânico havia se esgotado e os colonos deveriam ajudar a pagar as dívidas, contraídas também a favor dos interesses deles.
Os colonos norte-americanos, porém, não aceitaram essas imposições, alegando que a Lei do Açúcar e a Lei do Selo, na verdade, constituíam impostos disfarçados. Para eles, o fato de terem se fixado na América não lhes tirava a condição de cidadãos ingleses, cujo direito fundamental era precisamente o de só aceitar impostos aprovados por seus representantes no Parlamento. Ora, como os colonos não eram representados no Parlamento britânico, julgavam que não deviam pagar impostos votados pelo Poder Legislativo da Grã-Bretanha. 
Se governo britânico tivesse aceitado esse argumento, que parecia tão óbvio, a história do mundo poderia ter sido bem diferente do que foi.
Entretanto, a atitude inglesa foi outra, o que levou colonos norte-americanos a boicotar as leis estabelecidas pela metrópole. Diante da forte reação na colônia, o governo inglês ficou sem saída e suspendeu as duas medidas, mas adotou outras. Uma delas, de 1773 – conhecida como Lei do Chá –, concedia à Companhia das Índias Orientais a exclusividade na venda do chá inglês na América. Os colonos reagiram e promoveram a Festa do Chá, em Boston: um grupo de homens, disfarçados de indígenas, lançou ao mar o carregamento de chá de três navios da Companhia das Índias. Em represália, a Inglaterra decretou, em 1774, um conjunto de leis – chamadas pelos colonos norte-americanos de Leis Intoleráveis –, determinando o fechamento do porto de Boston e impondo outras medidas que cerceavam a liberdade dos colonos.

2. A conquista da independência
A situação tornou-se insustentável, levando os colonos a se reunirem no Primeiro Congresso Continental da Filadélfia, realizado no mesmo ano (1774). No encontro, ficou decidido que os colonos não tolerariam mais nenhuma taxação sem representação e fariam um boicote econômico irrestrito à Inglaterra.
A tensão entre os dois lados, que já se arrastava desde 1763, quando as primeiras medidas restritivas tinham entrado em vigor, desembocou em conflito armado. Os combates iniciais entre norte-americanos e ingleses aconteceram em abril de 1775. Para enfrentar os poderosos adversários, os colonos contavam com uma milícia armada, formada por voluntários, que havia se organizado ao longo dos anos de insatisfação com a metrópole. Em maio do mesmo ano, os colonos reuniram-se no Segundo Congresso Continental da Filadélfia. Nesse encontro, decidiram pela separação das colônias da Grã-Bretanha. Finalmente, em 4 de julho de 1776, foi aprovada a Declaração de Independência, redigida por Thomas Jefferson, com a colaboração de outros políticos do Congresso.

O apoio estrangeiro
A guerra entre britânicos e colonos estava em franca evolução quando Benjamin Franklin, um dos integrantes do Segundo Congresso da Filadélfia e colaborador de Jefferson na Declaração de Independência, foi enviado à Europa para conquistar aliados e o reconhecimento da causa norte-americana.
França, Espanha e depois também Holanda dispuseram-se a conceder ajuda aos colonos ingleses. Para esses países, era uma oportunidade para conseguir uma revanche sobre a derrota para a Inglaterra na Guerra dos Sete Anos.
A mais efetiva foi a ajuda francesa, não só com dinheiro e armas, mas com homens. De fato, muitos franceses se dispuseram a ajudar, entre eles o marquês de La Fayette, que reuniu um exército e partiu para a América.
Por meio de um tratado assinado em outubro de 1778, a França comprometeu-se a colaborar com os Estados Unidos na guerra contra os britânicos.
A guerra durou até 1781, quando o exército britânico finalmente capitulou. O acordo de paz foi celebrado em Paris, em 1783. Derrotada, a Grã-Bretanha teve de fazer concessões aos vitoriosos: cedeu à França alguns territórios nas Antilhas e na África e entregou a ilha de Minorca e a Flórida à Espanha. A Holanda recebeu a ilha de Sumatra (hoje pertencente à Indonésia).
Já em relação aos estadunidenses, o Tratado de Versalhes – assinado em Paris – reconheceu a independência dos Estados Unidos da América, cujo território a partir desse momento passou a se estender, para o oeste, até o Mississipi.

3. Os Estados Unidos da América
A primeira forma de organização política adotada pela nova nação foi uma confederação, ou seja, um tipo de organização na qual os diversos estados são independentes. Entretanto, a ausência de um poder central forte levou a união com base na confederação a uma situação de crise permanente. Não havia um órgão executivo que unificasse o país, mas apenas um Congresso que só podia exercer sua autoridade por intermédio do governo de cada Estado. Não existia nem mesmo uma moeda única entre as ex-colônias.
Para resolver esses problemas, o Congresso autorizou a realização de uma convenção que representasse todos os Estados e votasse uma constituição única para todo o país. Na convenção, reunida em 1787 na Filadélfia, os Estados concordaram em abrir mão da independência e da autonomia irrestritas e formar uma união de estados autônomos (mas não independentes), dirigida por um poder central forte. Esse arranjo jurídico-político foi definido na Constituição. O país, assim constituído, passou a se chamar Estados Unidos da América.
O novo Estado era inovador em muitos aspectos:
• assumiu a forma de república, e não de monarquia, como acontecia na maioria dos países europeus da época;
• adotou o sistema presidencialista;
• assumiu a forma de federação, o que significa que, embora existisse um governo central, os Estados-membros conservavam ampla autonomia, podendo tomar decisões próprias em relação a muitos assuntos;
• estabeleceu um complexo sistema de divisão e equilíbrio entre o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, conforme a teoria de Montesquieu.

A independência de uma colônia foi, por si só, um fato revolucionário, por ser uma coisa completamente nova, e acabou exercendo uma grande influência sobre os acontecimentos que iriam ocorrer em seguida na Europa e na América.


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