quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

MAIAS E ASTECAS:  povos  da  Mesoamérica

A  Mesoamérica
 Por Mesoamérica entende-se a região onde se desenvolveram as primeiras sociedades complexas do continente americano. Ela engloba territórios da América Central e também do extremo sul da América do Norte. Para os estudiosos, a importância da Mesoamérica está ligada mais aos aspectos histórico-culturais do que aos geográficos. Como veremos mais adiante, foi aí que viveram dois povos de culturas extremamente ricas e complexas: os maias e os astecas.

Pedra do Sol asteca

2. Olmecas e teotihuacanos
Uma das primeiras sociedades complexas de que se tem notícia na Mesoamérica foi a dos olmecas, surgida 3 mil anos atrás. Eles ocupavam as regiões que correspondem hoje ao México e à Costa Rica. Dotados de uma cultura bastante rica, os olmecas desenvolveram um sistema próprio de escrita, construíram as primeiras cidades do território e ergueram várias pirâmides. Por volta de 400 a.C., depois de sofrer sucessivas invasões de outros povos, a sociedade olmeca entrou em processo de desintegração.
Entre 700 e 600 a.C., floresceu também na região a sociedade teotihuacana, assim chamada porque se formou em torno da cidade de Teotihuacán, que significa cidade dos deuses. Os teotihuacanos tornaram-se conhecidos por construir pirâmides enormes, como a do Sol e a da Lua (com 65 e 43 metros de altura, respectivamente). Também se notabilizaram por erguer muitos templos dedicados a diversos deuses, como Quetzalcoatl (serpente de plumas), símbolo da fecundidade da terra.

3. Os maias
Em 700 a.C., aproximadamente, outra importante sociedade surgiria na Península de Iucatã, situada entre a América do Norte e a América Central: a dos maias. Durante o período de sua formação, essa sociedade herdou vários elementos das culturas dos povos que habitavam a região, como os olmecas. Por volta de 317 de nossa era, os maias já ocupavam extensas regiões do que conhecemos hoje como México, Honduras e Guatemala.
A sociedade maia destacou-se, entre outros aspectos, por sua forma de organização política: ela se desenvolveu em torno de centros urbanos autônomos, ligados por uma relativa unidade cultural, sem no entanto constituir um império centralizado. Com o tempo, os maias ergueriam numerosas cidades, como Palenque, Maiapán, Uxmal, Chichén Itzá, Uaxactún e Tikal, entre outras.
O período áureo dessa sociedade ocorreu entre 1000 e 1400. Nessa fase, o centro da Península de Iucatã foi ocupado por outro povo, os toltecas, que aí fundou a cidade de Chichén Itzá. Essa ocupação acabou resultando na fusão das culturas maia e tolteca.
A partir de 1441, em decorrência de sucessivas guerras entre suas cidades, a sociedade maia começou a se desintegrar. A isso se somou uma série de flagelos naturais (furacões, pestes, estiagens) que culminou com uma epidemia de varicela, em 1511, causada pelo contato com os europeus.

Um governante com muitos poderes
Extremamente religiosos, os maias construíam suas cidades em volta de núcleos formados por templos, pirâmides e palácios. Nas proximidades desses núcleos, ficavam as casas das pessoas mais poderosas.
Cada cidade era gerida por um halac vinic, que governava em nome de um dos deuses da religião maia, constituindo uma teocracia. A sucessão ocorria em uma mesma família, com o poder passando de pai para filho, segundo o direito de primogenitura. O halac vinic concentrava todos os poderes – religioso, militar e civil. Era ele quem escolhia, entre os membros da aristocracia, os funcionários que o auxiliavam na administração da cidade. Esses homens de confiança comandavam os soldados, presidiam o conselho local, aplicavam a justiça e controlavam a arrecadação de impostos. Além dessas atribuições, também cuidavam do cultivo dos campos nas épocas indicadas pelos sacerdotes.
Temidos e respeitados, os sacerdotes, por sua vez, desempenhavam funções particularmente sociedade. Entre eles havia astrônomos, matemáticos, adivinhos e administradores.

Agricultura e comércio
Os maias desenvolveram uma economia diversificada, de base agrícola – o milho era sua principal fonte de subsistência –, dotada de uma extensa rede de trocas comerciais. Fazendo permuta com seus produtos minerais, agrícolas e artesanais, eles adquiriam de outras regiões os bens de que necessitavam, como blocos de pedra, sílex para fabricar armas e ferramentas, pigmentos minerais – destinados principalmente à pintura e à cerâmica –, e outros. Nas trocas comerciais utilizavam, muitas vezes, sementes de cacau como moeda.
No campo da metalurgia, dominavam a técnica de obtenção e manipulação do cobre e do ouro, mas só empregavam esses metais para fins ornamentais.
Indiscutivelmente, os maias foram notáveis em diversos campos do saber, mas dois aspectos chamam a atenção ao estudarmos essa sociedade: eles não utilizavam nenhum animal para tração ou montaria (por isso os meios de transporte e os trabalhos pesados dependiam da força humana) e desconheciam a roda e o torno (o que restringia sua ação sobre a natureza). Essa limitação, contudo, não impediu que construíssem uma das mais avançadas sociedades da América pré-colombiana.

4. A sociedade asteca
Os astecas viviam originalmente no noroeste do México atual, em uma região conhecida como Aztlán, da qual derivou seu nome. No século XIV de nossa era, provavelmente por terem sido expulsos de seu território por povos inimigos, eles foram obrigados a se deslocar para o planalto entral do México. No novo espaço, tornaram-se agricultores, sem perder os hábitos guerreiros, pois se viam constantemente envolvidos em disputas com as populações vizinhas pelas reservas de água potável e pelas áreas de cultivo.
Sob a influência de outras culturas existentes na Mesoamérica, os astecas desenvolveram técnicas  próprias para o plantio do milho, a escrita, a arte e as práticas religiosas. Em 1325, eles passaram a ocupar o conjunto de ilhotas do Lago Texcoco e construíram em uma delas sua principal cidade: Tenochtitlán (atual Cidade do México). Com o tempo, Tenochtitlán passou a contar com um amplo sistema de ruas, pontes e canais.
As disputas com outros povos pela posse do território e a necessidade de realizar obras para a prática da agricultura, como a drenagem dos pântanos, conduziram, aos poucos, à concentração do poder em três das principais cidades da região: Texcoco, Tlacopán e Tenochtitlán.
Essas cidades controlavam diversos povos que habitavam as áreas situadas entre o Golfo do México e o Oceano Pacífico e recebiam tributos das populações subjugadas. Por volta de 1440, quando teve início o governo de Montezuma I em Tenochtitlán, estima-se que esse verdadeiro império somava cerca de 15 milhões de habitantes.

Organização social
Entre os astecas, a autoridade máxima era exercida por um soberano. Os militares também poderosos, por causa das guerras constantes. Ocupavam posição de destaque na hierarquia social.
Vejamos a seguir como se compunha a sociedade asteca.
Os escravos ocupavam o plano mais baixo da escala social. Eram geralmente prisioneiros de guerra, criminosos condenados pela justiça ou pessoas que não conseguiam pagar suas dívidas. Curiosamente, eles podiam ser donos de terras e possuir outros bens, até mesmo outros escravos. Também não era proibido que se casassem com pessoas livres e tivessem filhos livres. Durante sua vida, os escravos tinham muitas oportunidades de conquistar a liberdade.
Acima dos escravos estava o maceualli, que era o membro do clã (calpulli). A ele cabia prestar o serviço militar, assim como trabalhar em obras coletivas, como a construção e a conservação de estradas e canais. Com o casamento, o maceualli conquistava o direito a um lote de terra e começava a participar da vida religiosa.
Em plano superior aos maceualli encontravam-se os artesãos e os comerciantes. A sociedade asteca tinha grande respeito pelo trabalho do artífice, que se dedicava aos ofícios de ourivesaria, joalheria e lapidação, entre outros. Os artesãos agrupavam-se em corporações extremamente fechadas, moravam em bairros especiais e tinham festas, ritos e deuses próprios. Seu ofício era transmitido de geração em geração, dentro da mesma família.
A atividade do comerciante, assim como a do artesão, era hereditária e exclusiva das corporações. Os pochtecas – grandes negociantes – cuidavam do comércio com regiões distantes. Com o tempo, eles se transformaram em um grupo poderoso e em ascensão na sociedade asteca. Seus filhos passaram a ter direito a frequentar o calmecac, uma espécie de escola reservada à aristocracia.
No topo da organização social ficavam os sacerdotes e os altos funcionários civis e militares. Eles formavam a aristocracia. Os sacerdotes, por exemplo, presidiam os cultos religiosos e tinham sob sua responsabilidade a educação dos filhos dos dignitários nos calmecac, a direção dos hospitais, a guarda dos livros sagrados e dos manuscritos históricos. Graças às doações recebidas dos soberanos e de particulares, não raro eles acumulavam grandes riquezas. Além do prestígio social de que desfrutavam, não pagavam impostos e, às vezes, integravam voluntariamente o exército.
O soberano era escolhido sempre em uma mesma família. A escolha era feita por um conselho de cem membros controlado por militares e sacerdotes. Atribuía-se a ele origem divina e esperava-se que prestasse homenagem aos deuses e protegesse a população, orientando-a moralmente – por exemplo, contra a embriaguez e o roubo. O soberano era auxiliado por uma espécie de chefe de governo e por uma hierarquia de funcionários.

Como viviam os astecas
Os astecas criaram um sistema de numeração e calendários com características semelhantes aos dos maias. Desenvolveram também uma escrita figurativa, cujos símbolos representavam objetos estilizados. Quando os espanhóis chegaram ao continente, observaram ainda o emprego de uma escrita fonética rudimentar que recorria a imagens ou objetos para representar certas sílabas. Os livros tinham grande importância para os astecas. Confeccionados com material obtido de fibras vegetais ou da pele de cervo, muitos deles eram ornados com ricas iluminuras. Nas cidades, havia bibliotecas cujo acervo incluía obras de temas religiosos, históricos, de adivinhação e de interpretação de sonhos. Quase todos os livros, porém, foram destruídos durante a conquista espanhola.
Os astecas eram bons tecelões. Produziam panos de algodão e de fibra de agave. A pele de coelho era usada na confecção de cobertores e mantas de inverno. Os homens vestiam-se com tangas e capas; as mulheres usavam camisas compridas e saias. A qualidade da roupa e dos ornamentos com que os astecas se enfeitavam era determinada pela posição social. Em geral, os homens andavam descalços e apenas os funcionários mais graduados usavam sandálias de fibra ou de couro.
Os astecas costumavam preencher as horas de lazer participando de jogos. Um deles, o tlachtli, era disputado por duas equipes. Além do milho, consumido em forma de massa sobre a qual se aplicava uma pasta de feijão  e pimenta, os astecas alimentavam-se de abóbora, batata e inhame. Faziam uso do tabaco sob a forma de charuto ou cachimbo e, em certas ocasiões, ingeriam o octli, um líquido fermentado à base de suco de agave. Também cultivavam o cacaueiro, de cujos frutos extraíam uma bebida chamada xocoatl, que daria origem ao chocolate como o conhecemos hoje. Assim como ocorria na sociedade maia, entre os astecas o uso de sementes  de cacau como moeda era relativamente comum.

Sacrifícios humanos
Como os demais povos pré-colombianos, os astecas também eram politeístas. Seus deuses principais consistiam em forças da natureza, geralmente identificadas com os astros. A divindade maior, inspirada no Sol, era Huitzilopochtli, deus da guerra e deus-guia. Em sua homenagem, os astecas construíram a principal pirâmide de Tenochtitlán, e em sua honra faziam numerosos sacrifícios humanos. A segunda em importância era a deusa Texcatlipoca. Protetora dos guerreiros e dos escravos, acreditava-se que ela inspirava os eleitores do grande conselho na escolha do soberano e castigava ou perdoava as faltas. Outros deuses cultuados eram Tlaloc, divindade da água e da chuva, e o misterioso Quetzalcoatl, deus do vento, a quem se atribuía a invenção da escrita, do calendário e das artes. Além das próprias divindades, os astecas adotavam também as de povos dominados.
Os astecas acreditavam no mito de que, sem o sangue humano (a “água preciosa”) oferecido ao Sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar. Por isso, procuravam manter um “estoque” de prisioneiros destinados aos sacrifícios.
Essa era uma de suas justificativas para a guerra. Eles entendiam que, depois de morto, o sacrificado ia morar no céu, nas vastas salas da Casa do Sol, para onde também eram conduzidos os guerreiros mortos em combate.
De igual modo, foi a crença na volta de certos deuses que fez com que os astecas vissem sem desconfiança a chegada dos espanhóis, um povo que, recebido com cordialidade, acabaria destruindo seu império.


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