sábado, 13 de janeiro de 2018

INCAS, uma civilização nos Andes


 A primeira sociedade complexa a florescer no território do atual Peru, por volta do ano 1000 a.C., ficou conhecida como chavin, denominação dada por historiadores e arqueólogos que estudam a região. Dela, sabe-se que era uma sociedade agrícola –cuja principal atividade econômica consistia no cultivo do milho – e que dominava também a técnica de construção de templos, pirâmides e canais de irrigação.

Ruínas de Machu Picchu, cidade construída 
pelos incas no século XV, no topo de 
uma montanha, a 2400 metros de altitude, 
no atual Peru.
No primeiro milênio de nossa era, a sociedade chavin deu lugar a outras sociedades. Ao longo desse período, a região conheceu muitas melhorias. Por exemplo: a ampliação dos canais de irrigação até as terras áridas próximas do litoral e a expansão das áreas cultivadas nas encostas da cordilheira. Essa melhoria era obtida por meio da construção de terraços, degraus formados por pedras na vertical e terra na parte horizontal.
A partir do século VIII, dois centros de difusão cultural ganharam destaque. O mais importante deles foi a cidade de Tiauhanaco, nas margens do Lago Titicaca; o outro, a cidade de Houari, localizada mais ao norte. Ambas se tornaram centros de grandes sociedades, que desapareceram no século XII por razões ainda desconhecidas. Sua cultura seria herdada pelos impérios Chimu e Inca, que se formaram em seguida. Os chimus estabeleceram-se na costa setentrional, onde desenvolveram a agricultura irrigada por meio de canais e aquedutos. Deram início, no século XIV, a um processo de expansão que os levou ao controle de longa área do litoral andino. Em meados do século seguinte, no entanto, foram absorvidos pelo Império Inca e perderam sua independência.

2. Um império florescente
Quando, em 1532, os espanhóis iniciaram a conquista da região onde hoje se encontra o Peru, os incas constituíam um império grandioso, cujo centro era a cidade de Cuzco. Acredita-se que, nessa época, dentro de suas fronteiras viviam, cerca de 10 milhões de pessoas. Uma das características interessantes dessa sociedade é que, ao dominar os diversos povos andinos, os incas fizeram a síntese das tradições culturais da região.


Primeiras conquistas
Os incas apareceram tardiamente na história dos povos andinos. Não há consenso entre os historiadores quanto às suas origens. É possível que eles fossem um dos grupos que compunham o povo quíchua, cujo idioma era falado numa ampla região dos Andes. Mas admite-se que, no século XIII, eles viviam ao redor de Cuzco.
A partir de certo momento, os incas começaram a dominar diversas cidades da região, dando início à sua expansão. Depois de 1463, subjugaram a sociedade chimu, que controlava o litoral. Em seguida, incorporaram os caras (no território que hoje corresponde ao Equador) e os aimarás, nas margens do Lago Titicaca, bem como as regiões do norte da Argentina e do Chile atuais.
A sucessão de conquistas resultou, em algumas décadas, na formação do Império. A tradição inca atribuía a um de seus ancestrais, Manco Capac, o papel de fundador do Império. Ele e seus sucessores passaram a adotar o título de inca, nome de uma antiga divindade andina.
Um de seus governantes mais importantes foi Tupa Yupanqui, que criou um serviço de mensageiros que ligava as diversas partes do Império e estruturou uma burocracia e um exército capazes de manter o controle inca sobre grande parte dos Andes. Yupanqui morreu em 1493.
Seu filho e sucessor, Huaina Capac, governou até 1528. Durante mais de trinta anos de governo, Huaina enfrentou prolongadas guerras nas fronteiras do norte. Ao morrer, o trono passou a ser disputado por Huáscar e Atahualpa, dois de seus filhos. Essa divisão facilitaria a conquista do Império pelos espanhóis quatro anos mais tarde.

Os filhos do Sol
Os incas tinham um governo forte e centralizado. A sucessão no poder se dava na família do governante, mas o herdeiro não era necessariamente filho do Inca, e sim o parente considerado mais capaz para assumir o cargo. Por isso, ao final de cada governo, havia grande disputa entre os herdeiros. Uma vez vitorioso, o novo Inca comparecia ao Templo do Sol, onde era entronizado. Investido de poderes exclusivos, ninguém podia encará-lo.
No início, os incas eram vistos como filhos do Sol. Mas Huaina Capac, por exemplo, se fez reconhecer como a própria encarnação do Sol e foi adorado como deus vivo. O Estado inca constituía, portanto, uma teocracia, como havia sido o Egito na Antiguidade.
O território do Império era dividido em quatro partes por duas linhas imaginárias que se cruzavam no centro da capital, Cuzco, a qual – acreditavam – era o “umbigo do mundo”. Cada uma dessas partes se subdividia, para fins administrativos, em frações decimais, nas quais a população era agrupada em unidades de 10 mil, mil, cem e, por fim, dez famílias. Havia um funcionário que se encarregava de cada uma das quatro unidades. As unidades inferiores também eram dirigidas por burocratas. Todos esses funcionários formavam uma pirâmide administrativa em cujo topo ficava o Inca.

Lavradores, pastores e artesãos
A agricultura, principal atividade econômica, dependia em boa parte dos terraços construídos nas encostas da cordilheira e de um sistema de canais para transportar água de fontes localizadas, muitas vezes, a quilômetros de distância. Os incas cultivavam mais de quarenta espécies vegetais, entre elas, abóbora, vagem, algodão, milho, batata, batata-doce, mandioca, amendoim e abacate.
A maioria da população era formada por camponeses, agrupados em comunidades chamadas ayllu – a célula básica da sociedade inca. O ayllu reunia pessoas ligadas por laços de parentesco e pela crença de descender de um mesmo antepassado mítico, simbolizado por um totem. Cada comunidade tinha seu chefe, o curaca, responsável pela distribuição da terra, pela organização dos trabalhos coletivos e pela resolução de conflitos.
Os integrantes do ayllu recebiam lotes de terra em diversas partes do Império, o que tornava possível explorar as diferentes condições de clima e de solo para obter grande variedade de produtos.
A terra era propriedade do Inca, que, por meio dos curacas, a entregava às famílias para cultivo: cada casal, ao se constituir, recebia um lote. As terras destinadas ao pastoreio, por sua vez, eram usadas coletivamente. Nelas criavam-se a alpaca, que fornecia lã, e o lhama, utilizado como meio de transporte. A domesticação desses animais fez dos Andes a única região da América pré-colombiana onde se praticou o pastoreio. Explorando, ao mesmo tempo, a agricultura, o pastoreio e o artesanato, as comunidades incas eram praticamente autossuficientes. Não havia moedas.

Os servos do Inca
A escravização não era praticada entre os incas, mas havia os chamados “dependentes perpétuos” (yana), ligados aos curacas e ao Inca. Eles não podiam ser trocados ou vendidos, como os escravos, e tinham importância econômica secundária. Paralelamente, havia a mita, antiga obrigação de prestar trabalho ao curaca e aos deuses locais, revestida de caráter religioso. Depois da formação do Império Inca, essa obrigação passou a ser prestada também ao Inca, o filho do Sol.
A mita recaía sobre todas as pessoas casadas, que deveriam cuidar das terras e dos rebanhos do Inca e ainda desempenhar as funções que lhes fossem designadas: no exército, nas oficinas de trabalhos artesanais, na construção e manutenção de estradas, pontes e edifícios.
Tudo isso exigia rigoroso controle da população, para se chegar com precisão à real quantidade de mão de obra disponível. Em virtude dessa necessidade, era comum proceder-se a recenseamentos minuciosos, realizados periodicamente por funcionários especializados. Para garantir os resultados dos censos, esses funcionários empregavam um sistema numérico decimal e registravam os dados em um instrumento denominado quipo, formado por cordinhas de diferentes cores e com vários tipos de nós.
Em algumas áreas do Império havia armazéns apropriados para guardar os produtos obtidos pela mita. Os estoques acumulados destinavam-se ao abastecimento do exército ou ao auxílio da população, em caso de desastres naturais. Nessa eventualidade, os mais velhos, as viúvas e os órfãos eram os primeiros a se beneficiar da distribuição alimentos e de roupas.

Cultura e técnica
Entre os incas, a tradição cultural era transmitida oralmente, tarefa reservada aos chamados amawta, cujos relatos serviram de matéria-prima para as crônicas registradas depois que os espanhóis introduziram a escrita entre eles.

Conhecimentos técnicos dos incas
O calendário inca dividia o ano em doze meses. No entanto, apresentava uma curiosa particularidade: enquanto o ano era solar, os meses eram lunares, o que ocasionava a diferença de alguns dias entre as duas contagens.
Os incas dominavam perfeitamente a técnica de obtenção do bronze (uma liga de cobre e estanho) e da platina e sabiam trabalhar o ouro e a prata. Não conheciam o ferro, a roda e o torno. Para o fabrico de armas e ferramentas utilizavam a pedra.
Com esse arsenal técnico, a sociedade inca construiu um império dotado de cidades, palácios, templos, estradas e estrutura administrativa, que provocou a admiração dos espanhóis, estimulando sua cobiça por metais preciosos.
Diferentemente dos povos da Mesoamérica, os incas não criaram uma escrita formal. O quipo desenvolvido por eles era eficiente, mas tratava-se de um sistema de contabilidade. Certamente o grau de complexidade alcançada pela sociedade inca iria exigir, em mais ou menos tempo, registros escritos, e os incas acabariam tendo a própria escrita. Mas esse desenvolvimento foi interrompido pela chegada dos conquistadores europeus.

O Império destruído
Apesar da grandiosidade de seu império, a sociedade inca acabou revelando-se bastante frágil diante do invasor espanhol. Para isso contribuíram:

• o cavalo e as armas de fogo e de ferro usadas pelos espanhóis;
• o descontentamento dos povos subjugados pelo Império que acabaram se aliando aos invasores;
• a disputa pelo poder entre os irmãos Huáscar e Atahualpa depois da morte do Inca Huaina Capac, em 1528, pois a luta entre os dois príncipes prosseguia em 1532, quando os espanhóis, chefiados por Francisco Pizarro, chegaram à região.

A resistência inca durou quarenta anos e só foi vencida em 1572, com o assassinato de seu último governante, Tupac Amaru. Porém, desde 1543, o território do Império já tinha sido incorporado pela administração colonial espanhola, constituindo o Vice-Reino do Peru.










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