quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A  GRANDE  NAÇÃO  TUPI


 Os primeiros habitantes avistados pelos portugueses ao desembarcar em terras americanas adotaram, em geral, uma atitude amistosa em relação aos estrangeiros. A esses grupos que falavam entre si línguas parecidas e tinham certos hábitos semelhantes, os portugueses chamaram tupis.

Os portugueses não sabiam, no entanto, que os tupis não eram um só grupo, mas englobavam numerosos povos, com grande diversidade cultural e religiosa.
Foi exatamente com esses indígenas do litoral que os portugueses mantiveram maior contato e aprenderam as primeiras regras de sobrevivência no continente que então começavam a explorar.
No interior do território viviam também diversos outros povos, chamados pelos conquistadores de tapuias.
Estes eram mais hostis, falavam uma língua difícil de ser compreendida e rejeitavam qualquer tipo de aproximação. Por isso, o contato que os portugueses mantiveram com eles foi bem menor.

2. As origens
Existem diferentes explicações para a procedência dos tupis que povoavam extensas regiões da América conquistada pelos portugueses. No início do primeiro milênio a.C., provavelmente eles habitavam o sudoeste da Amazônia, entre os atuais territórios de Rondônia, do Amazonas no Brasil e da Bolívia. Daí, teriam iniciado um lento movimento migratório em várias direções.
Outra versão dos estudiosos sugere que os tupis eram, possivelmente, originários dos contrafortes dos Andes ou do planalto do trecho médio dos rios Paraguai e Paraná, de onde se deslocaram para o litoral atlântico, seguindo para o norte.
Sabe-se, porém, que eles englobavam vários povos, como tupinambás, tamoios, tabajaras, carijós, potiguaras e guaranis, estes nas regiões meridionais.

3. Divisão do trabalho
Os tupis se organizavam grupos formados por unidades menores, as aldeias, que mantinham entre si interesses comuns. Nas aldeias havia normalmente de 500 a 600 pessoas, que viviam em grandes habitações (ou malocas) coletivas, cuja estrutura de madeira recebia uma cobertura de folhas de palmeira. Em geral, o número de habitações variava por aldeia de 4 a 7, cada uma abrigando um grande grupo familiar. A poligamia era prática comum entre os chefes e os guerreiros mais destacados.
A divisão do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. As mulheres, além dos afazeres domésticos, ocupavam-se da agricultura e da coleta e colaboravam na pesca. Encarregavam-se da preparação do cauim – bebida fermentada à base de mandioca – e de muitas atividades artesanais, como tecer redes, trançar cestos, fazer tapetes etc.
Além da derrubada da mata e da preparação da terra para o plantio, os homens ocupavam-se da caça, da pesca e do fabrico de canoas, armas de guerra e instrumentos de trabalho. Deviam erguer as habitações, defender a aldeia, tomar parte na guerra e executar os prisioneiros, se sua tribo praticava a antropofagia. Também eram os homens que exerciam a função de curandeiros.
As crianças ajudavam os pais em algumas atividades e realizavam tarefas compatíveis à sua idade, como cuidar dos irmãos menores ou espantar os pássaros das plantações no período que antecedia a colheita.

4. Uma agricultura rudimentar
Os tupis viviam da coleta, da caça e da pesca, dominavam a cerâmica e praticavam uma agricultura rudimentar. Essas atividades implicavam na exploração dos recursos do meio ocupado por eles até o esgotamento. Por isso, de tempos em tempos (geralmente de três a cinco anos), os grupos indígenas eram forçados a se deslocar para outra região em busca de melhores condições de vida.
A agricultura era uma atividade predominantemente feminina, excetuando-se a derrubada das árvores e a preparação da terra para o plantio, que cabiam aos homens da tribo. A limpeza do terreno era feita por meio da queimada, prática denominada coivara, mais tarde adotada pelos colonizadores. Os principais produtos da lavoura indígena eram a mandioca, o milho e a batata-doce. Mas sua dieta alimentar, variando de uma região para outra, incluía feijão, amendoim, pimenta, caju, banana e outros vegetais.
Os tupis não conheciam os metais. Em certas atividades, usavam machados de pedra e utensílios de madeira, de dentes, conchas etc. Suas armas de guerra eram arcos, flechas, lanças e escudos feitos de madeira. Alguns povos faziam uso da zarabatana, um tubo longo por meio do qual disparavam dardos envenenados. Para obter fogo, friccionavam uma peça de madeira dura contra outra, mais macia. Construíam suas canoas com troncos ou cascas de árvores e não utilizavam nenhum animal para transporte ou tração.

5. Morubixaba: o chefe de aldeia
Segundo o historiador Julio Cezar Melatti, a maior unidade política entre os tupis consistia na aldeia. Cada aldeia era politicamente independente, reconhecendo apenas a autoridade de seu chefe. Por isso, às vezes, ocorriam conflitos armados entre as aldeias de um mesmo grupo.
Toda aldeia tinha um chefe, geralmente chamado de morubixaba. Para desempenhar essa função, os membros da comunidade escolhiam, entre outras qualidades quem tivesse uma grande parentela e revelasse coragem, ponderação e dotes oratórios. Nos períodos de normalidade, o chefe tinha poucas atribuições, mas durante as guerras esperava-se que demonstrasse valentia e capacidade de comando, sob pena de ser afastado da função.
No entanto, o poder político não estava concentrado no morubixaba. Na verdade, a instituição política mais importante entre os tupis consistia no “conselho dos principais”, formado pelos chefes das grandes famílias e pelos homens mais respeitados da aldeia, como os guerreiros. Esse conselho tomava as principais decisões, como a mudança de seu povo para outro território, as estratégias empregadas em caso de guerra e a definição de alianças com outros grupos.
O processo de escolha do chefe e a determinação de suas obrigações variavam de um grupo para outro. Mas um aspecto era comum às diversas sociedades indígenas: a condição de chefe não conferia privilégios ao escolhido.
Do ponto de vista religioso, os tupis tinham crenças que combinavam traços do animismo e do politeísmo. Acreditavam, por exemplo, que, além do ser humano, todos os outros seres da natureza – como árvores, animais etc. – também eram dotados de alma (animismo). Adoravam alguns deuses (politeísmo), como tupã, identificado com o raio e com o trovão, e acreditavam na existência da vida após a morte e na reencarnação; temiam os gênios, os demônios e os espíritos dos mortos, causadores de catástrofes, que precisavam ser apaziguados por meio de oferendas.
O pajé, ou xamã, espécie de mago e sacerdote, presidia as cerimônias religiosas e era capaz de entrar em contato com forças invisíveis, adivinhar o futuro e curar as doenças.


É impossível saber hoje, com precisão, quantos indígenas havia no Brasil por ocasião da chegada dos portugueses. As estimativas variam de 1 milhão a 10 milhões. Uma coisa, porém, é certa: seja qual for esse número, ele baixou continuamente até chegar a cerca de 70 ou 80 mil, em 1957, conforme cálculos do antropólogo Darcy Ribeiro. Mas, nas últimas décadas do século XX, graças a uma política pública de proteção, a população indígena voltou a crescer. De acordo com o Censo Demográfico 2010, a população indígena residente no Brasil era de quase 900 mil pessoas.

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