quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

RELIGIÃO  E  CULTURA  NA  ORDEM  FEUDAL


Em  quase  toda  a  Europa  ocidental, durante a Idade Média, o cristianismo era a crença religiosa predominante. A grande exceção constituía a parte da Península Ibérica ocupada pelos árabes. Ali, a religião dominante era o islamismo. Outro caso particular dizia respeito às comunidades de judeus disseminadas pela Europa, praticantes do judaísmo. Na maior parte do continente, porém, a vida das pessoas era determinada pelos ensinamentos e pela ação da Igreja Católica Apostólica Romana.


Senhora de corações e mentes na Europa feudal, essa poderosa instituição marcou de maneira profunda a cultura da Idade Média, tanto do ponto de vista material quanto espiritual.

A Igreja era a mais importante instituição do mundo feudal. Os membros mais elevados de sua hierarquia – bispos e abades – eram recrutados entre os nobres. Naquela época, tinha-se o costume de destinar o segundo filho de uma família nobre à carreira eclesiástica, já que o primeiro filho herdava o feudo, segundo o direito de primogenitura.

Até mesmo o tempo era regulado pela religião: as pessoas marcavam o ritmo de suas vidas pelo toque do sino das igrejas. Completamente voltadas para as práticas religiosas, acreditavam que a vida na Terra era apenas um momento antes da eternidade, a ser vivida ao lado de Deus.

O monopólio da salvação

Colocando-se como a única intermediária entre o ser humano e Deus, a Igreja passou a deter o monopólio da salvação. Sua organização hierárquica, no topo da qual estava o papa, era extremamente centralizada e rígida. A serviço de Deus, os membros do clero cumpriam um rigoroso regime de obediência e disciplina.

Seu raio de ação, entretanto, não se limitava à vida espiritual. Na verdade, ao longo dos séculos, a Igreja tornou-se proprietária de grande patrimônio — possuía terras, vassalos, servos —, acumulado graças às doações feitas por aqueles que queriam, por seu intermédio, ser libertados da condenação divina.

Em meio a uma sociedade constituída de pessoas iletradas, a Igreja mantinha o controle absoluto do saber erudito. Detendo informações e conhecimentos importantes, garanti u que seu domínio se estendesse ao longo de séculos de maneira quase inabalável.

Morte aos hereges

Aqueles que questionavam as práticas instituídas pelos dogmas da Igreja eram considerados seus adversários. Em outras palavras, os que interpretavam os ensinamentos cristãos de maneira diferente daquela que a Igreja pregava passaram a ser chamados de hereges.

Com o intuito de manter-se soberana nos assuntos espirituais, a Igreja desencadeou uma guerra sem tréguas contra os hereges. Como forma de reprimi-los, criou a excomunhão e o Tribunal do Santo Ofício, mais conhecido como Inquisição.

A excomunhão era o ato pelo qual o fiel era impedido de receber os benefícios da salvação, concedidos por seu intermédio. Já a Inquisição, oficializada pelo papa em 1231,  julgava hereges e dissidentes. Aos que se recusavam a se retratar, punia de maneira implacável, podendo inclusive condenar  aqueles que eram considerados culpados .

Clero secular e clero regular

Desde o final da Antiguidade, a hierarquia do clero era constituída pelo papa e pelos arcebispos, bispos, abades e padres. Eles formavam o clero secular (do latim saeculum, mundo), expressão que designava os sacerdotes que desenvolviam atividades voltadas para o público.

Paralelamente, desenvolveu-se o clero regular, formado pelos religiosos que viviam em mosteiros (monges e abades), em regime de reclusão ou semirreclusão, isto é, afastados do mundo material.

O hábito de viver em mosteiros — chamado monasticismo — foi introduzido no Ocidente no século VI, quando São Bento (também chamado de São Benedito) fundou o mosteiro do Monte Cassino, na Península Itálica, dando origem à ordem (ou irmandade) dos beneditinos. A regra criada por São Bento para disciplinar a vida de seus monges, aprovada pelo papa, serviu de modelo para outras ordens surgidas posteriormente, como a dos franciscanos, a dos dominicanos etc. O modelo dos mosteiros masculinos, dirigidos por um abade, foi logo instituído para as mulheres.

Os mosteiros (ou monastérios) desempenharam importante papel na Europa medieval, cristianizando povos, cultivando terras, organizando e mantendo escolas e bibliotecas.

2. Religião, ensino e cultura

Durante a Alta Idade Média as pessoas que sabiam ler e escrever, em geral, pertenciam ao clero. Os poucos livros que sobreviveram ao período das invasões germânicas eram conservados nas escassas bibliotecas pertencentes à Igreja. Nelas, os monges copistas encarregavam-se de reproduzir os livros à mão. Dessa forma, os integrantes da Igreja eram os únicos capazes de lidar com o saber escrito e, portanto, com o ensino formal.
Escrevendo à mão, o trabalho dos monges copistas, 
foi fundamental para a preservação de textos antigos, 
num tempo em que a imprensa ainda não tinha sido inventada.


As universidades

A principal inovação medieval realizada pelos europeus no campo do ensino e do conhecimento foi a criação das universidades.

Até o século XI, o ensino na Europa estava a cargo das escolas dos mosteiros. Ali formaram-se os primeiros pensadores. Em 1088, foi fundada em Bolonha (Península Itálica) a primeira escola de ensino superior. Era uma escola laica (não religiosa) de Direito, que deu origem à Universidade de Bolonha (a primeira da Europa) alguns anos depois.
A seguir, surgiram, entre outras, as universidades de Paris (França, 1170), Oxford (Inglaterra, 1249), Coimbra (Portugal, 1308) etc.

Essas escolas de ensino superior eram centros de erudição cristã, dedicados às leis, à medicina, à lógica e à teologia. Uma de suas características básicas era a subordinação ao princípio da autonomia universitária, ou autogoverno universitário.

A disseminação desses estabelecimentos de ensino teve relação com o renascimento urbano e comercial que ocorreria a partir do século XI. Com isso, tornou-se necessário um número crescente de letrados para gerir os negócios, tanto públicos como privados.

Cristianismo e filosofia pagã

Devido à forte presença da Igreja, os primeiros pensadores medievais, chamados doutores da Igreja, voltaram-se para questões relativas aos dogmas e preceitos da fé, numa tentativa de dar forma à religião que se organizava. Inúmeros foram aqueles que estabeleceram os fundamentos da teologia católica, combinando por vezes aspectos da filosofia greco-romana com ensinamentos da religião cristã.

Entre os principais estudiosos que ajudaram a transformar a religião de Cristo em uma doutrina formal está Santo agostinho (354-430). Associando o cristianismo aos textos do filósofo grego Platão e de seus seguidores, Santo Agostinho construiu argumentações capazes de sustentar e explicar as verdades religiosas.
Santo Agostinho, segundo uma pintura
do século XVII.
No caminho aberto por ele, surgiu a Escolástica, sistema filosófico de vários pensadores cristãos medievais inspirados nos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Eles procuravam respostas para problemas filosóficos, tais como a relação entre a fé e a razão, o desejo e o intelecto, a prova da existência de Deus, entre outros. O método utilizado pelos escolásticos era a disputa intelectual, que consistia na apresentação de uma tese, seguida de uma discussão.

O principal nome da escolástica foi São Tomás de Aquino (1224-1274. Professor da Universidade de Paris e um dos mais importantes doutores da história da Igreja, ele reuniu o saber medieval na obra Suma teológica.

No final da Idade Média, houve algumas tentativas de mudar as orientações teóricas para além da teologia. Na obra de Roger Bacon (1214-1294), por exemplo, estão fortemente presentes preocupações científicas. Bacon era um monge franciscano inglês que se dedicou ao estudo dos autores árabes. Ele criticou alguns dos pensamentos aceitos na época, valorizou a matemática e desenvolveu experimentos na alquimia. Por tudo isso, e por recomendar a observação e a experimentação como meios indispensáveis para chegar ao conhecimento, ele foi condenado pela ordem franciscana a permanecer preso por catorze anos.

A arquitetura românica medieval

A arte medieval era também dominada pelos preceitos da religião. Na pintura e na escultura, os temas representados eram Deus, os anjos, os santos e, de modo geral, cenas que instruíssem os fiéis a respeito dos conhecimentos morais e espirituais da doutrina cristã.

Na arquitetura imperava a mesma concepção. As maiores construções medievais foram as igrejas, as quais, nos primeiros tempos, imitavam os modelos romanos.

A partir do século XI desenvolveu-se um estilo arquitetônico propriamente medieval, chamado românico. Os edifícios eram relativamente simples, embora de grandes proporções. Sua aparência sólida, com paredes grossas e poucas janelas, assemelhava-se à das fortalezas. Seus elementos característicos eram a coluna e o arco romano.

A partir do século XII, começou a afirmar-se no norte da França um novo estilo, batizado posteriormente com o nome de gótico. Introduzindo uma nova técnica de construção – o arco ogival –, o estilo gótico disseminou-se com a edificação de enormes catedrais, que passaram a simbolizar a riqueza das novas cidades.

Caracterizadas pelas torres altas e pontiagudas, pelas colunas graciosas e, claro, pelos arcos ogivais, as catedrais góticas são construções elegantes, ornamentadas com muitas estátuas e com belos vitrais coloridos, representando cenas da vida de Cristo, da Virgem Maria e dos santos.



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