terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O  ISLÃ


 Surge  uma  nova  religião

 Enquanto  na  Europa  ocidental, a sociedade se estruturava com base nos feudos, na Península Arábica ocorria um processo político-religioso que iria afetar não só o destino dos árabes, mas também o dos povos europeus.
Esse processo teve início com a criação da religião muçulmana (ou islã) pelo profeta Maomé. A nova crença ganhou rapidamente adeptos entre os povos árabes. Unificados política e religiosamente pelo islã, eles empreenderam um movimento expansionista cujo objetivo era converter os povos vizinhos.


A expansão árabe alterou radicalmente o mapa político da região do Mar Mediterrâneo. Desde essa época, a influência muçulmana não parou de crescer e hoje se faz sentir em cerca de um quinto da população mundial.



2. Os árabes do deserto
A Arábia é uma grande península localizada no Oriente Médio. A maior parte de seu território é constituída de desertos. Inúmeros oásis, porém, tornavam possível a vida dos beduínos, como eram chamadas as populações árabes que viviam no deserto.
Ao sul, na região fértil do atual Iêmen, e ao longo da costa ocidental da península, acompanhando o Mar Vermelho, ficavam as rotas percorridas pelas caravanas de comércio que iam até Bizâncio, a oeste, e rumavam para a Índia, no leste.
Como consequência da atividade dessas rotas de comércio, surgiram na península alguns centros urbanos, sendo os mais importantes Meca e Yatreb.

Meca, centro comercial e religioso
Situada num estreito vale em meio a uma região árida, Meca tornou-se importante centro de peregrinações religiosas dos beduínos. Em Meca ficava a Caaba, santuário que abrigava inúmeros ídolos, além da Pedra Negra — provavelmente um pedaço de meteorito —, considerada sagrada. Além desse, existiam outros locais na cidade considerados importantes para os cultos politeístas dos povos árabes antigos.

3. Maomé, o profeta
A vida dos árabes passou por uma completa transformação com o advento de uma nova religião. Seu fundador foi Maomé, nascido em Meca, provavelmente em 570. Órfão desde pequeno, Maomé foi adotado por um tio e se integrou às atividades comerciais da família. Duran te grande parte da vida, foi condutor de caravanas, o que lhe permitiu entrar em contato com outros povos e conhecer outras culturas e religiões.
Segundo a tradição, quando Maomé estava com cerca de 40 anos, começou a ter revelações. Em uma delas, o anjo Gabriel teria lhe dito: “Há um só Deus, Alá, e Maomé é seu profeta”. A partir dessas revelações, ele passou a pregar uma nova religião, o islã, que significa submissão a Deus. Seus principais fundamentos incorporavam crenças árabes tradicionais, judaicas e cristãs.
Após converter a própria família, Maomé passou a pregar o islã aos beduínos, em Meca. Os comerciantes da cidade, entretanto, receavam que o monoteísmo pregado pelo islã afastasse os peregrinos e prejudicasse seus negócios. Hostilizado e perseguido, Maomé fugiu de Meca, refugiando-se na cidade de Yatreb (hoje conhecida como Medina, isto é, cidade do profeta). O ano da fuga de Maomé (Hégira, em árabe), ocorrida em 622, é considerado o primeiro do calendário muçulmano.
Em Medina, Maomé continuou pregando a nova religião, transformando-se em líder religioso, mas também político. Conseguiu reunir muitos aliados entre os comerciantes e os beduínos convertidos e, em pouco tempo, o islamismo conquistou muitos seguidores, impondo-se por toda a Arábia por meio da pregação e da força.
Em 630, Maomé retornou vitorioso à cidade sagrada. Retirou da Caaba todas as imagens de deuses do culto politeísta, dedicando o templo unicamente à adoração de Alá.
Maomé faleceu pouco depois. Tinha então organizado um Estado teocrático e lançado os fundamentos ideológicos de um grande império. Foi sucedido por califas (palavra que significa “substituto”), tendo os quatro primeiros sido escolhidos entre os familiares do profeta, começando por um de seus sogros, Abu Beker.

4. Preceitos religiosos
A prática do islã se chama islamismo, e aos fiéis se dá o nome de muçulmanos, maometanos ou islamitas. Os ensinamentos de Maomé foram reunidos no Corão, o principal livro sagrado dos muçulmanos. Há também a Suna, texto sagrado que reúne tradições, isto é, atitudes adotadas em vida por Maomé que devem ser praticadas pelos fiéis.
O seguidor do islã deve submeter-se às seguintes práticas:
• afirmar publicamente que “só há um Deus, Alá, e Maomé é seu profeta”;
• orar cinco vezes por dia, voltado para Meca;
• praticar a caridade: quem tem muito deve dar a quem nada tem;
• jejuar no mês do ramadã (o nono mês do ano islâmico) todos os dias, do alvorecer até o começo da noite;
• peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida e orar na Caaba.

Entre os preceitos do islamismo está a ideia da jihad (guerra santa), ou seja, da propagação do islã pela força. Segundo Maomé, se um muçulmano morresse na luta pela expansão da religião, alcançaria o paraíso. Hoje, a interpretação da guerra santa é tema controverso entre os muçulmanos. O Corão, segundo alguns intérpretes, afirma não ser válida a conversão ao islamismo pela força.
Na verdade, o islã é mais do que uma religião, pois estabelece regras que orientam a vida de cada um e de toda a sociedade, mesmo quanto à organização política. Esse tipo de orientação faz com que, no islamismo, não se dissocie o poder do Estado do da religião.
No Corão (também chamado Alcorão) encontram-se recomendações que regem o funcionamento das instituições públicas e da vida privada. Entre os princípios registrados no livro sagrado estão normas para o trabalho, para o poder militar, para o casamento etc.

5. Uma expansão fulminante
Até sua morte, Maomé havia unificado os povos árabes sob uma mesma religião e regime político. O empenho com que os árabes se entregaram à tarefa de expandir o islã – cumprindo o preceito da guerra santa – traduziu-se na extraordinária rapidez de suas vitórias. Sucessivamente, caíram sob seu domínio as regiões conhecidas atualmente como Síria (636), Iraque (637), Egito (642) e Irã (651). Pouco depois, a conquista chegava até a Índia. Em 660, a capital do Império passou a ser Damasco e, no século seguinte, Bagdá, às margens do Rio Tigre.
Essa rápida expansão foi favorecida pelo esgotamento em que se encontravam os impérios Bizantino e Persa, que haviam guerreado longamente entre si. O descontentamento com a política de exploração e de perseguições religiosas, praticadas por bizantinos e persas, levou muitos povos a ver os árabes como libertadores. Além disso, os árabes adotavam uma atitude relativamente tolerante em relação aos povos dominados, os quais podiam manter a própria religião, devendo, porém, reconhecer a supremacia do islã e pagar certos impostos.
Do Egito, os muçulmanos avançaram pelo norte da África. Em 711, atravessaram o Estreito de Gibraltar e, aproveitando-se da fragmentação dos visigodos, conquistaram a Península Ibérica.
Convém esclarecer que os invasores da Península Ibérica não foram exatamente os árabes, mas os mouros. Esse era o nome dado ao povo berbere, do noroeste da África, convertido ao islamismo.
O avanço dos muçulmanos foi detido em 732 pelos francos, comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers. Apesar da derrota, os muçulmanos árabes assegurariam o controle do Mediterrâneo durante boa parte da Idade Média.
Nos séculos seguintes, o Império Islâmico sofreria numerosas divisões, embora a língua e a religião tenham sido fatores que preservaram a identidade cultural entre os povos árabes.

6. Xiitas e sunitas
Não muito tempo depois do surgimento do islã, os muçulmanos dividiram-se em três grandes seitas. As duas mais importantes, do ponto de vista político e religioso, são a xiita e a sunita. A seita dos xiitas surgiu após a morte de Ali Ibn Abu Talib, casado com Fátima, filha do profeta Maomé.
Seus adeptos não aceitavam como sucessor nenhum homem que não fosse da família de Maomé.
Por sua vez, os sunitas se originaram daqueles que apoiaram Moawiya Ibn Abi Sufi yan, que se tornou califa depois da morte de Ali. Desde então, eles constituem a maioria do mundo muçulmano – são hoje cerca de 80% dos adeptos do islamismo. Do ponto de vista religioso, os sunitas diferem dos xiitas – que não aceitam nenhuma fonte de ensinamento além do Corão –, pois dão grande importância aos ensinamentos contidos na Suna.
Existe uma terceira seita, a dos sufistas. São adeptos de um ideal místico e ascético, que preconiza o distanciamento do mundo material e das preocupações mundanas. Seus integrantes praticam a meditação e o isolamento e valorizam a prática de cânticos, música e dança.

6. Consequências da expansão
A expansão do islamismo trouxe significativas mudanças na vida europeia durante a Idade Média. O domínio árabe na Península Ibérica e o bloqueio do Mediterrâneo acentuaram a decadência do comércio e o processo de ruralização da economia na Europa, contribuindo para a consolidação do feudalismo.
Por intermédio dos árabes, foi introduzido na Europa o cultivo do arroz, da cana-de-açúcar, do algodão, da laranja, do limão, da alface e da amora.
No que diz respeito aos conhecimentos científicos, os árabes trouxeram importantes contribuições, especialmente no campo da álgebra, e introduziram os algarismos arábicos. De suas experiências com a alquimia, resultaram produtos como o ácido sulfúrico e o álcool, além do próprio estudo da química. Muitas obras de Aristóteles foram traduzidas para o árabe e divulgadas na Península Ibérica e na Europa, incorporando-se, mais tarde, à doutrina cristã graças a São Tomás de Aquino.



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