sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O  IMPÉRIO  ROMANO



De república a império
A crise das instituições republicanas e a polarização entre a aristocracia e a plebe favoreceram o surgimento de novos personagens na cena política: os líderes militares. Eram indivíduos que, além de terras e de vitórias contra os inimigos, conquistavam prestígio perante a população.

Contando cada vez mais com o apoio popular, esses líderes logo passaram a cobiçar o poder. Aos poucos, o Senado iria perder sua influência e o poder político se concentraria nas mãos de alguns dos chefes militares. 



Esse período ficou marcado como um momento de transição entre a república e o império. 
Após uma época turbulenta, pontuada por revoltas populares, guerras civis e assassinatos, teve início o Império Romano, com Otávio. 
Nesse período, Roma atingiria o apogeu e dominaria por vários séculos grande parte do mundo antigo.


2. Os irmãos Graco e a questão agrária
A concorrência dos produtos vindos das regiões conquistadas, que tinham preço mais baixo, e a produção dos latifúndios, com base no trabalho escravo, foram as principais razões que levaram os pequenos proprietários rurais a partir para a cidade. Praticamente expulsos da terra e sem meios para sobreviver, grande número de plebeus chegava a Roma, onde recebiam alimentos, estratégia adotada pelo governo para atenuar os conflitos sociais.
Na segunda metade do século II a.C., esse cenário tornava a questão agrária um problema premente e de difícil solução.
Em 133 a.C., o nobre Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe. Sensível à grave situação social, o novo tribuno propôs a Lei Agrária. Essa lei instituía que as terras incorporadas a Roma durante as conquistas fossem distribuídas entre a plebe. Tais terras haviam sido ocupadas ilegalmente pelos patrícios. A proposta causou revolta entre eles, e Tibério foi assassinado.
Dez anos depois, o projeto de reforma social seria retomado e ampliado por Caio Graco, irmão de Tibério, também eleito tribuno da plebe. Além da reforma agrária, Caio Graco propôs a extensão dos direitos políticos aos povos aliados da Península Itálica e reduziu o preço do trigo destinado à plebe romana.



Patrícios e senadores, determinados a não perder privilégios, opuseram-se violentamente às reformas e eliminaram Caio Graco e seus adeptos. Sem solução, os conflitos sociais iriam continuar por longo tempo, acirrando as disputas políticas na cidade.


3. A ascensão dos militares
Com as vitórias do exército, os chefes militares conquistaram prestígio e começaram a ganhar popularidade.
O primeiro a conseguir destaque foi Mário, que obteve projeção com a vitória sobre a Numídia, no norte da África, em 106 a.C. Eleito cônsul no ano seguinte, instituiu o pagamento de soldo aos soldados (antes, eles não recebiam pagamento regular), permitindo o ingresso de pessoas pobres no exército. Além disso, concedeu aos soldados o direito de participar dos espólios de guerra e de receber terras, após prestarem 25 anos de serviços militares.
Membro da classe equestre e líder do partido popular, Mário foi reeleito cônsul várias vezes. Suas medidas descontentaram os conservadores, liderados por Sila, outro chefe militar. Durante vários anos, os dois travaram diversos conflitos, alternando-se no poder. Em 82 a.C., após a morte de Mário, Sila, apoiado pelo Senado, impôs uma ditadura militar. Ele permaneceu no poder até 78 a.C.

César, Crasso e Pompeu
Após o governo de Sila, alguns dos territórios conquistados foram ameaçados por revoltas, exigindo grandes campanhas militares. Isso fez com que alguns generais se destacassem e disputassem o poder. Dois dos mais influentes foram Crasso e Pompeu.
O primeiro foi responsável pela vitória contra Espártaco, líder da maior revolta de escravos do mundo antigo. O segundo debelou uma rebelião popular comandada por Sertório, na Península Ibérica, entre 78 e 72 a.C.
Ao mesmo tempo, um sobrinho de Mário surgia como outro líder de prestígio, ligado ao partido popular. Seu nome: Júlio César.
Em 60 a.C., eleitos senadores, Crasso, Pompeu e Júlio César se uniram para formar um governo que seria denominado Primeiro Triunvirato.



César, com o intuito de aumentar sua popularidade, partiu para a Gália (atual França), onde ampliou e consolidou a conquista romana, derrotando o exército gaulês.

Com a morte de Crasso logo depois, César e Pompeu começaram a disputar o poder. Em meio à crise, o Senado elegeu Pompeu cônsul, outorgando-lhe plenos poderes, e ordenou a Júlio César que desmobilizasse seus exércitos. Recusando-se a acatar as ordens, César marchou sobre Roma em 49 a.C. Pompeu e seus aliados fugiram para o Oriente. César os perseguiu e derrotou-os na Grécia.
Em seguida, conquistou o Egito, que foi transformado em protetorado romano.

Júlio César torna-se ditador
Retornando a Roma em triunfo, César foi proclamado ditador perpétuo. No governo, promoveu a construção de obras públicas, reorganizou as finanças, distribuiu terras e fundou colônias.
Com a intenção de unificar o mundo romano, estendeu o direito de participação política aos habitantes das províncias conquistadas. Com o apoio da plebe urbana e do exército, Júlio César concentrava todo o poder em suas mãos. As medidas tomadas por ele caracterizavam-no como um verdadeiro monarca, o que era considerado pelos defensores da república como suprema traição.
Sua trajetória foi interrompida por uma conspiração de senadores que o assassinaram no Senado, em 15 de março de 44 a.C.

O Segundo Triunvirato
Com a morte de César, a disputa pelo poder ficou polarizada entre dois de seus herdeiros políticos: Marco Antônio, general de grande popularidade, e o jovem Otávio, sobrinho e filho adotivo de César. Após vários conflitos, os dois se reconciliaram e se uniram a Lépido, banqueiro romano, para formar o Segundo Triunvirato, que governou durante cinco anos.


Os três dividiram os domínios romanos entre si e trataram de eliminar todos os que haviam conspirado contra César.

Pouco depois, Lépido foi afastado por Otávio. Em 31 a.C., Otávio voltou-se contra Marco Antônio, vencendo- o na Batalha Naval de Ácio, na Grécia. Em seguida, conquistou o Egito e retornou a Roma, onde recebeu sucessivamente do Senado os títulos de primeiro cidadã
Senhor absoluto do poder, Otávio – ou Augusto, como passou a ser chamado – tornou-se o primeiro imperador de Roma.

4. O Império
Otávio Augusto governou Roma até a sua morte, aos 76 anos, em 14 d.C. Nesse período, acumulou os poderes civil, religioso e militar, com direito de interferir até mesmo no Senado. Ao morrer, foi considerado um deus entre os deuses romanos.

O estudo do Império Romano é, em geral, subdividido em dois períodos:
Alto Império (27 a.C.-235). Nas fases inicial (Otávio Augusto) e intermediária, contou com certa estabilidade nas instituições e relativa paz entre as províncias.
Baixo Império (235-476). Período agitado por lutas pelo poder. Somadas à crise de âmbito social e econômico, essas disputas abririam caminho para a desintegração de grande parte do Império.

Alto Império
Após a morte de Otávio Augusto, Roma foi governada por quatro dinastias de imperadores:
Júlio-Claudiana (14-68) – Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Cláudio, que aperfeiçoou a administração do Império, fez talvez o melhor governo da dinastia. Governando de modo despótico, Tibério, Calígula e Nero foram responsáveis por períodos de grande instabilidade política.
Flávios (69-96) – Vespasiano, Tito e Domiciano. Governos relativamente tranquilos em que se verificou um reequilíbrio da economia e das instituições.
Antoninos (96-192) – Nerva, Trajano, Adriano, Antonino Pio,
Marco Aurélio e Cômodo. Sob essa dinastia, Roma conheceu grande prosperidade. Trajano aumentou os domínios do Império durante seu governo. Marco Aurélio promoveu um verdadeiro reflorescimento cultural.
Severos (193-235) – Septímio Severo, Caracala e Severo Alexandre.
Foi durante essa dinastia que teve início a decadência do Império, com a perda do controle econômico sobre as populações, além das crises ocasionadas pelas pressões dos povos inimigos nas fronteiras.

Baixo Império
Em 235, iniciou-se um longo processo que se estenderia pelos dois séculos seguintes e culminaria com a desagregação de grande parte do Império Romano. As principais características desse processo foram:
• crises políticas, já que não havia um critério definido de sucessão para o trono. Muitas vezes, a sucessão era marcada por guerras entre os generais mais poderosos;
• colapso do sistema escravista, causado pelo fim das guerras de conquista a partir do governo de Adriano (117-138). Com o término das conquistas, perdeu-se a principal fonte de mão de obra – os prisioneiros escravizados;


Escravos romanos servindo jarras de vinho
• problemas econômicos: para pagar suas despesas, o governo era obrigado a aumentar os impostos e a emitir dinheiro, gerando inflação e descontentamento;
• dificuldades para proteger e manter as inúmeras fronteiras do Império. Sem dinheiro para pagar os soldados, extensas áreas ficaram desprotegidas, o que facilitou a invasão de povos inimigos, sobretudo os de origem germânica;
• difusão do cristianismo, que pregava valores contrários à manutenção do trabalho escravo e à divinização dos imperadores.

Esses aspectos provocaram o enfraquecimento do comércio e da produção em todo o Império.
Aos poucos, a população abandonaria as cidades para se abrigar no campo, onde encontraria maior proteção contra a invasão de povos inimigos, chamados “bárbaros” pelos romanos.

Reformas para salvar o Império
Ao longo do Baixo Império, alguns imperadores tentaram introduzir reformas para superar a crise.
Diocleciano (284-305) promoveu uma reforma monetária e instituiu um sistema político de quatro governantes, a tetrarquia. Por esse sistema, o Império foi dividido em duas partes: uma ocidental e outra oriental. Cada parte passaria a ser governada por um imperador, chamado Augusto, auxiliado por um César. Após vinte anos, os Césares deveriam assumir o poder e nomear outros Césares.


Tetrarquia romana


Com isso, Diocleciano pretendia evitar as disputas por ocasião da sucessão e facilitar a defesa dos territórios. Mas a tetrarquia foi abandonada por seus sucessores e as guerras de disputa pelo poder voltaram a agitar o Império.
Constantino (306-337) restabeleceu o poder centralizado e também efetuou reformas. Entre elas destaca-se a legalização do cristianismo pelo Edito de Milão, em 313. Após promover a reunificação do Império, transferiu a capital de Roma para Bizâncio, situada mais ao oriente, que passou a ser chamada Constantinopla.
Mais tarde, Teodósio, que governou de 378 a 395, promoveu ainda outras medidas para contornar a crise. Em 391, instituiu o cristianismo como religião ofi cial do Império. No âmbito administrativo, realizou, em 395, a divisão do Império em duas partes, uma no Ocidente, com capital em Roma, e outra no Oriente, sediada em Constantinopla.

5. A fragmentação do Império


As duas partes do Império conheceriam destinos históricos diferentes.

No Ocidente, o poder central mostrava-se impotente para conter as sucessivas invasões das fronteiras por outros povos, que passaram a controlar extensas regiões do Império ocidental. 

Entre os séculos IV e V, a situação se agravaria com a chegada dos hunos à Europa. Temido por sua habilidade na guerra, esse povo, vindo da região central da Ásia, provocava pânico entre os germânicos, que invadiam o Império para fugir de seus ataques.
Em 476, após inúmeras invasões e acordos dos germânicos com o Império Romano do Ocidente, Odoacro, rei dos hérulos, destronou Rômulo Augústulo, último imperador romano. Com esse ato, desintegrava-se o Império Romano do Ocidente, em cujo território surgiriam diversos reinos germânicos.

Enquanto isso, o Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino), ainda que também enfrentando muitas invasões, conseguiria manter-se por quase mil anos, até 1453, quando seria conquistado pelos turcos.

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