quinta-feira, 16 de novembro de 2017

LUTERO E A REFORMA PROTESTANTE


No  dia 31 de outubro de 1517, Lutero divulgou as 95 Teses, afixando o documento na porta da igreja do Castelo de Wittenberg. A data foi escolhida por ser a véspera do Dia de Todos os Santos, dia em que um grande número de fiéis compareceria à igreja. Com isso, Lutero pretendia abrir um debate, que era como se fazia na época. Mas os acontecimentos tomaram um rumo bem diferente. E acabou sendo o início de um dos fatos mais importantes da história do Ocidente: a Reforma Protestante.

Martinho Lutero, nascido em 1483, era alemão. Seu pai fez um grande esforço para o filho conseguir ingressar na universidade para estudar Direito. Era sua intenção tornar-se advogado, mas seus planos, entretanto, sofreram uma brusca mudança em 1905, quando Lutero se viu ameaçado por uma tempestade de raios. Apavorado, ele fez a promessa de tornar-se monge caso sobrevivesse. Promessa feita, promessa cumprida. Naquele mesmo ano, ingressou na ordem dos Agostinianos.

Foi ordenado sacerdote dois anos depois. Após a ordenação, viajou para Roma, a cidade do papa, realizando o sonho de todo católico. Lutero, porém, voltou bastante decepcionado com o que viu. Ficou chocado principalmente com a vida desregrada dos padres e com a venda de objetos sagrados. Mas também se deu conta de que, mesmo na Alemanha, havia sacerdotes que se afastavam do padrão ideal de uma vida cristã.

Em 1512, aos 25 anos, Lutero obteve o título de doutor em Teologia. Ele se tornou professor na universidade e pregador na paróquia local. Mas não estava satisfeito. Ele se sentia angustiado com a ideia do pecado. Ele próprio se sentia pecador, por mais que quisesse ser um padre virtuoso. Não o satisfazia o ensinamento da Igreja de que a salvação espiritual pudesse se dar através da fé e de boas ações. Ele encontrou a resposta para sua crise de consciência no princípio bíblico "o justo viverá da fé". Daí ele concluiu que a salvação não viria das obras, como ensinava a Igreja, mas era um benefício que Deus concedia graciosamente aos justos.

Foi nessa altura de sua vida que apareceu o monge Tetzel vendendo indulgências, fato que provou a ira de Lutero.


Surge o luteranismo
Lutero era, pois, sacerdote católico e doutor em Teologia. Era um homem inteligente, estudioso, além de ser um religioso devoto. Em 1517, aos 34 anos de idade, ele estava lecionando na universidade de Wittenberg. Justamente nessa data, apareceu na cidade um monge vendendo indulgências, um documento que prometia o perdão dos pecados. Em tempos anteriores, as indulgências eram concedidas graciosamente a quem prestasse serviços importantes para a fé cristã. Mas agora estavam sendo vendidas com a aprovação do papa. Tetzel, que era um bom vendedor, dizia que quem comprava as indulgências estava adquirindo um “passaporte para o céu”, sem passar pelos sofrimentos do purgatório. Com a venda de indulgências, o papa pretendia arrecadar dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, em Roma.

Lutero decidiu, então, que era hora de criticar as indulgências e outros erros que ele encontrava no catolicismo. Reuniu suas críticas num documento e numerou os parágrafos de 1 a 95. Esse documento ficou conhecido pelo nome de “95 Teses”.

A Igreja bem que tentou fazer Lutero voltar atrás em suas críticas, mas não teve sucesso. Quanto mais Lutero discutia suas teses, mais aumentavam suas divergências com a Igreja. Ao mesmo tempo, suas ideias se espalhavam, graças à imprensa que havia sido inventada poucas décadas. E cada vez mais Lutero recebia manifestações de apoio. Finalmente, a paciência do papa se esgotou e em 1521 ele foi excomungado. Mas Lutero sentiu-se forte o bastante para enfrentar a Igreja e respondeu queimando em público a bula da excomunhão. Com isso, rompia de vez com o catolicismo.

As ideias de Lutero rapidamente começaram a ser discutidas em outras partes da Europa, e logo se percebeu que havia milhares de cristãos que concordavam com elas. Sem poder continuar na Igreja católica, Lutero acabou fundando uma nova Igreja.

Por que Lutero teve sucesso?
Lutero viveu num período de grandes transformações na Europa. Era o tempo das Grandes Navegações e das descobertas marítimas. Era o tempo de Leonardo da Vinci, o conhecido gênio das ciências e das artes (falecido em 1519, dois anos após a revolta de Lutero). O surgimento da imprensa, que havia multiplicado a tiragem de cópias dos livros, que até então era feita à mão.
Naquele tempo, a Igreja Católica era uma instituição muito poderosa. Era a única igreja na Europa e ninguém podia viver fora dela, nem encontrar a salvação senão através dela. Era dona de um terço de todas as terras da Europa, além de possuir um grande número de mosteiros, catedrais e obras de arte. O papa tinha poderes não apenas religiosos, mas também políticos, sendo, na época, a maior autoridade no continente, maior até do que os reis.

É claro que a Igreja fazia o bem: mantinha escolas, dava assistência religiosa e ajudava os mais pobres, por exemplo. Mas os abusos cometidos eram numerosos. Era comum a venda de objetos sagrados, tais como relíquias e as indulgências. Muitos padres eram casados. O caso do papa Alexandre VI, falecido em 1503, é ilustrativo: ele era pai de vários filhos, alguns deles nascidos depois de se tornar papa!

Claro que essa situação causava muito descontentamento e recebia muitas críticas. Lutero não foi o primeiro a criticar os abusos da Igreja; mas foi o primeiro a ser bem-sucedido. 

Diferentemente de outros, Lutero contou com o apoio de um número expressivo de fiéis que pensavam como ele. Foi ajudado pela imprensa, que permitiu multiplicar seus escritos. E, ainda, recebeu o apoio de um príncipe alemão, que lhe deu proteção quando ele foi perseguido. E isso fez uma grande diferença.

Uma nova Igreja cristã
Na formulação de suas doutrinas, Lutero foi ajudado por Felipe Melanchton, um de seus principais seguidores. Eis alguns pontos da nova religião de Lutero:

1.    O sacerdócio universal, segundo a qual qualquer pessoa pode interpretar a Bíblia e ser “sacerdote de si mesma”. Para facilitar essa nova prática, o próprio Lutero traduziu a Bíblia para o alemão. O sacerdócio universal significava que o cristão podia alcançar a salvação sem necessidade de um padre para intermediar a relação entre ele próprio e Deus.
2.    Salvação apenas pela fé. Lutero rejeitou a crença católica da salvação pelas obras, especialmente as “falsas boas obras”, pagas com dinheiro.
3.    Abolição do celibato. Na religião de Lutero, os sacerdotes poderiam casar-se. O próprio Lutero se casou e teve seis filhos.
4.    Eliminação dos sacramentos. Dos sete existentes do catolicismo, Lutero manteve apenas dois: o batismo e a eucaristia.
5.    Substituição do latim pela língua alemã nas cerimônias religiosas.
6.    Rejeição da hierarquia do clero católico (padre, bispo, arcebispo, cardeal e papa).
7.    Adoção da Bíblia como única fonte de autoridade infalível.

Lutero ensinou que a Igreja não devia ter poder político, mas cuidar apenas das coisas da religião. Ensinou também que os clérigos deviam estar submetidos às decisões dos governantes. Essas ideias agradaram aos príncipes alemães. É que, ao se verem livres da autoridade da Igreja Católica, os príncipes poderiam aumentar seu próprio poder. Além disso, também estavam interessados em se apropriar dos bens da Igreja que existiam em seus territórios.

Ao ensinar que qualquer um pode ser “sacerdote de si mesmo”, por meio da leitura da Bíblia, e ao traduzir Bíblia para o alemão, Lutero contribuiu poderosamente para estimular a leitura. E, consequentemente, a alfabetização, num tempo em que o analfabetismo era generalizado. Nesse aspecto, os países luteranos levaram uma grande vantagem sobre os países católicos.

A reforma luterana logo se espalhou pela Europa, dando origem a muitas outras religiões cristãs e até obrigou a própria Igreja a se reformar. 

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