terça-feira, 26 de dezembro de 2017

BUDISMO,
 Como  libertar  o  homem  de  todo  sofrimento?


O austríaco  Ernest H. Gombrich (1909-2001) foi um dos mais célebres historiadores da arte no século XX. No texto abaixo, ele apresenta um pouco das reflexões de Buda, que abandonou sua confortável vida de príncipe e, por muitos anos, viveu errante, angustiado pelas dúvidas que o atormentavam e diziam respeito ao sofrimento. Até que um dia a resposta lhe foi revelada...

“Sua revelação poderia ser resumida assim: se quisermos escapar da dor, devemos começar por escapar a nós mesmos. Pois de onde vem a dor? Do desejo, ou seja, do fato de desejarmos possuir. Vou dar um exemplo. Quando você fica triste porque não lhe deram o livro ou o tênis que queria, você tem duas possibilidades: ou tenta conseguir o que quer, ou renuncia ao seu desejo. Se de alguma maneira você consegue não desejar mais nada, já não vai sentir nenhuma tristeza. Foi isso que se revelou a Buda. De fato, ele achava que, deixando de desejar todos os tipos de coisas bonitas e agradáveis, deixando de querer felicidade, bem-estar, gratidão, afeição, nós ficaríamos menos tristes no dia em que fôssemos privados disso.

Quem não desejasse mais nada, nunca mais ficaria triste. [...]


Em outras palavras, seria possível o homem se tornar senhor de seus desejos, como o cornaca [treinador de elefante] domina seu elefante depois de muito treinamento. Então o homem chegaria, aqui na Terra, a um ‘mar interior’ que nada viria perturbar, chegaria a um estado de beatitude e de paz em que não haveria mais nenhum desejo. Teria a mesma bondade para com todos os homens e não esperaria nada de ninguém. Buda também ensinou que aquele que conseguisse dominar todos os seus desejos não voltaria à Terra depois da morte. Só se reencarnariam as almas que se apegassem à vida. Quem deixa de ter apego à vida já não procura, depois da morte, voltar ao ‘ciclo dos nascimentos e mortes’. Funde-se no nada, em  que todo desejo e todo sofrimento desapareceram, Naquilo que os indianos chamam de ‘nirvana’. “
CIVILIZAÇÕES  DA  ÍNDIA


 Origem  da  civilização  indiana
 A passagem do nomadismo para a vida sedentária, com o início do cultivo de plantas, ocorreu no Vale do Rio Indo entre 8000 e 7000 a.C., e também nas áreas banhadas pelo Rio Ganges, cerca de um milênio mais tarde. Com esses rios, alimentados pelas águas que escorriam do degelo das montanhas do Himalaia, acontecia algo parecido com o que ocorria no Nilo e nos rios da Mesopotâmia: nas épocas de cheia, eles transbordavam, espalhando elementos fertilizantes sobre as terras próximas.
Os agricultores aprenderam a tirar o máximo proveito dessas terras férteis. A abertura de canais de irrigação e o uso do arado permitiam a obtenção de fartas colheitas. Descobertas arqueológicas revelaram que eram cultivados trigo, cevada, arroz, algodão, gergelim, pepino, mostarda e outras espécies.
Essa abundância de alimentos atraiu invasores seminômades.
Um desses invasores, chegado por volta de 2000 a.C., acabou por se tornar dominante no Vale do Indo. Falavam um idioma pertencente ao grupo linguístico indo-europeu, ao qual também pertencem o grego, o latim e o alemão. Chamavam a si mesmos de arias, ou seja, “nobres”, segundo a língua falada por eles.
Vamos chamá-los de arianos.
A população dos arianos continuou a crescer e, a partir do ano 1000 a.C., aproximadamente, passou a contar com armas e ferramentas de ferro. Fortalecidos, eles avançaram para o leste, ocuparam o Vale do Rio Ganges, e para o sul, ocupando também territórios da Índia central. Durante esse tempo, com base em técnicas aprendidas com os harappeanos, tornaram-se agricultores e assumiram um estilo de vida sedentário. Fundaram cidades e organizaram os primeiros reinos, colocando nos tronos seus chefes tribais.
Taj Mahal, mais importante monumento arquitetônico da Índia.
Foi construído entre 1632 e 1653.

Essas mudanças sociais também envolveram a língua e a religião. A língua falada pelos arianos era o sânscrito. Essa palavra significa “língua perfeita”, “refinada”. Mais tarde, se transformou no sânscrito clássico, a língua da literatura, da religião e da ciência da Índia. Da mesma raiz, saíram outros idiomas, inclusive o híndi, que hoje é uma das duas línguas oficiais da Índia (a outra é o inglês).

2. O hinduísmo
No campo religioso, a novidade foi o surgimento do hinduísmo. Com uma história de mais de quatro mil anos, o hinduísmo é considerada uma das religiões mais antigas do mundo. Ele não teve um fundador. Seu surgimento resultou da história dos povos que viveram no território indiano e é mais do que uma religião, pois influencia toda a estrutura social, desde os atos comuns da vida cotidiana das pessoas até a literatura e a arte.
O hinduísmo não tem uma organização centralizada, além de incluir concepções e práticas religiosas às vezes muito diferentes entre si. É a única, entre as grandes religiões, com características politeístas. Seus seguidores fora da Índia são poucos, mas ainda assim é a terceira religião com maior número de adeptos no planeta, em virtude da enorme população da Índia atual.

Vedas , os livros sagrados
A fonte escrita mais antiga para o conhecimento do hinduísmo são os Vedas, nome de um grande conjunto de quatro livros sagrados, dos quais o primeiro é o Rig Veda. Em sânscrito, veda significa conhecimento (conhecimento sagrado). Esses livros contêm hinos, histórias, cantos rituais, fórmulas sagradas, entre outros temas, para acompanhar os rituais religiosos. Compostos entre 1500 e 800 a.C., durante muito tempo foram mantidos apenas na memória: eram transmitidos oralmente pelos mais velhos aos mais jovens. Somente no século VI a.C., provavelmente, tomaram a forma escrita, redigidos em sânscrito.

Deuses, sacrifícios e oferendas
Com a chegada dos arianos, a religião védica se impôs aos cultos locais. Outros deuses passaram a ser cultuados, em geral identificados com os astros e com as forças da natureza, tais como Surya (o Sol), Rudras (a tempestade) e Indra (a chuva). Uma divindade muito importante foi Agni, o fogo do altar, venerado como deus do lar e do sacrifício; a ele eram pedidas prosperidade e fecundidade. Ainda hoje ele é invocado em muitas cerimônias.
Tudo o que era ofertado aos deuses era lançado ao fogo, pois, segundo os Vedas, Agni colocava os humanos em comunicação com o mundo divino. As oferendas eram constituídas de alimentos, tais como leite, manteiga e mel. Uma oferenda muito frequente era o suco extraído de uma planta, o soma. Era oferecido aos deuses e também consumido pelos sacerdotes.
Acredita-se que tivesse efeito alucinógeno. Fazia-se também o sacrifício de animais, prática comum entre as religiões da Antiguidade.
Os nobres chegavam a levar animais grandes para o sacrifício, como o cavalo, que custava muito caro.

O domínio dos brâmanes
Com o tempo e as mudanças na sociedade, a simplicidade inicial do hinduísmo védico deu lugar a crenças religiosas mais complexas. Outras divindades ganharam importância e foram incorporadas novas meditações filosóficas. Com essas mudanças, o hinduísmo entrou numa nova fase, que é chamada bramanismo.
Esse nome vem de brâmanes, como eram conhecidos os sacerdotes. Eles haviam adquirido grande prestígio por serem os conhecedores dos Vedas, que tinham obrigação de guardar na memória e de transmitir ao filho. Eram eles que tinham o conhecimento das fórmulas mágicas sem as quais os rituais sagrados não podiam ser feitos.
Os sacerdotes brâmanes estabeleceram Brama como deus principal, descrito como uma energia neutra que criou o Universo. Ele era entendido como a personificação de Brahman (não confundir com Brama), uma divindade única e suprema, um espírito que permeia tudo. Brahman não é um ser no sentido do Deus cristão; ele é inteiramente impessoal e impossível de ser descrito. Além de Brama, outros dois deuses que ganharam importância foram Shiva e Vichnu. Shiva era visto como aquele que destrói a ordem estabelecida, enquanto Vichnu era o que restaura e mantém a nova ordem criada. Segundo a crença hinduísta, sem destruição não pode haver o recomeço. Além da trindade Brama-Shiva-Vichnu, há muitas outras divindades.

A ideia da Reencarnação
O hinduísmo incorporou uma ideia que se tornou fundamental nas crenças religiosas da Índia. Trata-se da ideia da reencarnação, segundo a qual cada indivíduo tem uma alma, que não morre junto com o corpo, mas está fadada a passar por sucessivas encarnações. O objetivo é que pessoa, por meio de uma vida virtuosa, alcance a libertação e se livre do ciclo de nascimentos e mortes, tornando-se finalmente parte do deus impessoal do Universo.

3. O sistema de castas
Um aspecto que chama a atenção na civilização indiana é seu sistema de castas. Desde que os arianos se tornaram os senhores da Índia, a sociedade indiana foi-se dividindo em grandes grupos, chamados castas. Com a ascensão dos sacerdotes brâmanes, o sistema de castas se consolidou. Das quatro castas então existentes, a mais alta era justamente a dos brâmanes e seus familiares.
A seguir, vinham os xátrias, que eram os nobres (líderes militares e aristocratas), incluindo os monarcas e suas famílias. A casta seguinte na hierarquia era a dos vaixás, os comerciantes. A casta mais humilde era a dos sudras, que incluía os trabalhadores braçais.
Na posição social mais inferior, ficavam os párias. Eram assim chamados os indivíduos que não pertenciam a nenhuma casta. Nesse grupo estavam incluídos todos aqueles que faziam tarefas consideradas indignas de serem executadas pelos membros das castas. Quem pertencia a alguma casta, mesmo a mais inferior, evitava entrar em contato com os párias, considerados impuros e, por isso, chamados de “intocáveis”.
A pessoa não podia passar de uma casta para outra. Pessoas de castas diferentes não podiam se casar. Assim, as famílias de uma casta não se misturavam com as de outra.
Essa divisão da sociedade em castas era justificada pela própria religião. Acreditava-se que as castas nada mais eram do que partes diferenciadas de um corpo divino. Assim, os brâmanes teriam nascido da cabeça de Brama e os xátrias, dos braços. Eram, pois, as castas consideradas nobres. Das pernas saíram os vaixás e dos pés, os sudras. Os párias não tinham ligação com Brama. Não podiam entrar nos templos nem ler os textos sagrados, nem podiam banhar-se no Rio Ganges, cujas águas eram consideradas sagradas e capazes de purificar as pessoas.

Novas ideias desafiam o bramanismo
Entretanto, nem todos estavam de acordo com o hinduísmo bramânico. A ideia de que o conhecimento dos Vedas fosse indispensável para a prática religiosa (como queriam os sacerdotes brâmanes), a natureza mecânica da religião, a formalidade dos rituais, o regime de castas e o  sacrifício de animais eram motivos de discordância.
Ideias como essas deram origem a alguns movimentos religiosos e filosóficos. Um movimento que ganhou grande repercussão foi o budismo. Seu fundador, Sidarta Gautama (c. 563 a.C.-483 a.C.), não deixou nada escrito e quase tudo o que se sabe a respeito de sua vida e de sua doutrina religiosa se baseia nos registros dos seguidores desse movimento.
De acordo com eles, Gautama era um príncipe e tinha sido educado para um dia se tornar rei, mas, insatisfeito, decidiu mudar radicalmente sua vida. Um pouco antes de completar 30 anos, Gautama deixou para trás sua família e seus palácios. Por vários anos levou uma vida errante, entregando-se a longos períodos de jejum e meditação. Buscava respostas para as dúvidas que o atormentavam e que diziam respeito ao sofrimento causado pela dor, pela velhice e pela morte.
Muitos anos depois, quando se achava debaixo de uma figueira, ele julgou ter finalmente encontrado as respostas que procurava. E experimentou uma sensação de plena felicidade, à qual denominou nirvana.
Segundo os budistas, foi então que Sidarta tornou--se Buda, que em sânscrito significa o despertado ou o iluminado. Desde aquele momento, e até sua morte (aos 80 anos, segundo a tradição budista), Buda percorreu o norte da Índia pregando as verdades que havia descoberto e fazendo discípulos (responsáveis pelo registro dos ensinamentos de Buda).
O budismo teve grande aceitação e, por vários séculos, foi a crença religiosa dominante na Índia. Porém, no início, não foi percebido como uma nova religião, mas como uma nova visão religiosa dentro do hinduísmo.

Os ensinamentos de Buda
Sua pregação era bem diferente do que ensinava o hinduísmo bramânico. Buda falava em misericórdia, igualdade entre os homens, não violência (não fazer mal a nenhuma criatura) e na crença de que a felicidade depende do esforço de cada um e não dos deuses.
Ele dizia que, para se libertar do sofrimento e alcançar o nirvana, era preciso seguir a doutrina das “quatro nobres verdades”:
1) o sofrimento faz parte da existência;
2) o sofrimento nasce do desejo sempre impossível de ser satisfeito;
3) para eliminar o sofrimento é preciso suprimir o desejo;
4) o caminho que leva à superação do sofrimento é o caminho do meio, da moderação, evitando--se, de um lado, a vida de sacrifícios excessivos e, de outro, a vida dos prazeres.

4. A Índia sob domínio muçulmano
No século VIII, chegou à Índia uma nova religião: o islamismo. Foi nessa época que o Vale do Indo começou a ser ocupado por guerreiros muçulmanos. Eles vinham de regiões fronteiriças, como a que hoje corresponde ao Afeganistão. Ao mesmo tempo em que o território era conquistado, missionários e comerciantes iam levando a nova fé para diversas partes da Península Indiana.
No século XII, a importante cidade de Délhi foi tomada por muçulmanos, que passaram a governar todo o norte da península. Aos poucos, o domínio islâmico foi avançando em direção ao sul e, no século XVI, a maior parte do território indiano já era governada por muçulmanos.
Muitos indianos se converteram ao islamismo. Quase todos os convertidos pertenciam às castas mais baixas. Para eles, fazer parte do islã era pertencer a uma comunidade na qual não havia castas. Mesmo assim, ainda hoje os muçulmanos representam pouco mais de 10% da população da Índia.

5. Chegam os europeus
No fim do século XV, os europeus também começaram a chegar à Índia, inaugurando a ligação por mar entre a Europa e o Oriente. Depois de vencer a resistência dos muçulmanos, os navegantes portugueses, chefiados por Vasco da Gama, conseguiram ter acesso à cidade indiana de Calicute, em 1498. Os portugueses estavam interessados em explorar o importante comércio das especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada etc.) e outros produtos de luxo.
Depois dos portugueses, chegaram holandeses, franceses e ingleses. Na disputa pelo domínio do comércio indiano, os ingleses acabaram prevalecendo. A Índia permaneceu sob o controle inglês até sua independência, em 1947.


O  ISLÃ


 Surge  uma  nova  religião

 Enquanto  na  Europa  ocidental, a sociedade se estruturava com base nos feudos, na Península Arábica ocorria um processo político-religioso que iria afetar não só o destino dos árabes, mas também o dos povos europeus.
Esse processo teve início com a criação da religião muçulmana (ou islã) pelo profeta Maomé. A nova crença ganhou rapidamente adeptos entre os povos árabes. Unificados política e religiosamente pelo islã, eles empreenderam um movimento expansionista cujo objetivo era converter os povos vizinhos.


A expansão árabe alterou radicalmente o mapa político da região do Mar Mediterrâneo. Desde essa época, a influência muçulmana não parou de crescer e hoje se faz sentir em cerca de um quinto da população mundial.



2. Os árabes do deserto
A Arábia é uma grande península localizada no Oriente Médio. A maior parte de seu território é constituída de desertos. Inúmeros oásis, porém, tornavam possível a vida dos beduínos, como eram chamadas as populações árabes que viviam no deserto.
Ao sul, na região fértil do atual Iêmen, e ao longo da costa ocidental da península, acompanhando o Mar Vermelho, ficavam as rotas percorridas pelas caravanas de comércio que iam até Bizâncio, a oeste, e rumavam para a Índia, no leste.
Como consequência da atividade dessas rotas de comércio, surgiram na península alguns centros urbanos, sendo os mais importantes Meca e Yatreb.

Meca, centro comercial e religioso
Situada num estreito vale em meio a uma região árida, Meca tornou-se importante centro de peregrinações religiosas dos beduínos. Em Meca ficava a Caaba, santuário que abrigava inúmeros ídolos, além da Pedra Negra — provavelmente um pedaço de meteorito —, considerada sagrada. Além desse, existiam outros locais na cidade considerados importantes para os cultos politeístas dos povos árabes antigos.

3. Maomé, o profeta
A vida dos árabes passou por uma completa transformação com o advento de uma nova religião. Seu fundador foi Maomé, nascido em Meca, provavelmente em 570. Órfão desde pequeno, Maomé foi adotado por um tio e se integrou às atividades comerciais da família. Duran te grande parte da vida, foi condutor de caravanas, o que lhe permitiu entrar em contato com outros povos e conhecer outras culturas e religiões.
Segundo a tradição, quando Maomé estava com cerca de 40 anos, começou a ter revelações. Em uma delas, o anjo Gabriel teria lhe dito: “Há um só Deus, Alá, e Maomé é seu profeta”. A partir dessas revelações, ele passou a pregar uma nova religião, o islã, que significa submissão a Deus. Seus principais fundamentos incorporavam crenças árabes tradicionais, judaicas e cristãs.
Após converter a própria família, Maomé passou a pregar o islã aos beduínos, em Meca. Os comerciantes da cidade, entretanto, receavam que o monoteísmo pregado pelo islã afastasse os peregrinos e prejudicasse seus negócios. Hostilizado e perseguido, Maomé fugiu de Meca, refugiando-se na cidade de Yatreb (hoje conhecida como Medina, isto é, cidade do profeta). O ano da fuga de Maomé (Hégira, em árabe), ocorrida em 622, é considerado o primeiro do calendário muçulmano.
Em Medina, Maomé continuou pregando a nova religião, transformando-se em líder religioso, mas também político. Conseguiu reunir muitos aliados entre os comerciantes e os beduínos convertidos e, em pouco tempo, o islamismo conquistou muitos seguidores, impondo-se por toda a Arábia por meio da pregação e da força.
Em 630, Maomé retornou vitorioso à cidade sagrada. Retirou da Caaba todas as imagens de deuses do culto politeísta, dedicando o templo unicamente à adoração de Alá.
Maomé faleceu pouco depois. Tinha então organizado um Estado teocrático e lançado os fundamentos ideológicos de um grande império. Foi sucedido por califas (palavra que significa “substituto”), tendo os quatro primeiros sido escolhidos entre os familiares do profeta, começando por um de seus sogros, Abu Beker.

4. Preceitos religiosos
A prática do islã se chama islamismo, e aos fiéis se dá o nome de muçulmanos, maometanos ou islamitas. Os ensinamentos de Maomé foram reunidos no Corão, o principal livro sagrado dos muçulmanos. Há também a Suna, texto sagrado que reúne tradições, isto é, atitudes adotadas em vida por Maomé que devem ser praticadas pelos fiéis.
O seguidor do islã deve submeter-se às seguintes práticas:
• afirmar publicamente que “só há um Deus, Alá, e Maomé é seu profeta”;
• orar cinco vezes por dia, voltado para Meca;
• praticar a caridade: quem tem muito deve dar a quem nada tem;
• jejuar no mês do ramadã (o nono mês do ano islâmico) todos os dias, do alvorecer até o começo da noite;
• peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida e orar na Caaba.

Entre os preceitos do islamismo está a ideia da jihad (guerra santa), ou seja, da propagação do islã pela força. Segundo Maomé, se um muçulmano morresse na luta pela expansão da religião, alcançaria o paraíso. Hoje, a interpretação da guerra santa é tema controverso entre os muçulmanos. O Corão, segundo alguns intérpretes, afirma não ser válida a conversão ao islamismo pela força.
Na verdade, o islã é mais do que uma religião, pois estabelece regras que orientam a vida de cada um e de toda a sociedade, mesmo quanto à organização política. Esse tipo de orientação faz com que, no islamismo, não se dissocie o poder do Estado do da religião.
No Corão (também chamado Alcorão) encontram-se recomendações que regem o funcionamento das instituições públicas e da vida privada. Entre os princípios registrados no livro sagrado estão normas para o trabalho, para o poder militar, para o casamento etc.

5. Uma expansão fulminante
Até sua morte, Maomé havia unificado os povos árabes sob uma mesma religião e regime político. O empenho com que os árabes se entregaram à tarefa de expandir o islã – cumprindo o preceito da guerra santa – traduziu-se na extraordinária rapidez de suas vitórias. Sucessivamente, caíram sob seu domínio as regiões conhecidas atualmente como Síria (636), Iraque (637), Egito (642) e Irã (651). Pouco depois, a conquista chegava até a Índia. Em 660, a capital do Império passou a ser Damasco e, no século seguinte, Bagdá, às margens do Rio Tigre.
Essa rápida expansão foi favorecida pelo esgotamento em que se encontravam os impérios Bizantino e Persa, que haviam guerreado longamente entre si. O descontentamento com a política de exploração e de perseguições religiosas, praticadas por bizantinos e persas, levou muitos povos a ver os árabes como libertadores. Além disso, os árabes adotavam uma atitude relativamente tolerante em relação aos povos dominados, os quais podiam manter a própria religião, devendo, porém, reconhecer a supremacia do islã e pagar certos impostos.
Do Egito, os muçulmanos avançaram pelo norte da África. Em 711, atravessaram o Estreito de Gibraltar e, aproveitando-se da fragmentação dos visigodos, conquistaram a Península Ibérica.
Convém esclarecer que os invasores da Península Ibérica não foram exatamente os árabes, mas os mouros. Esse era o nome dado ao povo berbere, do noroeste da África, convertido ao islamismo.
O avanço dos muçulmanos foi detido em 732 pelos francos, comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers. Apesar da derrota, os muçulmanos árabes assegurariam o controle do Mediterrâneo durante boa parte da Idade Média.
Nos séculos seguintes, o Império Islâmico sofreria numerosas divisões, embora a língua e a religião tenham sido fatores que preservaram a identidade cultural entre os povos árabes.

6. Xiitas e sunitas
Não muito tempo depois do surgimento do islã, os muçulmanos dividiram-se em três grandes seitas. As duas mais importantes, do ponto de vista político e religioso, são a xiita e a sunita. A seita dos xiitas surgiu após a morte de Ali Ibn Abu Talib, casado com Fátima, filha do profeta Maomé.
Seus adeptos não aceitavam como sucessor nenhum homem que não fosse da família de Maomé.
Por sua vez, os sunitas se originaram daqueles que apoiaram Moawiya Ibn Abi Sufi yan, que se tornou califa depois da morte de Ali. Desde então, eles constituem a maioria do mundo muçulmano – são hoje cerca de 80% dos adeptos do islamismo. Do ponto de vista religioso, os sunitas diferem dos xiitas – que não aceitam nenhuma fonte de ensinamento além do Corão –, pois dão grande importância aos ensinamentos contidos na Suna.
Existe uma terceira seita, a dos sufistas. São adeptos de um ideal místico e ascético, que preconiza o distanciamento do mundo material e das preocupações mundanas. Seus integrantes praticam a meditação e o isolamento e valorizam a prática de cânticos, música e dança.

6. Consequências da expansão
A expansão do islamismo trouxe significativas mudanças na vida europeia durante a Idade Média. O domínio árabe na Península Ibérica e o bloqueio do Mediterrâneo acentuaram a decadência do comércio e o processo de ruralização da economia na Europa, contribuindo para a consolidação do feudalismo.
Por intermédio dos árabes, foi introduzido na Europa o cultivo do arroz, da cana-de-açúcar, do algodão, da laranja, do limão, da alface e da amora.
No que diz respeito aos conhecimentos científicos, os árabes trouxeram importantes contribuições, especialmente no campo da álgebra, e introduziram os algarismos arábicos. De suas experiências com a alquimia, resultaram produtos como o ácido sulfúrico e o álcool, além do próprio estudo da química. Muitas obras de Aristóteles foram traduzidas para o árabe e divulgadas na Península Ibérica e na Europa, incorporando-se, mais tarde, à doutrina cristã graças a São Tomás de Aquino.



O  IMPÉRIO  BIZANTINO


Em  395, com a divisão do Império Romano, formou-se o Império Romano do Oriente, que englobava Grécia, Ásia Menor, Síria atual, Palestina, nordeste da África (incluindo o Egito) e as ilhas do Mediterrâneo oriental. Quando, em 476, Roma foi definitivamente tomada pelos germânicos, a parte oriental do Império sobreviveu, mantendo intensa atividade urbana e mercantil.
Com o passar do tempo, inúmeros aspectos da cultura romana passaram por transformações nessa região. O próprio latim foi substituído pelo grego. Tudo isso levou ao desenvolvimento de uma sociedade com características singulares – o Império Bizantino. Um dos aspectos distintivos da sociedade bizantina foi exatamente a comunhão entre valores greco-romanos e orientais.
Mosaico do século VI mostra a imperatriz Teodora (com a coroa) e seu
 séquito de criados. Ela era esposa de Constantino, imperador bizantino.

Também é traço marcante desse Império a completa assimilação dos preceitos do cristianismo, tendo sido em Constantinopla que se realizaram os primeiros concílios responsáveis pela definição dos dogmas da Igreja Católica.

2. Constantinopla
Em 330, no mesmo local da antiga colônia grega de Bizâncio, o imperador Constantino mandou construir Constantinopla.
Atualmente denominada Istambul, a cidade ocupava excelente localização, entre os mares Negro e Egeu. Para melhorar ainda mais suas condições de defesa, foram construídas enormes muralhas ao seu redor. Essas características permitiram que ela resistisse a numerosos ataques ao longo dos séculos.
Por muito tempo, Constantinopla foi um centro próspero e florescente, com intensas relações comerciais, que se estendiam até o Extremo Oriente.

3. Justiniano e suas conquistas
No governo de Justiniano, o Grande (527-565), o Império Bizantino atingiu o esplendor. Entre suas
realizações de maior destaque está a tentativa de restabelecer a unidade do antigo Império Romano. Ele empreendeu a reconquista das terras do Ocidente, que haviam sido perdidas para os povos germânicos e, com grandes esforços, retomou a Península Itálica, o norte da África e o sul da Península Ibérica. Mas os territórios reconquistados logo sofreriam ocupação de outros povos, não permanecendo muito tempo sob domínio bizantino.
Em seu governo, Justiniano ordenou que se organizasse um trabalho de compilação do Direito romano, do qual resultou o Corpo do Direito Civil (Corpus Juris Civilis), composto de quatro partes:
• O Código Justiniano – reunião de todas as leis romanas desde Adriano até o ano 534.
• As Institutas – princípios fundamentais do Direito romano.
• O Digesto ou Pandectas – síntese da jurisprudência romana  cujo conteúdo apresenta os pareceres dos grandes juristas a respeito das Institutas.
• As Novelas, reunindo a nova legislação.
4. Estado e Igreja
A partir do momento em que o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, foram organizados concílios para definir seus dogmas.
Aos poucos, a Igreja Católica foi-se estruturando e reunindo em torno de si um conjunto de servidores: o clero. Nos primeiros tempos, chamavam-se patriarcas os integrantes do clero responsáveis pela Igreja nas regiões em que se subdividiam as terras do Império Romano: Alexandria, Jerusalém, Antioquia, Constantinopla e Roma. Posteriormente o patriarca de Roma se autoproclamou papa, “pai de todos os cristãos”.
A supremacia do papa sobre todos os patriarcas ocidentais foi decretada pelo imperador romano em 455. Mas somente no século VI, com o papa Gregório Magno, ela conseguiu impor-se definitivamente.

A Igreja se divide
O Império Bizantino foi palco de importantes questões religiosas. Por reunir populações estreitamente vinculadas às culturas orientais, nele o cristianismo assumiu características peculiares.
A disseminação de imagens ou ícones representando Cristo e figuras de santos, por exemplo, era fortemente atacada em Constantinopla por algumas correntes do cristianismo. Segundo esses adeptos, o uso de imagens representava um retorno à idolatria, contrária aos preceitos cristãos.
Havia também questões de ordem política e econômica: a fabricação e a venda de imagens ficavam predominantemente nas mãos de monges, que lucravam muito com esse comércio. Isentos de qualquer tipo de tributo, os monges concentravam em seu poder grandes propriedades e riquezas, o que era também interpretado como uma ameaça ao poder central. A disputa entre iconólatras (que praticavam o culto de imagens) e iconoclastas (contrários a elas) agitou o Império nos séculos VIII e IX. Essa disputa, por sua vez, acirrou as rivalidades entre o patriarca de Bizâncio e o papa de Roma.

5. Crise no Império
O Império Bizantino começou a entrar em declínio na fase final do governo de Justiniano. Entre os séculos IX e XI, ocorreu um breve período de prosperidade conhecido como Renascença Bizantina.
Em seguida, porém, as disputas religiosas e as constantes ameaças de invasão fizeram com que as crises se instalassem de maneira irreversível. Acelerou-se o empobrecimento das cidades, a produção e o comércio se enfraqueceram e o Império perdeu pouco a pouco alguns de seus mercados em regiões distantes.
Finalmente, em 1453, Constantinopla foi tomada pelos turcos otomanos e o Império Bizantino entrou em colapso. Esse fato é geralmente adotado como o marco que assinala o fim da Idade Média.
A cultura bizantina teve grande influência sobre os povos da Europa oriental, como russos, armênios, búlgaros e sérvios. Eles assimilaram vários costumes do cristianismo por meio do contato com religiosos enviados pela Igreja Católica Ortodoxa Grega em missões de evangelização.



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

RELIGIÃO  E  CULTURA  NA  ORDEM  FEUDAL


Em  quase  toda  a  Europa  ocidental, durante a Idade Média, o cristianismo era a crença religiosa predominante. A grande exceção constituía a parte da Península Ibérica ocupada pelos árabes. Ali, a religião dominante era o islamismo. Outro caso particular dizia respeito às comunidades de judeus disseminadas pela Europa, praticantes do judaísmo. Na maior parte do continente, porém, a vida das pessoas era determinada pelos ensinamentos e pela ação da Igreja Católica Apostólica Romana.


Senhora de corações e mentes na Europa feudal, essa poderosa instituição marcou de maneira profunda a cultura da Idade Média, tanto do ponto de vista material quanto espiritual.

A Igreja era a mais importante instituição do mundo feudal. Os membros mais elevados de sua hierarquia – bispos e abades – eram recrutados entre os nobres. Naquela época, tinha-se o costume de destinar o segundo filho de uma família nobre à carreira eclesiástica, já que o primeiro filho herdava o feudo, segundo o direito de primogenitura.

Até mesmo o tempo era regulado pela religião: as pessoas marcavam o ritmo de suas vidas pelo toque do sino das igrejas. Completamente voltadas para as práticas religiosas, acreditavam que a vida na Terra era apenas um momento antes da eternidade, a ser vivida ao lado de Deus.

O monopólio da salvação

Colocando-se como a única intermediária entre o ser humano e Deus, a Igreja passou a deter o monopólio da salvação. Sua organização hierárquica, no topo da qual estava o papa, era extremamente centralizada e rígida. A serviço de Deus, os membros do clero cumpriam um rigoroso regime de obediência e disciplina.

Seu raio de ação, entretanto, não se limitava à vida espiritual. Na verdade, ao longo dos séculos, a Igreja tornou-se proprietária de grande patrimônio — possuía terras, vassalos, servos —, acumulado graças às doações feitas por aqueles que queriam, por seu intermédio, ser libertados da condenação divina.

Em meio a uma sociedade constituída de pessoas iletradas, a Igreja mantinha o controle absoluto do saber erudito. Detendo informações e conhecimentos importantes, garanti u que seu domínio se estendesse ao longo de séculos de maneira quase inabalável.

Morte aos hereges

Aqueles que questionavam as práticas instituídas pelos dogmas da Igreja eram considerados seus adversários. Em outras palavras, os que interpretavam os ensinamentos cristãos de maneira diferente daquela que a Igreja pregava passaram a ser chamados de hereges.

Com o intuito de manter-se soberana nos assuntos espirituais, a Igreja desencadeou uma guerra sem tréguas contra os hereges. Como forma de reprimi-los, criou a excomunhão e o Tribunal do Santo Ofício, mais conhecido como Inquisição.

A excomunhão era o ato pelo qual o fiel era impedido de receber os benefícios da salvação, concedidos por seu intermédio. Já a Inquisição, oficializada pelo papa em 1231,  julgava hereges e dissidentes. Aos que se recusavam a se retratar, punia de maneira implacável, podendo inclusive condenar  aqueles que eram considerados culpados .

Clero secular e clero regular

Desde o final da Antiguidade, a hierarquia do clero era constituída pelo papa e pelos arcebispos, bispos, abades e padres. Eles formavam o clero secular (do latim saeculum, mundo), expressão que designava os sacerdotes que desenvolviam atividades voltadas para o público.

Paralelamente, desenvolveu-se o clero regular, formado pelos religiosos que viviam em mosteiros (monges e abades), em regime de reclusão ou semirreclusão, isto é, afastados do mundo material.

O hábito de viver em mosteiros — chamado monasticismo — foi introduzido no Ocidente no século VI, quando São Bento (também chamado de São Benedito) fundou o mosteiro do Monte Cassino, na Península Itálica, dando origem à ordem (ou irmandade) dos beneditinos. A regra criada por São Bento para disciplinar a vida de seus monges, aprovada pelo papa, serviu de modelo para outras ordens surgidas posteriormente, como a dos franciscanos, a dos dominicanos etc. O modelo dos mosteiros masculinos, dirigidos por um abade, foi logo instituído para as mulheres.

Os mosteiros (ou monastérios) desempenharam importante papel na Europa medieval, cristianizando povos, cultivando terras, organizando e mantendo escolas e bibliotecas.

2. Religião, ensino e cultura

Durante a Alta Idade Média as pessoas que sabiam ler e escrever, em geral, pertenciam ao clero. Os poucos livros que sobreviveram ao período das invasões germânicas eram conservados nas escassas bibliotecas pertencentes à Igreja. Nelas, os monges copistas encarregavam-se de reproduzir os livros à mão. Dessa forma, os integrantes da Igreja eram os únicos capazes de lidar com o saber escrito e, portanto, com o ensino formal.
Escrevendo à mão, o trabalho dos monges copistas, 
foi fundamental para a preservação de textos antigos, 
num tempo em que a imprensa ainda não tinha sido inventada.


As universidades

A principal inovação medieval realizada pelos europeus no campo do ensino e do conhecimento foi a criação das universidades.

Até o século XI, o ensino na Europa estava a cargo das escolas dos mosteiros. Ali formaram-se os primeiros pensadores. Em 1088, foi fundada em Bolonha (Península Itálica) a primeira escola de ensino superior. Era uma escola laica (não religiosa) de Direito, que deu origem à Universidade de Bolonha (a primeira da Europa) alguns anos depois.
A seguir, surgiram, entre outras, as universidades de Paris (França, 1170), Oxford (Inglaterra, 1249), Coimbra (Portugal, 1308) etc.

Essas escolas de ensino superior eram centros de erudição cristã, dedicados às leis, à medicina, à lógica e à teologia. Uma de suas características básicas era a subordinação ao princípio da autonomia universitária, ou autogoverno universitário.

A disseminação desses estabelecimentos de ensino teve relação com o renascimento urbano e comercial que ocorreria a partir do século XI. Com isso, tornou-se necessário um número crescente de letrados para gerir os negócios, tanto públicos como privados.

Cristianismo e filosofia pagã

Devido à forte presença da Igreja, os primeiros pensadores medievais, chamados doutores da Igreja, voltaram-se para questões relativas aos dogmas e preceitos da fé, numa tentativa de dar forma à religião que se organizava. Inúmeros foram aqueles que estabeleceram os fundamentos da teologia católica, combinando por vezes aspectos da filosofia greco-romana com ensinamentos da religião cristã.

Entre os principais estudiosos que ajudaram a transformar a religião de Cristo em uma doutrina formal está Santo agostinho (354-430). Associando o cristianismo aos textos do filósofo grego Platão e de seus seguidores, Santo Agostinho construiu argumentações capazes de sustentar e explicar as verdades religiosas.
Santo Agostinho, segundo uma pintura
do século XVII.
No caminho aberto por ele, surgiu a Escolástica, sistema filosófico de vários pensadores cristãos medievais inspirados nos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Eles procuravam respostas para problemas filosóficos, tais como a relação entre a fé e a razão, o desejo e o intelecto, a prova da existência de Deus, entre outros. O método utilizado pelos escolásticos era a disputa intelectual, que consistia na apresentação de uma tese, seguida de uma discussão.

O principal nome da escolástica foi São Tomás de Aquino (1224-1274. Professor da Universidade de Paris e um dos mais importantes doutores da história da Igreja, ele reuniu o saber medieval na obra Suma teológica.

No final da Idade Média, houve algumas tentativas de mudar as orientações teóricas para além da teologia. Na obra de Roger Bacon (1214-1294), por exemplo, estão fortemente presentes preocupações científicas. Bacon era um monge franciscano inglês que se dedicou ao estudo dos autores árabes. Ele criticou alguns dos pensamentos aceitos na época, valorizou a matemática e desenvolveu experimentos na alquimia. Por tudo isso, e por recomendar a observação e a experimentação como meios indispensáveis para chegar ao conhecimento, ele foi condenado pela ordem franciscana a permanecer preso por catorze anos.

A arquitetura românica medieval

A arte medieval era também dominada pelos preceitos da religião. Na pintura e na escultura, os temas representados eram Deus, os anjos, os santos e, de modo geral, cenas que instruíssem os fiéis a respeito dos conhecimentos morais e espirituais da doutrina cristã.

Na arquitetura imperava a mesma concepção. As maiores construções medievais foram as igrejas, as quais, nos primeiros tempos, imitavam os modelos romanos.

A partir do século XI desenvolveu-se um estilo arquitetônico propriamente medieval, chamado românico. Os edifícios eram relativamente simples, embora de grandes proporções. Sua aparência sólida, com paredes grossas e poucas janelas, assemelhava-se à das fortalezas. Seus elementos característicos eram a coluna e o arco romano.

A partir do século XII, começou a afirmar-se no norte da França um novo estilo, batizado posteriormente com o nome de gótico. Introduzindo uma nova técnica de construção – o arco ogival –, o estilo gótico disseminou-se com a edificação de enormes catedrais, que passaram a simbolizar a riqueza das novas cidades.

Caracterizadas pelas torres altas e pontiagudas, pelas colunas graciosas e, claro, pelos arcos ogivais, as catedrais góticas são construções elegantes, ornamentadas com muitas estátuas e com belos vitrais coloridos, representando cenas da vida de Cristo, da Virgem Maria e dos santos.