domingo, 29 de novembro de 2015

O  ATENTADO  DA  RUA  TONELERO

O tiro foi contra Lacerda, mas quem morreu foi Getúlio


O Studebaker estacionou discretamente na rua Paula Freitas, no bairro de Copacabana, na elegante zona sul do Rio de Janeiro. Climério consultou o relógio: quase meia-noite. Não havia tempo a perder. Falou para o motorista: “Espere aqui e mantenha o motor ligado”. Em seguida, virou-se para o companheiro que estava no banco traseiro e disse: “Vamos, Alcino.”

Os dois homens desceram do automóvel e seguiram a pé. Pararam na esquina da Hilário Gomes com a tonelero. Dali dava para ver o edifício Albervania onde Lacerda morava. Agora, era só ficar esperando até que ele chegasse. Climério  Euribes de Almeida apalpou o revólver que estava no bolso do paletó e pensou: “Hoje, Lacerda não pode escapar”. E um misto de alívio e preocupação percorreu sua alma.

Até que enfim ia fazer o serviço que há mais de três meses Gregório vinha cobrando todos os dias. Não podia chegar mais uma vez e simplesmente dizer: “Chefe, ainda não deu para fazer o serviço”. Já havia usado todas as justificativas, e Gregório estava perdendo a paciência. Climério viera para o Rio de Janeiro trazido pelo próprio Gregório. Já fazia muitos anos que trabalhava no Catete. “Hoje, tem de dar certo”, pensou.

Puxou a gola do paletó para cima para se proteger da brisa fresca, quase fria, que soprava do mar. Embora trouxesse um revólver calibre 38 no bolso, seu papel era o de dar cobertura. Quem deveria atirar em Lacerda era Alcino João do Nascimento, o pistoleiro especialmente contratado para esse fim e que lhe fora indicado por seu amigo Soares. O serviço ia custar cem mil cruzeiros. Era muito dinheiro, e por isso havia consultado Gregório, que aceitou sem vacilar: “Tudo bem”, disse ele. "Temos de matar logo esse canalha”. 

Gregório Fortunato, apelidado de o "Anjo Negro", havia vindo do Rio Grande do Sul para integrar a  Guarda Pessoal  de Getúlio Vargas, também conhecida por Guarda Negra. Gregório logo se tornara o chefe da Guarda e devotava a Getúlio uma fidelidade canina e deixou-se convencer da necessidade de eliminar o homem que vinha atacando impiedosamente presidente.

Incumbido dessa tarefa, Climério começou a preparar o atentado. Lia o “Tribuna da Imprensa”, o jornal de Lacerda, apenas para descobrir os lugares onde o jornalista ia se apresentar na sua incansável campanha contra Getúlio. E chegou a levar Alcino a diversos endereços para que se acostumasse com a fisionomia do homem que ia matar. O atentado já havia sido marcado mais de uma vez, mas algum imprevisto acabava sempre atrapalhando os planos.

O bairro de Copacabana estava silencioso àquela hora da noite. Dava para ouvir o estrondo das ondas quebrando na praia ali perto. Climério e Alcino ficaram parados na esquina, atentos, aguardando o carro que devia trazer o homem que eles esperavam. De repente, viram o carro estacionar no meio-fio, bem na frente do edifício Albevânia. Desceram três pessoas. Pronto: a hora do destino havia chegado. Climério, então, puxou seu companheiro pelo braço e lhe disse baixinho: “Vai em frente”. Alcino baixou o chapéu e atravessou a rua. Passava um pouco da meia-noite, do dia 5 de agosto.

Nesse momento, Lacerda se despedia do guarda-costa, o major da Aeronáutica Rubens Vaz e caminhava para a porta do prédio em companhia do filho Sérgio. Ao perceber que havia esquecido a chave da porta do prédio, tomou a direção da garagem. Alcino, o matador de aluguei, chegando à calçada, sacou a arma e disparou. Lacerda foi atingido... no pé! Mas mesmo assim correu para dentro da garagem, levando o filho consigo. Nesse momento, o major pulou sobre o pistoleiro, tentando tomar-lhe o revólver e, na luta que se seguiu, recebeu dois tiros disparados à queima roupa.

Lacerda sendo carregado por policiais,
após o atentatado. 

Lacerda ultimamente passara a andar armado, pois já havia sofrido agressões anteriormente e levava consigo um revólver calibre 38, de cano curto. Saiu pela porta da frente, atirando. Mas não conseguiu acertar o fugitivo, que já ia a uma certa distância, na esquina da Paula Freitas com a Tonelero.

Nesse momento, Climério, que havia ficado na calçada oposta, fugiu pela rua Hilário de Gouveia. Quando passava em frente ao 2o. Distrito Policial, que ficava próximo dali, os policiais perguntaram “O que está havendo?” Ele respondeu: “Não sei, não sei!”. E desapareceu na escuridão.

Alcino, por sua vez, correu na direção do táxi, que ficara aguardando. Quando entrava no carro, trocou tiros com um guarda noturno que fora atraído pelo tiroteio. Mesmo atingido, o guarda conseguiu anotar a chapa: 5-60-21.

Climério foi até o local onde o motorista Nelson Raimundo de Souza fazia ponto e ficou à sua espera. Quando ele chegou, informou Climério que Alcino havia escapado ileso. Climério, então, foi para casa, esperando que Alcino iria para lá. De fato, Alcino já o esperava. Foram se refugiar numa chácara que Climério possuía em Belford Roxo e lá ficaram esperando o desenrolar dos acontecimentos.

O atentado teve a maior repercussão possível, e abalou os fundamentos mais profundos da política nacional. O fato é que menos de 20 dias depois do atentado, Getúlio se matou com um tiro no coração. (DGF)


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

VARÍOLA, uma das enfermidades mais devastadoras da história da humanidade

A varíola é classificada como uma das enfermidades mais devastadoras da história da humanidade. No passado matava indistintamente pobres e ricos. Sabe-se que no século 18, a doença matava um recém-nascido em cada dez na Suécia e na França, e um em cada sete na Rússia. A letalidade da varíola era tão grande entre as crianças que, em algumas culturas antigas, as crianças só recebiam nomes se sobrevivessem a ela. Se a pessoa contaminada não morresse, ela ficava com sequelas terríveis, inlcuido a cegueira

Mas podemos ficar tranquilos porque a varíola não existe mais. Vejamos como isso se deu. A varíola é uma doença que se originou na Ásia e chegou à Europa no início do século XVIII. O primeiro médico de quem se tem notícia a se preocupar com sua cura na Europa foi o inglês Edward Jenner (1749–1823).

Jenner observou que mulheres ordenhadoras de vacas contaminadas pelo cowpox vírus (vaccinia ou varíola das vacas) não desenvolviam a doença e concluiu que a imunidade dessas mulheres se devia à infecção não perigosa. Ele, então, retirou pequena quantidade de sangue das mãos de uma camponesa e inoculou em um garoto de oito anos, chamado Jame Phipps. Com o tempo constatou-se que a criança havia se tornado imune à varíola.

 Essa foi a primeira vacina de que se tem notícia - a própria palavra vacina vem do latim vaccinus, de vacca (vaca). Era o dia 14 de maio de 1796 – uma data histórica, portanto, que devia ser festivamente comemorada em todo o planeta.

No Brasil, o mérito pelo combate definitivo à varíola (e outras doenças) que infestava a cidade do Rio de Janeiro coube a Osvaldo Cruz, criador do Instituto Soroterápico Federal (hoje Instituto Osvaldo Cruz), cuja direção assumiu em 1902. No ano seguinte, Osvaldo Cruz foi nomeado Diretor-geral da Saúde Pública pelo próprio presidente da República, Rodrigues Alves.  Passado mais um ano, conseguiu a aprovação de uma lei federal que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola. 

Revolta da Vacina, charge publicada na revista O Malho, em 29/10/1904

Porém, a falta de informação fez com que as pessoas se revoltassem contra a vacina (Revolta da Vacina, 1904). O processo de vacinação foi momentaneamente interroesmpido e reiniciado tão logo o governo retomou controle da situação. Em pouco tempo, a varíola foi erradicada da capital e declarada extinta em todo o país em 1973.



Campanhas de vacinação bem sucedidas em todo o mundo fizeram com que a Organização das Nações Unidas (OMS) declarasse a varíola erradicada no mundo todo em 1980.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

ORIENTE  MÉDIO:  RAÍZES  DOS  CONFLITOS  ATUAIS


 No passado, a região que designamos hoje por Oriente Médio foi o berço da civilização. Foi lá, de acordo com os estudiosos, que a humanidade conheceu a agricultura, o uso de metais, a urbanização, a escrita e tantos outros elementos que fazem parte do nosso modo de vida. Entre esses outros elementos se encontram a religião monoteísta e o Estado organizado.

Situado entre três continentes, o Oriente Médio foi o ponto de encontro entre Oriente e Ocidente e sede de grandes impérios na Antiguidade (Bizantino), na Idade Média (Islâmico) e nos tempos modernos (Otomano).

Região rica em petróleo, o Oriente Médio tem sido palco de muitos conflitos após a Primeira Guerra Mundial, quando desapareceu o Império Otomano. A situação ficou ainda mais grave depois da Segunda Guerra. Em 1947, mesmo ano em que teve início a Guerra Fria, a ONU realizou a partilha da Palestina, evento que está na origem do mais antigo e mais duradouro dos conflitos que assolaram a região. Seus protagonistas são os israelenses, de um lado, e os árabes (entre eles, os palestinos), de outro. Os conflitos, no entanto, estendem-se entre os próprios árabes, envolvendo questões econômicas, políticas e religiosas.

1. A presença dos imperialismos britânico e francês

Uma das consequências da Primeira Guerra Mundial foi o desaparecimento do Império Otomano, constituído pelos turcos mais de seis séculos antes. Com isso, a Sociedade das Nações, surgida em 1920, colocou sob a autoridade da França e da Grã-Bretanha amplas áreas do Oriente Médio, até então governadas por esse império. Esse arranjo ficou conhecido como sistema de mandatos. As duas potências europeias ficaram também encarregadas de preparar os respectivos povos para se tornarem Estados independentes em um futuro próximo.

Por esse sistema, a França ficou responsável pelos territórios da Síria e do Líbano, enquanto a Grã-Bretanha assumiu a responsabilidade pela Mesopotâmia e pela Palestina.


1.1. Os mandatos franceses

Na Síria, com o fim do domínio otomano, Damasco foi ocupada por tropas comandadas por Faisal, que seria depois coroado rei do Iraque. Mas seu reinado durou pouco, pois a Síria havia passado para o mandato francês. Em 1925, em meio a uma insurreição contra o domínio francês, Damasco foi submetida a um bombardeio que deixou um saldo de 5 mil vítimas. O movimento rebelde continuou nos anos seguintes, bem como os bombardeios.

O domínio francês encontrou forte resistência popular na Síria, resultando em muitos atos de violência. Em 1936, o governo francês concordou em negociar um tratado de independência, mas o tratado não chegou a ser colocado em prática. Em 1944, a independência da Síria foi reconhecida pelas novas potências mundiais, a União Soviética e os EUA, mas a França continuava resistindo. Finalmente em 1946, sob pressão, os franceses tiveram de retirar suas tropas, ficando a Síria sob um governo republicano.

No caso do Líbano, os franceses promoveram, em 1926, uma Constituição que instituiu uma república parlamentarista. As cadeiras do Parlamento foram divididas basicamente de acordo com um critério religioso. A diversidade religiosa era grande, com destaque para os drusos, cuja religião reúne elementos do islamismo, judaísmo e cristianismo; os muçulmanos, divididos entre sunitas e xiitas; cristãos, igualmente divididos em diversos grupos, sendo os maronitas os mais numerosos e principais aliados dos franceses (e beneficiados na divisão das cadeiras do parlamento). A independência do Líbano foi proclamada em 1943, mas as tropas francesas somente se retiraram quatro anos depois.

1.2. O mandato britânico sobre o Iraque

Durante a Primeira Guerra, forças britânicas haviam invadido o Iraque e ocupado Bagdá. O controle dessa região havia se tornado importante para os britânicos, desde que tinham começado a explorar petróleo no vizinho Irã alguns anos antes.

Em busca de ajuda contra os turcos otomanos, nessa ocasião o governo da Grã-Bretanha prometeu apoiar o estabelecimento de governos árabes independentes após a guerra. A promessa não foi cumprida, muito pelo contrário. A Sociedade das Nações converteu o Iraque num mandato britânico. O descontentamento causado por essa decisão provocou uma grande revolta popular, o que obrigou os britânicos a conceder certa autonomia ao país. O Iraque se tornou uma monarquia, e o trono foi entregue ao emir Faisal (da dinastia hachemita). Ele ganhou esse benefício por ser filho do prefeito de Meca que fora aliado dos britânicos contra os turcos otomanos.

Em 1932, o Iraque foi admitido na Sociedade das Nações e conquistou a independência com algumas condições. O governo iraquiano assinou um tratado de “aliança permanente”, pelo qual a Grã-Bretanha conservava o direito de participar de todas as questões de política externa do país; utilizar estradas de ferro, rios, portos, campos de aviação e meios de transportes; e ocupar militarmente alguns aeroportos.

1.3. O mandato britânico sobre a Palestina

Outro mandato britânico era a Palestina, nome que nessa época se aplicava a uma ampla região que incluía os territórios correspondentes atualmente a Israel, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém e Transjordânia (ou seja, a parte que ficava a leste do rio Jordão).

Em 1921, a Transjordânia foi separada da Palestina e concedida ao príncipe hachemita Abdula. Alguns anos depois, converteu-se em Estado independente sob a tutela britânica e, em 1941, assumiu o nome de Jordânia. Ao terminar oficialmente o mandato britânico, Abdula fez-se coroar rei da Jordânia, em 1946. Portanto, nos anos que se seguiram ao final da Primeira Guerra Mundial, os elementos de uma combinação explosiva estavam dados no Oriente Médio:
  • chegara ao fim o Império Otomano, que havia assegurado alguma unidade política até aquele momento e era substituído por novas potências hegemônicas, agora europeias – Grã-Bretanha e França;
  • emergia o nacionalismo árabe, embora os projetos de formação de nações fossem frustrados pelo sistema de mandatos que repartia e subordinava os territórios ao controle dos novos impérios;
  • entrava em cena outro nacionalismo, o judeu, tendo como objetivo a fundação de um Estado na Palestina, contando com o apoio britânico;
  • começava a ser explorado o petróleo, que se tornou, posteriormente, a matéria-prima mais comercializada do mundo.

2. A questão de Israel e dos palestinos

Desde a segunda metade do século XIX, era cada vez maior a imigração de judeus para a Palestina, estimulada pela Sociedade dos Amigos de Sion (Sion é o nome de uma das colinas de Jerusalém). O objetivo dessa entidade era a formação de um Estado judeu (ou judaico).

O sionismo era um movimento nacionalista, como tantos outros que atuavam na Europa naquela época – final do século XIX. Os judeus não tinham um Estado próprio nem um território. E esta passou a ser a principal meta do sionismo desde a realização de seu primeiro congresso, na Suíça, em 1897.

O jornalista e sociólogo Cláudio Camargo relata que, após o Congresso sionista, alguns rabinos de Viena enviaram dois mensageiros à Palestina para verificar a viabilidade da fundação de um Estado judeu. Lá chegando, os emissários teriam remetido um telegrama, referindo-se à presença da população árabe, com a mensagem: A noiva é bela, mas está casada com outro homem (Camargo, Cláudio. Guerras árabe-israelenses. In: Magnoli, Demétrio (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2008. p. 427.).

A imigração, porém, continuou, com a instalação de cerca de mil pessoas por ano na Palestina. O movimento sionista intensificou a ida de judeus que compravam terras pobres e não rentáveis, o que era favorecido pelos próprios árabes que viam nisso um bom negócio. Em 1909, foi fundada a cidade de Telavive, que se tornaria capital após a independência de Israel.

Durante a Primeira Guerra, Londres tornou-se o principal centro do Sionismo. Em 1917, James Balfour, ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, associou seu nome àquela que ficaria conhecida como “Declaração Balfour”, segundo a qual o governo britânico estava disposto a apoiar o estabelecimento de um Estado judeu na Palestina.

Durante a década de 1930, com a ascensão do nazismo na Alemanha e a perseguição aos judeus, a imigração para a Palestina cresceu muito. Começaram a ocorrer, então, rebeliões árabes reivindicando a limitação da entrada dos judeus e a interdição da venda de terras árabes.

2.1. A partilha da Palestina

No final da Segunda Guerra, a Grã-Bretanha transferiu o problema da Palestina para a ONU. Em 1947, a Comissão Especial da ONU para a Palestina recomendou, em seu relatório final, a partilha do território em dois Estados: um judeu e um palestino, ficando a cidade de Jerusalém e seus arredores sob controle internacional.



O Estado judeu ficaria com 53,5% do território, sendo que sua população correspondia a 30% do total, enquanto ao Estado palestino caberia 45,4% das terras para acomodar 70% da população da região. Não era uma divisão justa, mas mesmo assim a proposta foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947 (presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha). A proposta transformou-se na Resolução 181, que foi aceita pela Organização Sionista Mundial, mas rejeitada pelos árabes por razões óbvias.



domingo, 15 de novembro de 2015

DESENVOLVIMENTO COMBINADO DA TÉCNICA E DA CIÊNCIA

A partir dos finais da Idade Média, a civilização europeia conheceu muitas transformações. Lentas, no princípio, elas se aceleraram com o passar do tempo, constituindo uma espécie de espiral em que, a cada volta, ampliava-se um pouco mais o leque das mudanças. Um aspecto desse processo era o progresso constante das técnicas e sua gradativa interação com a ciência.

Essa combinação de técnica e ciência pode ser bem ilustrada pelo que ocorria na construção de edifícios. Na Idade Média, a construção se fazia sem cálculos preliminares: construía-se primeiramente uma armação de madeira, e sobre ela se apoiava a construção de pedras. No século XV, ocorre uma mudança importante, de que é um exemplo significativo a construção da cúpula da igreja Santa Maria del Fiore, catedral de Florença. 


Cúpula da igreja Santa Maria del Fiore, catedral de Florença. 


A construção dessa igreja havia começado em 1296, sem um plano mais detalhado da obra, como era comum na época. Cem anos depois, quando as paredes estavam prontas, surgiu o problema da cúpula. Erguer uma armação de madeira, como se fazia até então, era uma empresa excessivamente dispendiosa para as finanças da cidade, que atravessava uma crise naqueles anos. Por isso, foi necessário buscar uma solução mais simples e mais econômica. Até um concurso entre arquitetos se realizou em 1401. 

Algumas décadas depois, finalmente, a obra pôde ser concluída, graças ao emprego da matemática na formulação do cálculo teórico e prévio, realizada pelo arquiteto florentino Felippo Brunelleschi (1377-1446). Era uma solução que rompia de uma vez com os sistemas precedentes e inaugurava uma nova maneira que os europeu adotaram de fazer as coisas. Isso estava de bem de acordo com o individualismo inaugurado pelo Renascimento, e que seria, desde então, uma característica da sociedade que prevaleceu no mundo ocidental. 


terça-feira, 10 de novembro de 2015

GUERRAS ENTRE ESTADOS  UNIDOS 
E  MÉXICO


 O  Texas foi o estopim de uma guerra entre os Estados Unidos e o México. Paralelamente a essa guerra, ocorreu outra guerra menor, localizada, que foi a guerra que resultou da independência da Califórnia.

O Texas pertencia ao México, e essa propriedade era reconhecida, por meio de tratados, pelo governo dos Estados Unidos. Mas desde cedo quantidades crescentes de colonos anglo-americanos vieram estabelecer-se no Texas, recebendo concessões de terras. Ao mesmo tempo em que novos colonos se estabeleciam no Texas, o governo norte-americano formulou, ao México, propostas de compra do território texano, mas foram todas recusadas. Em 1835, a população de origem americana, no Texas, já excedia a mexicana numa proporção de 8 para 1.

Os desentendimentos foram inevitáveis. O problema se agravou quando o governo mexicano tomou medidas no sentido impedir a entrada de escravos em seu país, depois que a escravidão fora abolida no México, em 1829. Os colonos norte-americanos, muitos deles donos de escravos, viram nessa proibição um pretexto para revoltar-se. Ao fim de algumas batalhas, proclamaram a independência do Texas. Uma vez estabelecida a República do Texas, o passo seguinte foi solicitar a anexação aos Estados Unidos, concretizada em 1845.

A guerra  EUA x  México
Quando se tratou de definir as fronteiras do Texas surgiu a guerra entre o México e os Estados Unidos, iniciada no dia 13 de maio de 1846. As forças mexicanas foram vencidas facilmente, e a própria capital do México foi ocupada por tropas norte-americanas. O acordo de paz que se seguiu, assinado em fevereiro de 1848, foi chamado de Tratado de Guadalupe Hidalgo. Ele pevia, entre outras coisas, a cessão de uma área total de 1,36 milhão de km² aos Estados Unidos, com em troca de uma indenização de 15 milhões de dólares. Na área cedida pelo México, constituíram-se os estados norte-americanos do Novo México, Califórnia, Utah, Colorado e Nevada. A partir desse fato, originou-se o refrão: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”.

A guerra na Califórnia
Sem que tivessem conhecimento da guerra entre os dois países, os colonos norte-americanos que moravam no território da Califórnia também se revoltaram. Um grupo de 33 homens armados ingressou no centro da cidade de Sonoma, e hateou uma bandeira com um urso e uma estrela para simbolizar o nascimento de uma nova República da Califórnia, independente do México. O uso desta bandeira nestas ações conduziu a que fosse chamada como "Bandeira da revolta do urso".

A atual bandeira da Califórnia conserva os elementos características
da bandeira original da República da Califórnia.

 Nesse mesmo dia, os revoltosos capturaram o comandante mexicano da Califórnia, o general Mariano Guadalup Valejjo. Ele foi aprisionado e enviado para o Forte Sutter. Os rebeldes escolheram para o cargo de presidente da nova república o pioneiro William B. Ide, que permaneceu no cargo por 25 dias. A 23 de Junho de 1846, chegou o comandante John C.Frémont com um exército de sessenta homens armados e tomou o comando das forças combinadas. Com essa força, Frémont venceu as tropas do general José Castro na Batalha de Olompali. O passo seguinte foi proclamar a Califórnia como mais um estado dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos, com essa conquista, ganharam mais do que terras, porque poucos anos depois foram descobertos ricos depósitos de ouro na Califórnia (e pouco depois também no Colorado e em Nevada). A região povoou-se rapidamente.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

GUERRA  CIVIL  ESPANHOLA


 A guerra civil que assolou a Espanha teve início em 1936. Nos anos que antecederam essa data, a Espanha passou por um período de muitas tensões e incertezas políticas. A Espanha era uma monarquia, tendo Afonso XIII como rei. Mas a figura de destaque nesse período foi Miguel Primo Rivera. Em 1922, ocupava o cargo de capitão geral da cidade de Barcelona. Prometendo restabelecer a estabilidade política no país, Rivera liderou, no ano seguinte, um golpe de Estado: suspendeu a Constituição, dissolveu o Parlamento e implantou una ditadura. O golpe contou com o apoio do rei e de boa parte do clero, do exército e demais forças conservadoras da sociedade espanhola.

Seu regime, que durou até 1930, ficou conhecido pelo autoritarismo de caráter nacionalista e pelas perseguições aos comunistas e aos anarquistas que procuravam se articular dentro da Espanha. No plano econômico, reforçou o protecionismo alfandegário em favor da indústria nacional e estimulou a construção de grandes obras públicas. Um de seus maiores êxitos foi a consolidação, por via militar, do domínio espanhol no Marrocos.

Passados sete anos, a ditadura de Rivera havia perdido muito de seu poder. A agitação política voltou ao país. Diante disso, em 1930, Rivera apresentou sua demissão e deixou o país. Com a saída do ditador, o rei convocou eleições, esperando com isso fortalecer monarquia, mas tiro saiu pela culatra. Uma aliança, reunindo diversas correntes anti-monarquistas, ganhou as eleições, vencendo em quase todas as capitais do país.

Sentindo-se desautorizado, Afonso XIII deixou o país, sem, contudo, abdicar ao trono. Seguiu-se a proclamação da República. O novo regime ficou conhecido como II República - a primeira tinha durado pouco menos de dois anos, entre o início de 1873 e o final de 1874.

A II República não conseguiu pacificar o país. Na verdade, o que se viu foi o acirramento do conflito entre as forças em jogo, dando origem a dois grupos completamente opostos:

I) De um lado, estavam os republicanos. Aí se encontravam grupos de esquerda em geral (moderados, comunistas, anarquistas e outros) e dos patriotas da Galícia, do País Basco e da Catalunha. Além da manutenção do regime republicano, esse grupo lutava pela democracia, pela reforma agrária e contra a igreja espanhola. Esse grupo acabou se constituindo na Frente Popular.
II) De outro, encontravam-se os adversários do regime republicano, os nacionalistas, que contava com o apoio do clero espanhol e também de monarquistas, militares de extrema direita e a Falange (um partido fascista fundado em 1933). O principal líder desse grupo foi, primeiramente, o general José Sanjurjo. Tendo falecido em 1936 em um acidente aéreo, seu lugar foi naturalmente ocupado pelo chefe militar Francisco Franco. Os nacionalistas eram contrários ao liberalismo e à democracia representativa, por eles considerados modelos ultrapassados, e buscavam inspiração no fascismo italiano e no nazismo alemão.

Começa a Guerra Civil

A Frente Popular venceu as eleições legislativas de fevereiro de 1936, conquistando 5/6 das cadeiras parlamentares. Tal fato iria provocar, em julho, um levantamento militar contra a vitória da Frente Popular e esse movimento foi o estopim da Guerra Civil.

Combatente sendo atingido. Foto de Robert Capa, 1936. 

Nesse momento, Franco era governador das Ilhas Canárias, de onde lançou uma ofensiva contra a Frente Popular. Das Canárias, Franco se passou ao Marrocos. Contando com a ajuda de barcos enviados pela Alemanha e pela Itália, as tropas do General Franco atravessaram o estreito de Gibraltar, chegaram ao território espanhol e instalaram um governo rebelde. Além de contar com a maioria dos militares, Franco contava com o decisivo apoio da Igreja, fator determinante de orientação do povo. Outra ajuda importante veio da Alemanha e da Itália, que reconheceram o governo instalado por Franco em outubro de 1936, quando a guerra civil estava ainda em seu começo.

Franco ao lado de Hitler, de quem recebeu ajuda para vencer
a guerra civil espanhola.
Os republicanos, por sua vez, que lutavam pela permanência do governo legalmente constituído, receberam apoio da União Soviética e de cerca de 60 mil comunistas e simpatizantes de esquerda não só da Espanha, mas de todo o mundo. Eles formaram as Brigadas Internacionais de voluntários. Vários escritores famosos combateram entre os republicanos, entre eles André Malraux, George Orwell e Simone Weil. Inglaterra e França, embora tivessem simpatia pela causa republicana, optaram por uma política de não intervenção.


Um dos episódios mais terríveis da guerra civil foi o  Bombardeio de Guernica, um vilarejo localizado no País Basco, em 26 de abril de 1937. Foi um ataque aéreo por aviões alemães da Legião Condor.


O ataque serviu para testar aviões de guerra e ganhar experiências no combate aéreo. Foi feito em apoio às forças de Francisco Franco, que invadiram a cidade poucos dias depois do bombardeio.

Guernica é uma tela pintada a óleo em que o pintor  Pablo Picasso 
reflete as 
impressões que lhe causaram a visão de fotos da
cidade de Guernica após o bombardeio.

Em três anos de sangrentas lutas, período em que a União Soviética terminou por retirar seu apoio às forças governistas, estima-se em cerca de um milhão o número de perdas humanas. Os últimos focos de resistência republicana renderam-se em fins de março de 1939. No dia 1º. de abril de 1939, foi instaurado o regime autoritário do Generalíssimo Franco, que permaneceu no poder até sua morte, em 1975.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

SEGUNDO  MANDATO  DE  FERNANDO  HENRIQUE  CARDOSO  (1999-2002)


  No primeiro dia de 1999, Fernando Henrique Cardoso, reeleito, tomou posse pela segunda vez na presidência da República. No mesmo dia, também tomaram posse os governadores dos estados. Para todos eles, o desafio imediato era a administração dos problemas econômicos e financeiros: conter gastos e aumentar receitas na busca do equilíbrio das contas públicas. Alguns dos novos governadores estaduais receberam seus estados em situação de falência, com as receitas comprometidas com o pagamento de dívidas e com os gastos com funcionalismo.

A necessidade de contenção de gastos indicava que deveria haver, em 1999, redução no nível de atividades econômicas e, portanto, aumento do desemprego.

1. A desvalorização do Real

No dia 6 de janeiro, Itamar Franco, novo governador de Minas Gerais, decretou a moratória, isto é, a suspensão do pagamento de todas as dívidas do seu estado. O governo federal, na tentativa de diminuir a repercussão da notícia, comprometeu-se a pagar as contas no exterior. Mas essa providência não evitou que a atitude do governador mineiro repercutisse negativamente na economia do país, provocando a queda da Bolsa de Valores e da cotação dos títulos brasileiros no exterior. Ao mesmo tempo, capitais começaram a deixar o país em grande quantidade.

O governo, após algumas tentativas, acabou desistindo de segurar a cotação do Real e alterou política cambial que vinha seguindo há quatro anos. Daí em diante, o Real iria flutuar livremente, em função da lei da oferta e da procura, até achar um valor de equilíbrio diante das moedas estrangeiras.

O governo foi obrigado a recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e solicitar novos créditos. Estes foram concedidos, mas o governo teve de adotar um rígido controle sobre seus gastos públicos, diminuir investimentos públicos e elevar ainda mais a taxa de juros.

Para lidar com a desvalorização da moeda, o governo se viu obrigado a mudar, por duas vezes, o presidente do Banco Central. Por fim, nomeou para o cargo Armínio Fraga, na esperança de que este fosse capaz de administrar a crise da moeda. Competência ou não, o fato é que, de fato, a moeda brasileira caminhou para uma estabilização e fechou o ano de 1999 com uma cotação considerada razoável. Em meio à turbulência, o governo brasileiro conseguiu fazer a substituição do câmbio fixo pelo câmbio flutuante, de forma bem-sucedida.

Em 2001, houve um período em que a energia elétrica foi racionada em todo o país. Esse fato ficou conhecido pelo nome de “apagão”. A escassez de chuvas e erros de planejamento foram as causas responsáveis pela crise na geração e na distribuição de energia elétrica. A população teve que reduzir o consumo de energia. Foi estipulada uma meta mínima de consumo, que todos deveriam cumprir: residências, indústrias, comércio, etc. Essa crise foi um duro golpe no prestígio do governo, o que iria facilitar a vitória da oposição nas eleições de 2002.

2. Acertos e desacertos do governo FHC

Na coluna dos acertos, pode-se atribuir ao governo FHC as seguintes realizações:

  • haver mantido a inflação sob controle e ter sido bem-sucedido na reforma cambial (desvalorização da moeda).
  • Ter mantido uma relativa estabilidade financeira, o que no futuro poderá favorecer um ritmo mais rápido de crescimento da economia.
  • uma vitória importante no campo social. Dados do IBGE indicam uma substancial redução no número de crianças que permanece fora da escola. Entre 1993 e 1998, o índice caiu de 11,5% para 5,3%. A importância desse avanço é que ele se deu no campo da educação básica, o que significa, nos próximos anos, mais alunos nos estágios seguintes do processo escolar.
  • Conseguir fazer aprovar, no Congresso Nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa lei, que deveria ter existido sempre no país, obrigará os governos (federal, estaduais e municipais) a limitarem os gastos públicos e, portanto, o endividamento. 

Mas FHC não conseguiu ir muito além disso. Por exemplo, 
  • não conseguiu cumprir a promessa de campanha de acertar a economia para que esta pudesse voltar a crescer e gerar empregos.
  • pouco foi feito no campo do ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas. Isso acontece porque o governo encontrou forte resistência de setores poderosos, e também porque a Constituição impõe a obrigatoriedade de  vários gastos públicos.
  • c) no Congresso, faltou empenho do governo para acelerar a aprovação das reformas constitucionais. Por exemplo:

I) a reforma tributária, indispensável para introduzir um sistema, não só mais justo, mas também mais racional e mais eficiente de impostos, e com isso baixar o chamado “custo Brasil”.

II) a reforma da previdência tem avançado a passos muito lentos; muita gente se opõe a essa reforma, mas a verdade é que o déficit previdenciário (INSS, União, estados e municípios) continua crescendo, tendo chegado em 1999 à marca dos 45 bilhões de reais. É evidente que, com um déficit desse tamanho, é muito difícil alcançar o pretendido equilíbrio das contas públicas, que o governo considera condição indispensável para a retomada do crescimento econômico.


III) Os problemas econômicos do país acentuaram as desigualdades sociais. Um indicador importante dessa situação era o IDH , de 2001, mostrando que o Brasil ocupava a 69° posição entre 162 países. IDH é o índice do desenvolvimento humano, organizado pela ONU que mede a expectativa de vida da população, o grau de escolaridade, saneamento e renda per capita.