quinta-feira, 24 de setembro de 2015








O  POVOAMENTO  DE  MINAS  GERAIS  E  O  SURGIMENTO  DAS  CIDADES  HISTÓRICAS

 A região onde nasceram as cidades históricas já era, desde há muito, conhecida dos vaqueiros do norte, que subiam o rio São Francisco formando fazendas. Também era conhecida dos paulistas, que por ali andaram em busca de metais preciosos ou de índios para capturar. Mas o mérito de uma exploração mais minuciosa pertence ao bandeirante paulista Fernão DiasPais Leme, que durante sete anos (1674-81) andou por esses sertões à procura de esmeraldas. Como se sabe, ele não conseguiu encontrar as desejadas esmeraldas, mas sua expedição foi importante, pois abriu caminhos e nelas plantou roças, e preparou o terreno para os exploradores que vieram depois.

Fernão Dias Pais Leme
Os primeiros achados de ouro ocorreram a partir de 1690, sendo 1693 a data mais provável. Também não se conhece com certeza o nome do descobridor. Há fortes indícios de que essa glória pertença a Antônio Rodrigues Arzão, um bandeirante de Taubaté. Outro que pode figurar entre os primeiros descobridores é Borba Gato, genro de Fernão Dias.

A região onde o metal precioso foi encontrado localiza-se no âmbito da Serra do Espinhaço e nela se formaram basicamente três núcleos produtores. Um se formou nas margens do rio das Mortes, que corre para a bacia do rio Paraná; originaram-se ali as vilas de São João del Rei e Tiradentes. Outro nas barrancas do rio das Velhas, um dos formadores do rio São Francisco; nesse trecho surgiu Sabará. O terceiro núcleo surgiu no alto da serra. Ali estão as nascentes do ribeirão do Carmo, afluente do rio Doce; Nesse lugar, se formaram as atuais cidades de Mariana e Ouro Preto.

A notícia da descoberta do ouro rapidamente se espalhou, atraindo gente do Rio de Janeiro, da Bahia e de outras partes da Colônia. A boa nova do achamento do ouro logo atravessou o Atlântico e chegou a Portugal. E atraiu levas e mais levas de portuguese, que tomaram o caminho do Brasil, em busca da riqueza que estava ao alcance das mãos. Eram tantos que o governo português teve que tomar medidas para impedir que o Reino ficasse despovoado. Foi uma verdadeira “corrida do ouro”. Multidões tomaram o caminho das minas, sem sequer se preocupar com o fato de que lá não haveria comida para todos. Em consequência, muitos foram os que morreram de fome, mesmo estando com os bolsos cheios de ouro!

Mas a expectativa de enriquecer em pouco tempo compensava qualquer sacrifício e, a despeito de toda sorte de dificuldades, rapidamente a região se encheu de gente.

Quanto mais a notícia da descoberta do ouro se difundia, mais a população crescia. Surgiram as inevitáveis disputas pelo controle das minas. De um lado, os paulistas, descobridores, que se achavam com mais direitos; de outro, os que vieram depois, a quem os paulistas depreciativamente chamavam “emboabas”.[1] As tensões foram se agravando e culminaram em um conflito, que entrou para a nossa história com o nome de Guerra dos Emboabas (1708-9). Esse clima de tensão entre os mineradores deu a oportunidade para a Coroa portuguesa impor a sua autoridade na região. Ela enviou para a região o governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho. Lá chegando, o governador tomou providências para obter a pacificação geral em benefício do interesse de todos, que era a extração do ouro.

Uma importante medida administrativa do governador foi elevar à condição de Vila os vilarejos mais significativos. Foi assim que, em 1711, foram instituídas as três primeiras vilas mineiras: Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo (Mariana), Vila Rica de Ouro Preto e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.

Instituir uma vila significava criar a Câmara, a Cadeia, erguer o Pelourinho, nomear funcionários e estabelecer, enfim, as instituições públicas necessárias ao funcionamento da vida organizada. Mas tudo isso tinha um custo, e esse custo é pago pela população na forma de impostos.

Os impostos exigidos pelo governo de Portugal, desde o começo, eram difíceis de suportar. O descontentamento mantinha a região continuamente agitada. Revoltas eclodiram aqui e ali: em 1715, em Morro Velho; em 1718, em São João del Rei e no Rio das Velhas. Nesse clima de tensão, chegou um novo governador, D. Pedro de Almeida, mais conhecido pelo título de nobreza, Conde de AssumarAssumar trazia ordens de ser duro com os mineradores. Entre outras tarefas, devia aumentar a arrecadação do quinto, o imposto que incidia sobre todo o ouro extraído. Para isso, cabia-lhe instalar as Casas de Fundição, para onde os mineradores deviam levar todo ouro encontrado, para ser fundido. 

Resultado de imagem para casa de fundição
O ouro depois de fundido era
transformado em barras
Esse era o momento em que a Coroa cobrava o quinto. Os mineradores não aceitaram, e decidiram pegar em armas. A insurreição explodiu em Vila Rica, no ano de 1720. Pego de surpresa, Assumar recebeu os revoltosos e fingiu atender suas exigências. Mas tão logo estes voltaram para suas casas, o governador desencadeou a repressão. O castigo foi imediato e severo. O emboaba Felipe dos Santos, principal acusado, foi enforcado e seu corpo, atado à cauda de um cavalo, arrastado pelas ruas da vila. Outros implicados foram enviados para Portugal. Controlada a situação, as Casas de Fundição puderam começar a funcionar pouco depois como queria a Coroa portuguesa.


Havia muito ouro e a produção cresceu sem parar.[2] A população, também. Além dos brancos, havia os negros, trazidos da África como escravos, e os mulatos. Os povoados e as vilas se multiplicavam e prosperavam, enchendo-se de casas, praças, chafarizes e igrejas. Muitas igrejas. E foi principalmente nestas que se materializou o estilo artístico conhecido como Barroco Mineiro.






[1]Emboaba era o nome de uma ave de pernas longas, e, para os paulistas, que andavam descalHos, assemelhava-se aos portugueses que usavam botas.
[2]Estima-se que, entre 1700 e 1770, o Brasil tenha produzido cerca da metade do ouro obtido em todo o resto do mundo em três séculos (XVI, XVII e XVIII).

Nenhum comentário:

Postar um comentário