terça-feira, 2 de setembro de 2014

“OU A CHIBATA É ABOLIDA OU ANIQUILAMOS A PÁTRIA”

  Era a ameaça dos marinheiros revoltados

Em tempos de modernização, inclusive da própria Marinha, que adquirira da Grã-Bretanha dois encouraçados e um cruzador, a preservação de um código disciplinar arcaico, que previa chibatadas como punição, estava fora de época e provocou a revolta dos marinheiros.
Reproduzo a seguir a mensagem enviada pelos revoltosos ao Presidente da República, Hermes da Fonseca.

Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 1910.
Ilmo. e Exmo. Sr. Presidente da República Brasileira.
Cumpre-nos comunicar a V. Excelência como Chefe da Nação Brasileira:
Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo.
João Cândido, o líder dos marinheiros na Revolta da Chibata.

Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os Oficiais, os quais têm sido os causadores de a Marinha Brasileira não ser grandiosa, porque durante vinte anos de República ainda não foi bastante para tratar-nos como cidadãos fardados em defesa da Pátria, mandamos esta honrada mensagem para que V. Excelência faça aos Marinheiros Brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da República nos facilita, acabando com a desordem e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira, bem assim como: retirar os oficiais incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira. Reformar o Código Imoral e Vergonhoso que nos rege, a fim de que desapareça a chibata, o bolo, e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não têm competência para vestir a orgulhosa farda, mandar pôr em vigor a tabela de serviço diário, que a acompanha.
Tendo V. Excelência o prazo de 12 horas para mandar a resposta satisfatória, sob pena de ver a Pátria aniquilada – Bordo do Encouraçado São Paulo, em 22 de Novembro de 1910.
Nota: não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro.
Marinheiros.

Alves Filho, Ivan. Brasil. 500 anos em documentos.
Rio de Janeiro: Mauad, 1999. p. 312.


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