sábado, 16 de agosto de 2014

WATERLOO


 O  Epílogo  da Era  Napoleônica


O texto a seguir descreve a atmosfera política na França logo após a volta de 
Napoleão de seu exílio em 1815. Um país dividido e cansado é preparado para uma nova guerra por uma liderança — Napoleão — que pretendia representar 
a nação e unificar todas as vontades.

Ainda que vista por todos como um flagelo, a guerra que assomava tinha a utilidade de unir um país dividido atrás de Napoleão, ao mesmo tempo que lhe permitia impor-se a seus aliados políticos e a seus numerosos adversários domésticos. Os conflitos internos franceses eram tão grandes e tão óbvios nesse período que o Duque de Wellington pôde expressar para um compatriota a seguinte esperança: “Mesmo sem a ajuda dos aliados, o poder [de Napoleão] não durará muito”. O imperador nunca enfrentara um desafio maior. 
Após fugir da Ilha de Elba, Napoleão retorna à França, recebe 
grande apoio e retoma o poder, mas nele permanece 
por apenas "Cem Dias".

Foi preciso sacudir o gigante francês para reanimá-lo, mobilizá-lo à força de pancadas. Foi preciso exorcizar a lassidão, o attentisme, o medo e a divisão civil e cuidar da defesa militar do país. Exércitos, dinheiro e espíritos tiveram de ser levantados, mas embora os recursos da França em dinheiro, sangue e espírito fossem infindáveis, a nação passou a se sentir prostrada, deprimida e exangue depois que o entusiasmo pelo retorno da “Águia” [Napoleão Bonaparte — Nota do autor] se dissipou. Costuma-se enfatizar a tristeza, o derrotismo, a fadiga e os acessos esporádicos de torpor de Napoleão nos Cem Dias (ao rememorá--los, ele mesmo o confessaria), mas na verdade ele se mostrou, com a costumeira eficiência, à altura do desafio, não se deixando abalar pela consciência da exiguidade de suas chances de sucesso. A façanha do imperador e de seu governo na primavera de 1815 foi, mais uma vez, prodigiosa.
Batalha de Waterloo, ocorrida em 18 de junho de 1815. Um exército anglo-prussiano venceu o exército francês e Napoleão foi derrotado pela última vez. Ele foi feito prisioneiro pelos ingleses e enviado à ilha de Santa Helena, onde morreu seis anos depois.

O instrumento da estratégia política de Napoleão foi a própria “cruzada nacional” que mobilizou, muito pouco e muito tarde, na primavera de 1814. A força do “discurso nacional” é que ao mesmo tempo que parece ser um chamado à unidade, designa também — e com grande eficiência — inimigos internos (bem como, é claro, estrangeiros). O sagrado apelo revolucionário a “la patrie en danger” emergiu, então, na forma de súplica: “Todos os franceses devem se unir para evitar a guerra civil e repelir o estrangeiro”, deixando de lado todas as lealdades e considerações que não a “nacional” — não deve haver nenhuma política, nenhum partido, nenhuma opinião, simplesmente “nós” contra “eles”, onde “eles” incluía não apenas os aliados mas os franceses monarquistas, jacobinos não alinhados e padres refratários.
Englund, Steven. Napoleão: uma biografia política.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. p. 475-6.

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