quarta-feira, 6 de agosto de 2014


O  IMPÉRIO  INCA


As razões do expansionismo


Inicialmente, ao chegar à região de Cuzco, os incas ingressaram
numa aliança de tribos que viviam ali – a confederação cuzquenha.
Posteriormente, dominaram a confederação e deram início à formação do
Império. Veja a seguir os motivos da expansão inca.

"Em menos de um século, a confederação cuzquenha [de Cuzco] liderada pelos incas chegou a fundar o mais vasto império da América pré-colombiana. [...] Ele se estendia do norte para o sul, segundo o eixo das cordilheiras, sobre mais de 4 mil quilômetros [...].

A população compreendida nos limites do Império tem sido objeto de estimativas vagas e contraditórias, fundadas em bases ainda incertas, mas é duvidoso que tivesse ultrapassado 10 milhões de habitantes às vésperas da chegada dos europeus. Compunha-se de uma centena de grupos étnicos de importância desigual, que se diferenciavam uns dos outros pela língua e pela cultura. Por mais ligadas que tivessem sido por uma “contradição” forjada no alvorecer de sua história, [...] essas etnias reagrupadas pelos incas não constituíam mais que um conjunto político notoriamente heterodoxo.
Que imperiosa necessidade impulsionava Cuzco a reunir em torno de si tantas terras e tantos povos? Que significava essa sede de conquistas? Os incas justificavam seu imperialismo aproximadamente nos mesmos termos em que os espanhóis procurariam legitimar o seu. Diziam-se investidos de uma missão civilizadora junto às populações dos Andes que ainda estavam mergulhadas na barbárie. [...] e iriam ensinar-lhes as relações de parentesco, o cultivo do milho e a arte de viver em paz que distinguia o “civilizado” do “bárbaro”.

Cidade sagrada de Machu Picchu. Construída no alto
de uma montanha a 2400 m de altitude. Foi o norte-americano
Hiram Bingham quem a descobriu, em 1911.

Aparentemente, nada predispunha Cuzco a cumprir essa missão [...]. Vistos através de nossos atuais conhecimentos sobre sua cultura, os incas não parecem um povo excepcionalmente agressivo. Diver­samente de seus contemporâneos astecas no México central, que cercavam a guerra de um verdadeiro culto, os incas não parecem ter exaltado em demasia as funções militares. Nos textos revelados no século XVI por Cristobal de Molina [um padre que viveu em Cuzco], a guerra é designada como um flagelo e a paz, como o bem supremo concedido pela benevolência dos deuses. É verdade que essa paz resultava de combates e se instaurava em consequência de episódios sangrentos e atos de real ferocidade. [...]
A vocação imperialista dos incas originou-se do sucesso que obtiveram nas guerras que lhes foram largamente impostas pelas populações circundantes. A inesperada vitória de Pachakuti sobre os invasores chanka rompera o precário equilíbrio político dos Andes. De um lado, essa vitória  colocara Cuzco em posição hegemônica. De outro lado, porém, devia também cristalizar contra tal hegemonia a hostilidade das etnias vizinhas que se julgavam ameaçadas e cujas sucessivas derrotas só fariam ampliar cada vez mais o poder cuzquenho.
Os construtores incas tinham grande habilidade
no manejo das pedas para fazer edificações
que estão de pé ainda hoje

Toda conquista provocava, assim, uma nova guerra que desembocava em outras conquistas. Os incas jamais escaparam dessa engrenagem na qual sua feroz resistência à invasão chanka os fizera entrar. Pois, à medida que seu Estado se expandia, a guerra externa se fazia cada vez mais necessária à estabilidade da ordem interna – ela se tornaria, de fato, a mola principal do regime. Como toda paz imperial, a paz inca implicava um estado de tensão permanente nas fronteiras que mantinha a unidade das partes constitutivas do Império e as fazia aceitar a supremacia de Cuzco. [...]
Desse modo, a guerra de conquista constituía um fator essencial de integração e de mobilidade social dentro do Império. Ela representava o projeto coletivo que confederava os povos vencidos e subjugados. A realização de tal projeto era bastante lucrativa para tornar tangível aos olhos destes últimos as vantagens da dependência em que seriam mantidos. [...]
É provável que se tenha formado logo um “partido da guerra” através do qual os chefes das etnias subjugadas mais ainda que os próprios membros da tribo inca pressionassem continuamente o poder central para se engajar em novas conquistas militares, pois isso lhes dariam ocasião de melhorar seu status.
Nestas plataformas construídas nas encostas das montanhas,
os agricultores cultivavam feijão, milho, abóbora, pimenta, quinoa,
amendorim, batata, frutas como o molle e papaia. 

Por outro lado, as transferências de riqueza engendradas pela expansão do Império incitavam grande número de pequenas etnias, conscientes de seu isolamento e de sua frágil capacidade de defesa, a se colocarem deliberadamente na órbita de Cuzco. Foi assim que os Chincha, um povo da costa meridional, se associaram aos incas, não só para evitarem, mais cedo ou mais tarde, sofrer as consequências de uma invasão como também para poderem participar dos benefícios do empreendimento imperial inca. Segundo o testemunho de chefes Chincha, os soberanos incas frequentemente se esforçavam para convencer as populações periféricas de que o Império era o único quadro político possível, e comprovavam por meio de presentes suntuosos as vantagens que estas teriam em se incorporar a ele."
Favre, Henri. A civilização inca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. p. 24-7.


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