sábado, 16 de agosto de 2014

CONJURAÇÃO  BAIANA


 Quatro foram enforcados, esquartejados e esquecidos


Em agosto de 1798 teve início em Salvador, na Bahia, uma tentativa de levante contra a Coroa portuguesa. Contando com uma participação popular mais forte do que a Mineira, a Conjuração Baiana foi violentamente reprimida e o nome de seus participantes caiu no esquecimento.

Foram os quatro executados e, para os que assim dispôs a justiça de dona Maria I, esquartejados, e suas partes expostas conforme o prescrito no texto legal. De João de Deus, a cabeça se pôs “na sua porta, que era defronte do beco que dobra para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, indo pela rua Direito do Palácio”, e “os quartos nos cais de maior frequência e comércio desta cidade”. A cabeça decepada de Lucas Dantas “se pôs no Dique”, e a de Ma­noel Faustino exposta à porta da casa de João de Deus, por aí “estar, quase sempre”, e não ter residência própria. 
Praça da Piedade, local da execução dos conjurados

Mas, por mais que a justiça tenha decidido que estes símbolos macabros do poder régio ficassem expostos “até que uns e outros sejam consumidos pelo tempo”, acabaram por ser retirados, atendendo ao que diziam o Provedor da Saúde da cidade e o médico e cirurgião do Senado, cuidando que a corrupção dos corpos mortos e o mau cheiro que deles emanava causavam “gravíssimo prejuízo aos moradores”. O pedido foi despachado no dia 11 de dezembro e, após parecer, os despojos retirados.
Heróis da Conjuração Baiana, também chamada 
de Revolta dos Alfaiaes.

O sangrento episódio da Praça da Piedade representou o momento culminante da resposta de Lisboa ao desafio que, na Bahia, lhe tinha sido lançado. O lúgubre ritual como que preconizava que a memória dos que foram tidos por responsáveis principais pelo ensaio sedicioso que aflorou publicamente na cidade em agosto de 1798, deveria apagar-se para todo o sempre da memória dos povos. É bem verdade que um cioso compilador anônimo da Descrição da Bahia registrou o evento, conferindo-lhe ponderável destaque, mas o texto permaneceu inédito e, por muito tempo, em pouco contribuiu para a preservação da lembrança do acontecimento.
Cipriano Barata, revolucionário incansável. Esteve preso na 
Conjuração Baiana e, mais tarde, foi novamente preso por sua 
participação na Revolução Pernambucana, de 1817.

[...] Dos letrados que na época viviam na Bahia, alguns dos quais, de uma forma ou de outra, estiveram vinculados, e foram até incomodados por isso, ao ensaio sedicioso, nem uma palavra. Ao que se saiba, nem Domingos Borges de Barros (que logo a seguir parte para a Europa), nem Francisco Agostinho Gomes (que faz o mesmo), nem Cipriano Barata, nem José da Silva Lisboa deixaram testemunho de próprio punho sobre o que veio a receber várias denominações, dentre as quais a mais duradoura, ainda que imprópria, é Revolução dos Alfaiates.
Jancsó, István. Na Bahia, contra o Império:
história do ensaio de sedição de 1798.
São Paulo: Hucitec; Salvador: Edufba, 1996. p. 16-8.


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