terça-feira, 29 de julho de 2014

GUERRA DO PARAGUAI

II – Segunda parte: as causas do conflito

Não é fácil explicar os porquês dessa guerra. Mas podemos começar dizendo que até 1864 o Brasil mantinha relações normais com o governo paraguaio, dirigido por Francisco Solano López. Sabemos que as hostilidades foram iniciadas pelo próprio governo paraguaio. Podemos admitir que Solano López tinha como certo que, mais cedo ou mais tarde, haveria uma guerra com os vizinhos e para ela ele vinha se preparando, de maneira silenciosa mas decidida. E foi a intervenção do Brasil no Uruguai que o fez vislumbrar que a hora havia chegado.
De fato, ainda em junho de 1864, o ministro das Relações Exteriores do Paraguai enviara notas tanto para José Antônio Saraiva, que se achava em missão diplomática junto ao governo do Uruguai, quanto para o governo brasileiro, oferecendo a mediação de López para a solução do litígio entre o Brasil e o Uruguai. Em resposta datada de 24 de junho, Saraiva dispensou a oferta do ministro paraguaio, alegando que esperava resolver diretamente os problemas com o governo de Aguirre.


No final de agosto, o governo paraguaio manifestou-se novamente. Desta vez para protestar contra o ultimatum de Saraiva, e contra qualquer ocupação do território uruguaio por tropas brasileiras. Uma medida como essa seria considerada “como atentatória do equilíbrio dos Estados do Prata, que interessa à República do Paraguai”. Novo protesto foi feito no mês seguinte. Como nenhum deles foi atendido, López decidiu iniciar as hostilidades contra o Brasil: no dia 11 de novembro, capturou, nas imediações de Assunção, o navio brasileiro Marquês de Olinda. A bordo se achava o novo governador da província do Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos, e estava a caminho para assumir o cargo. Ele foi feito prisioneiro (viria a morrer numa prisão paraguaia), bem como os demais passageiros e toda a tripulação do navio. Em seguida, o embaixador brasileiro recebeu uma carta em que o governo paraguaio comunicava o rompimento das relações com o Brasil.
No mês de dezembro, López ordenou a invasão do Mato Grosso. Suas tropas não tiveram dificuldade para ocupar e saquear uma grande parte do sul da província, até Corumbá. No mês seguinte, López solicitou ao governo argentino autorização para atravessar o território daquele país para atacar o sul do Brasil. Seu objetivo era unir-se aos blancos do Uruguai. O presidente argentino, Bartolomeu Mitre, negou a autorização, declarando-se neutro. Diante disso, no mês de abril, López ordenou a invasão da província argentina de Corrientes por um exército de 25 mil homens, capturando dois navios e ocupando a cidade do mesmo nome.
Em face dessa agressão, Mitre decidiu abandonar a neutralidade, e o Brasil pôde então contar com o apoio da Argentina, e também do Uruguai, em cujo governo agora se encontrava Venâncio flores, que, como vimos no texto anterior, era aliado brasileiro. No dia 1º. de maio de 1865, os três países assinaram o Tratado da Tríplice Aliança para fazer a guerra contra Solano López. Os objetivos textualmente expressos nesse tratado eram: 1) derrubar Solano López; 2) acertar definitivamente as questões de fronteira ainda pendentes com o Paraguai; 3) assegurar a livre navegação dos rios Paraná e Paraguai.

Bartolomeu Mitre
Acreditava-se naquele momento que a guerra seria rápida. Os dois lados tinha essa convicção. López estava otimista: tinha uma confiança ilimitada no soldado paraguaio e não acreditava no poder militar do Brasil. Por outro lado, o otimismo dos aliados (Tríplice Aliança) pode ser avaliado pela proclamação de Mitre ao falar a uma multidão em Buenos Aires, no dia 16 de abril: “Em 24 horas aos quartéis, em três semanas em Corrientes, em três meses em Assunção”.

Mas as coisas aconteceram de maneira totalmente diferente. Somente um ano depois, em abril de 1866, os aliados conseguiram por os pés em território paraguaio. E levaram outros três anos para avançar até Assunção, e mais um ano para encerrar a guerra, o que se deu no dia 1º. de março de 1870, com a morte de Solano López.
Durante a guerra, o Brasil dobrou sua frota naval, passando de 45 para 94 navios de guerra. Além das forças navais, organizou três corpos de Exército. O primeiro Corpo do Exército foi aquele que realizou a intervenção no Uruguai, e dali passou para o território argentino. Foi durante muito tempo comandado pelo general Manuel Luís Osório. O Segundo Terceiro  Corpo.

O número de homens em armas aumentou rapidamente. Ao iniciar a campanha contra o Paraguai, o Brasil contava com 10.857 soldados. Na travessia do Passo da Pátria (divisa entre Argentina e Paraguai, esse número havia subido para 33.122 homens, alcançou 45.283 em agosto de 1867 e chegou ao total de 48,5 mil, em maio de 1868. No decurso dos 5 anos da guerra, foi preciso mobilizar cerca de 200 mil homens. Desses, 139 mil foram levados para os campos de combate, sendo que 33 mil morreram, principalmente de doenças . Muitos, recrutados à força, preferiam desertar, originando o refrão “Deus é grande, mas o mato é maior”, que o senso de humor característico de nossa gente logo cunhou.
A guerra, que todos imaginavam rápida, consumiu cinco longos anos. Como os demais envolvidos, o Brasil fez um grande esforço para armar, municiar, alimentar, vestir e dar assistência médica aos seus soldados. Esse esforço implicou em despesas enormes. Uma parte das despesas –cerca de 10%  - foram cobertas por dois empréstimos externos, ambos tomados aos ingleses. O primeiro, no início da guerra, no valor de 5 milhões de libras esterlinas. O segundo, no final da guerra, no valor de 3 milhões de libras, e se destinava a liquidar as despesas deixadas pelo conflito. O restante das despesas –cerca de 90% - foi coberto com recursos obtidos internamente, principalmente através do aumento dos impostos.
Tantas despesas, porém, não chegaram a alavancar um crescimento industrial do país, porquanto quase tudo foi importado. Mas houve que visse um lado positivo na guerra. Na opinião do Visconde de Ouro Preto: “Os sacrifícios foram grandes, mas [...] diversos serviços públicos importantes como estradas de ferro, telégrafos elétricos, colonização, navegação, etc., tiveram notável desenvolvimento. O comércio de importação e exportação cresceu mais de 30%”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário