quarta-feira, 16 de julho de 2014

Descoberta de mini-instrumentos de pedra reforça tese da existência de hominídeo anão na Indonésia há 18 mil anos

Novo achado foi publicado na revista Nature, mas não encerra controvérsia sobre se o Homo floresiensis é mesmo uma nova espécie

Cientistas da Austrália apresentam mais uma prova de que o polêmico “hobbit”, espécie de hominídeo anão, realmente existiu na ilha de Flores, Indonésia, há 18 mil anos. O Homo floresiensis teria deixado ferramentas para contar a história.
Em estudo publicado hoje na revista Nature, a equipe liderada por Adam Brumm, paleontólogo da Universidade Nacional Australiana, em Camberra, registra a descoberta de artefatos em Mata Menge, uma área descampada a 50 km da caverna Liang Bua, onde os ossos do Homo floresiensis foram encontrados em 2003.
Os pesquisadores já haviam descoberto ferramentas junto aos fósseis dos “hobbits” e, apesar de nenhum esqueleto ter sido encontrado próximo às peças em Mata Menge, testes de similaridade fazem acreditar que os utensílios das duas localidades foram fabricados pelo mesmo tipo de hominídeo.
As 487 ferramentas são tão pequenas quanto seus supostos donos: têm entre 1,5 cm e 9 cm de comprimento. “Embora ainda seja cedo para saber como elas eram usadas, elas são muito mais precisas e trabalhadas do que aquelas fabricadas pelo Homo erectus, que eram grandes e grosseiras”, afirma Brumm.
A precisão é o fator crucial na pesquisa: como é que uma criatura com um cérebro tão pequeno seria capaz de tamanha sofisticação? E mais: os cientistas acreditam que as ferramentas encontradas em Mata Menge têm entre 700 mil e 840 mil anos, enquanto as de Liang Bua não passam de 18 mil anos de idade. Ou seja: a tecnologia teria sido passada de geração para geração. “As similaridades entre elas sugerem alguma forma de conexão cultural”, explica Peter Brown, líder da equipe australiano-indonésia que descobriu o hominídeo anão, na caverna de Liang Bua.

Autoria controversa
Apesar das provas, a discussão está longe de terminar. Outros cientistas afirmam que essas ferramentas são avançadas demais para terem sido feitas por um descendente de Homo erectus. “Elas são obviamente obra do homem moderno, ou seja, do Homo sapiens, e podiam ser encontradas em quase qualquer lugar do mundo há 18 mil anos”, alfineta James Phillips, antropólogo da Universidade de Illinois e curador do Field Museum, em Chicago.
“Perfuradores [instrumento de pedra] como esses de 800 mil anos comprovadamente não existiam na Terra a até pelo menos 40 mil anos”, diz ele, contestando a datação das peças. Para Philips, aliás, o H. floresiensis não é nem sequer uma espécie distinta – seria apenas um humano com microcefalia.
Brumm rebate as críticas afirmando que tamanho do cérebro não importa nesse caso. “A relação entre massa cerebral e inteligência é baseada mais em pré-concepções que em demonstrações”, diz.

Para Peter Brown, trata-se de uma questão de organização. “Ninguém sabe ao certo quanto cérebro você precisa para fazer uma ferramenta de pedra. Talvez não muito. A questão mais importante são as conexões internas do cérebro, e não apenas suas dimensões.” (CORRADINI, Ana Paula.Folha de S.Paulo, 1º jun. 2006.)

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