sábado, 19 de julho de 2014

A  ESCOLHA  DO  MELHOR  OFÍCIO


Os escribas, compenetrados da própria importância, julgavam a sua profissão muito superior à dos trabalhadores manuais. Exemplo disso é o texto a seguir, escrito por um velho escriba, que procura influenciar seu filho na escolha do melhor oficio:

Não tens uma ideia da vida do camponês que cultiva a terra? O coletor das finanças acha-se no cais ocupado em recolher os dízimos das colheitas. Tem consigo gente armada de bastão, negros munidos de ripas de palmeira. Todos gritam: Vamos, os grãos! Se o camponês não os tem, atiram-no ao chão (...); arrastam-no ao canal, onde o mergulham de cabeça para baixo (...)
O artesão não é mais feliz do que o camponês. O pedreiro, dir-te-ei como a doença o espreita, pois está exposto a todos os ventos, sobre as vigas do andaime, pendurado nos capitéis como lótus; seus dois braços gastam-se no trabalho, suas vestes em desordem, não se lava senão uma vez por dia. Quando consegue pão, regressa à casa e bate em seus filhos (...) O tecelão não arreda de sua casa; seus joelhos estão à altura do estômago; se deixar de fabricar um só dia a quantidade regulamentar, é atado como os lótus dos pântanos.
Mas, a profissão de oficial do exército será mais tentadora? Vem, que eu te contarei a sorte de um oficial do exército. Levam-no ainda criança e encerram-no na caserna. Logo, o seu ventre estará todo gretado e os seus supercílios fendidos, a sua cabeça, uma chaga.
Estendem-no e espancam-no como a um papiro. Queres que te conte agora a sua campanha em lugares longínquos? Leva os víveres e a água ao ombro como a carga de um burro; a sua espinha parte-se. Bebe água podre. Deve constantemente montar guarda. Chega diante do inimigo? E um pássaro que treme. Volta ao Egito? E apenas um velho pedaço de pau roído pelos vermes.
O velho escriba conclui: Vi a violência, por toda a parte a violência! Eis por que te inclino para as letras (...).



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